Recomeço em Silêncio

 Em primeiro lugar, permitam-me pedir desculpa pela ausência. Estavam, talvez, habituados a encontrar aqui, todos os dias, uma nova partilha — fosse ela uma narrativa intrincada, real ou fantasiada, um poema, uma descrição, um fragmento das minhas vivências. Esta pausa não foi planeada, mas foi necessária. Um intervalo imposto pela vida, por aquilo que não se prevê, não se controla, apenas se enfrenta.

Estive a peregrinar para Fátima. Cinco dias a caminhar, fisicamente e interiormente. Cinco dias em que o corpo se resigna à dor e à exaustão, e a alma se abre ao silêncio, ao sentido, ao outro. Partilhei o caminho com desconhecidos que, pouco a pouco, se foram tornando reflexos de mim: espelhos que devolvem histórias, risos, lágrimas e fé. Havia filas — para comer, para usar a casa de banho, para descansar. E mesmo esse descanso, escasso e precário, era um luxo que se saboreava com gratidão.

Nesses dias, o tempo era um bem raro e precioso. Aqueles minutos roubados ao cansaço serviam para ouvir as vozes dos meus filhos, sentir a presença do meu marido do outro lado do telefone, e recordar o porquê de continuar a caminhar. A cada passo, deixava para trás uma parte de mim, ao mesmo tempo que ganhava outra. Cresce-se muito quando se caminha em direcção à fé — e não falo apenas de fé religiosa, mas da fé na vida, no outro, em nós próprios.

E agora, após o regresso, uma nova travessia se insinua. Uma travessia mais íntima, mais dura, que ainda não sei descrever em palavras. Algo atravessou a minha vida e ainda estou a aprender a nomeá-lo, a compreendê-lo. Talvez um dia, com o tempo e a distância certa, o traga aqui. Por agora, limito-me a respirar fundo e seguir.

Não vos esqueci. Escrever continua a ser uma necessidade vital, mas nem sempre a vida nos oferece as condições para dar forma à palavra. Prometo voltar. Devagar, sem promessas de frequência, mas com verdade. Porque a escrita, como a fé, não se impõe — acontece, quando tem de acontecer.


Obrigada por estarem aí.

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