O Valor Além do Preço

 Eu realmente não sei se agradeço ou não. Aliás, depois de pensar um pouco, não há muito a agradecer, certo? Porque o que estava implícito naquele comentário, meio elogioso, meio carregado de condescendência, era mais do que uma opinião sobre o meu vestido. Era uma tentativa disfarçada de impor um julgamento que, na verdade, não pedi e de que, honestamente, não preciso.

O vestido, tal como cada peça que escolho para mim, não é para agradar os outros. Nunca foi. Eu é que tenho de gostar, de sentir-me bem, confortável, de sentir que aquela peça faz parte de mim, que está alinhada com quem eu sou ou com o que quero expressar naquele momento.

Sim, por acaso, é verdade que o vestido que usei naquele dia foi um presente muito especial, um daqueles que me deixou genuinamente feliz. Não só porque foi oferecido com carinho, mas porque traduz um gesto de atenção e sensibilidade, de alguém que conhece o meu gosto e entende o que me faz sentir bem. Não foi apenas um presente caro, foi um presente com significado.

E sim, tens um bom olho. O vestido é, de facto, da Micaela Oliveira, uma das designers mais conceituadas de Portugal, conhecida por criar peças que mais parecem esculturas de tecido do que meros vestidos. O preço? Nem precisamos de discutir isso, não é? Não é só um vestido caro, é um símbolo de bom gosto, elegância e sofisticação, algo que talvez tu não consigas realmente apreciar. Cada detalhe, cada corte, cada linha bordada foi pensada e trabalhada com uma precisão quase cirúrgica. A Micaela Oliveira não faz roupas, faz obras de arte, algo que transcende a mera ideia de vestuário e se torna uma extensão da própria personalidade de quem o usa.

Os sapatos? Ah, os sapatos! Christian Louboutin, claro. Um nome que dispensa apresentações para quem tem algum mínimo de cultura no mundo da moda. Sabes, aqueles sapatos com a sola vermelha inconfundível? Sim, esses mesmos, desejados por mulheres em todo o mundo e venerados como ícones de luxo. Se vais fazer algum julgamento sobre eles, que ao menos seja com conhecimento de causa. Louboutin não é apenas uma marca, é uma afirmação. Cada par é desenhado para ser tanto uma obra de arte quanto uma arma de confiança e poder. E sim, também foram um presente, tão especial quanto o vestido. É claro que têm o seu preço, mas o valor deles vai além disso. O que pagas não é apenas o material ou o design, mas a sensação que tens ao usá-los. E a sensação é de pura autoconfiança.

Agora, o que me intriga é o teu comentário. O que querias, afinal, alcançar com ele? Uma validação para o teu próprio gosto, uma tentativa de diminuição sutil? Porque há algo de profundamente triste e sombrio nessa necessidade de observar o que os outros vestem e de tecer juízos de valor que, para mim, soam vazios e irrelevantes. A quem realmente importa se o meu vestido é caro ou se os sapatos são de uma marca luxuosa? A mim, certamente, não. Eu sei o que valho, sei o que gosto e, mais importante, sei o que me faz sentir bem. E esse é o único julgamento que me interessa.

Se para ti o preço é algo que define o valor de uma pessoa, então talvez devesses rever os teus próprios valores. Porque o que vi do teu comentário foi apenas uma tentativa patética de projetar a tua própria insegurança, a tua falta de compreensão do que é verdadeiramente ter estilo. Estilo não é sobre quanto custa uma peça, é sobre como a usas, sobre o que ela significa para ti e como ela reflete a tua essência. E, francamente, parece-me que tu ainda não entendeste isso.

Portanto, sim, podes até ter "bom olho", mas o teu comentário revela uma superficialidade que me enoja. Não precisas de me dizer o preço do meu vestido ou dos meus sapatos como se isso fosse um mérito que tu descobriste. Eu sei muito bem o que eles valem, e sei muito bem o que eu valho também. E, ao contrário de ti, eu não preciso de reduzir ninguém a uma etiqueta de preço para sentir que o que eu uso ou faço tem valor.

O teu comentário não me afetou, mas diz muito sobre ti. Um olhar pequeno, focado no que é externo, incapaz de ver além da superfície brilhante das coisas. Um olhar que julga com base no que acha ser caro ou barato, mas que não compreende o valor intrínseco das coisas. Um comentário vazio, carregado de uma tentativa sutil, mas falhada, de me reduzir a algo que, felizmente, nunca serei: uma simples aparência para ser julgada pelos outros.

Então, aqui vai a minha resposta, cheia de um tom ácido, tão negro quanto a tua visão de mundo: se achas que o meu vestido ou os meus sapatos são algo sobre os quais deves comentar, tens a liberdade de o fazer. Mas faz isso sabendo que o teu julgamento não tem, nem nunca terá, qualquer impacto sobre mim. Quem sou eu e o que visto não dependem da tua aprovação. Aliás, dependem unicamente do meu gosto, da minha confiança e do meu conforto.

O que realmente me intriga é como alguém se preocupa tanto com o que os outros vestem, como se a forma como escolhemos nos apresentar fosse algo para aplacar as ansiedades estéticas dos outros. Eu não sou, nunca fui e nunca serei um espelho para o teu julgamento. O teu comentário diz mais sobre a tua falta de visão do que sobre mim. E, francamente, isso é algo de que eu não tenho qualquer pena.

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