Entre a Essência e o Horizonte: A Mulher que Caminha
Sou mulher. Não por acaso ou circunstância, mas por uma inscrição profunda na tessitura do ser. Caminho pela vida com os pés fincados na realidade e os olhos voltados para o horizonte — onde habita a esperança, onde ressoa a fé, onde floresce o amor.
A condição humana, dizia Kierkegaard, é atravessada por angústias, escolhas e projectos. Eu escolho, todos os dias, viver com intenção. Sou feita de virtudes, sim, mas também de falhas — e é precisamente na consciência delas que reside a minha força. Não busco a perfeição, mas a inteireza. Não quero ser imune ao erro, mas sensível à aprendizagem.
Na maternidade descubro-me espelho e semente. Nos vínculos afectivos — com o meu marido, com os meus filhos, com os meus amigos — descubro a ética da presença, a arte da escuta, o poder transformador da palavra e do silêncio. Ser mulher é ser ponte: entre o íntimo e o mundo, entre o cuidado e o desejo, entre a razão que pondera e o coração que sente.
Acredito na esperança como acto de resistência. Em tempos líquidos, como diria Bauman, onde tudo se desfaz em instantes, eu escolho a permanência da fé — não como crença cega, mas como força que move. A esperança é o gesto de acreditar que o amanhã pode, sim, ser mais justo, mais calmo, mais luminoso.
E, no entanto, sei que não há garantias. Por isso cultivo a ponderação como virtude: a sensatez de agir com consciência, de discernir entre o impulso e o essencial. Desejo que nunca me falte a lucidez para fazer o melhor com os que amo, nem a humildade de saber que estou sempre em construção.
Esta é a minha travessia: feita de fragilidades e coragem, de poesia e razão. Sou mulher que caminha — e, no caminho, descubro a beleza complexa de ser humana.