Silêncio

 Estou num momento singular, quase uma travessia silenciosa, onde tudo o que busco é paz – mas não aquela paz efêmera e fugaz que flutua na superfície. Anseio por uma paz que nasce do fundo, que acalma as tempestades internas e, ao mesmo tempo, afasta o ruído ao meu redor. A paz de que preciso agora é densa e cheia de significado, é uma calma que não se permite dissolver ao menor toque de caos externo, mas que, ao contrário, é firme, sólida, um abrigo para a alma.

Sinto que as vozes ao meu redor, e até os gestos, precisam ser cuidadosas, ponderadas, ponderáveis. Tenho uma sede de conversas que se assentem numa base de sensatez, numa compreensão profunda de quem somos e do que carregamos. As palavras que hoje me atraem são aquelas ditas com intenção, com a sabedoria de quem já caminhou por sendas difíceis e soube retirar delas lições. Preciso de diálogos onde cada frase tenha peso, onde o silêncio seja tão respeitado quanto o discurso, e onde haja uma intenção sincera de construir uma ponte, em vez de erguer muralhas.

Nesse sentido, a ponderação tornou-se um farol. O valor que dou hoje a uma mente equilibrada e a um coração sereno é quase tangível. Não me atraem mais as paixões desordenadas, as opiniões inflamadas que se formam ao sabor do momento. Desejo, ao invés, o contato com pessoas que sabem medir, que sabem avaliar antes de proferir uma opinião ou de tomar uma posição. Há algo de precioso na sabedoria que advém da prudência, da maturidade emocional. E é esse tipo de companhia que procuro, pois sinto que a minha própria essência necessita desse reflexo.

Este é um período de introspeção, em que compreendo a importância de não aceitar menos do que aquilo que me nutre. Num mundo onde todos correm, falam alto e se atropelam uns aos outros em busca de algo, sinto a urgência de desacelerar. Preciso de qualidade, não quantidade. Não quero relações fugazes ou superficiais, não desejo vozes que gritam verdades absolutas, como se tivessem encontrado o segredo da existência. Pelo contrário, anseio por uma troca que seja quase como um rito, um encontro de almas que se conhecem sem pressa e que respeitam os ciclos e os processos naturais.

Neste caminho, eu mesma procuro tornar-me mais ponderada, mais consciente, mais sensata. Aprendi que não se trata apenas de buscar a paz fora, mas também de cultivá-la dentro de mim. A paz que busco nas pessoas deve refletir a paz que cultivo nos meus próprios pensamentos e atitudes. E isso exige um esforço constante, uma vigilância interior. Tenho aprendido a arte da paciência, da aceitação e, acima de tudo, da compaixão – para comigo mesma e para com os outros.

É um percurso que demanda coragem, pois confronta-me com minhas próprias impaciências, com o ruído interno que, por vezes, me confunde e me dispersa. É um trabalho árduo, mas absolutamente transformador. E, à medida que avanço, sinto que vou atraindo, de forma natural, as almas serenas e as mentes ponderadas de que necessito para nutrir essa fase da minha vida.

É curioso como este momento tem revelado uma nova dimensão em mim. Há uma profundidade na paz que hoje procuro que nunca antes compreendi. E essa paz, tal como a serenidade que se constrói de forma ponderada, é uma arte rara, que floresce nas trocas com quem também já percorreu o seu caminho e, por isso, pode partilhar, sem pressa, o peso leve de sua presença e sabedoria.

Assim, sigo, consciente de que essa busca é, na verdade, um chamado à autenticidade. Uma viagem de retorno à minha própria essência, onde a paz e a ponderação não são apenas palavras, mas a realização de um estado de ser.







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