Histórias do Coração

 A mim, não me importam os bens materiais que a sociedade valoriza: carros importados, roupas de grife ou o prestígio de uma formação académica. Para mim, essas superfícies brilhantes são efémeras, como folhas que caem com o vento. O que realmente me fascina é o que habita dentro de cada um, as histórias que carregamos na alma, as memórias que nos moldam e as experiências que nos fazem ser quem somos.

Fala-me da tua vida. Quero conhecer a essência que te compõe, desde a flor que mais aprecias até à canção que embala os teus sonhos. Qual é o aroma que te transporta para os momentos mais doces da infância? Diz-me qual é o teu dia predileto, aquele que guarda as melhores recordações, onde cada segundo parece eternizar-se em felicidade. E as madrugadas que passaste a sonhar acordada? O que elas te ensinaram sobre o amor e a solidão?

Quero que me contes sobre os teus domingos, a forma como te preparavas para o que estava por vir. Lembro-me da expectativa que se criava em torno de um dia de descanso, das pequenas rotinas que te tornavam especial. Descreve-me a rua da tua infância, aquele lugar que te viu crescer, onde cada esquina guarda um pedaço da tua história, dos colos que te aninharam quando o mundo parecia demasiado vasto e ameaçador, e dos olhos que te sorriram, trazendo uma sensação de pertença e segurança.

O que transportas na bagagem da vida? Que fardos, por vezes invisíveis, pesam o teu coração? Que memórias permanecem como sombras, e quais são aquelas que te trazem alívio à alma? Quero saber o que ficou pelo caminho: os sonhos que não se realizaram, as oportunidades que se esvaíram. Fala-me das estações que passaram, dos dias de verão em que o calor se entranhava na pele, misturando-se com a alegria das risadas infantis, e dos rigorosos invernos, quando o frio entrava nas casas e nos corações, criando um espaço para a reflexão e a intimidade.

Conta-me sobre as manhãs frescas, quando a brisa leve acariciava o teu rosto, trazendo o cheiro do mato orvalhado, das estradas empoeiradas que te levavam a lugares que, mesmo distantes, se tornaram parte de ti. Como eram os dias de chuva, quando a água se tornava uma sinfonia suave nas janelas? E a cor do sol a se deitar, como um amante que se despede, deixando para trás um rastro de laranja e rosa? Fala-me do aroma do pão quentinho que se espalhava pela casa, do café fresco que despertava os sentidos e do sorriso caloroso da tua mãe, que te envolvia como um cobertor nos dias frios.

Quero conhecer os teus irmãos, os laços que vos unem. Que histórias partilham à volta da mesa, nas noites longas, em que a partilha de memórias é quase um ritual? Como eram as luzes de Natal que iluminavam a casa, trazendo um calor especial às noites de inverno? Descreve-me as brincadeiras na rua, os jogos de esconde-esconde, as corridas até ao final do quarteirão. O que sentias quando o fruto maduro pendia do pé, tão acessível e doce como os sonhos que alimentavas?

Fala-me dos teus quintais, onde a roupa no varal balança ao sabor do vento, onde cada peça se torna um testemunho das tuas vivências. Conta-me sobre a rede na varanda, onde os longos dias de verão se transformavam em histórias partilhadas, e o descanso do pai que emanava tranquilidade e força. O vento que passava, fazendo canções com as folhas das árvores, era uma melodia que ainda ecoa nas tuas memórias, não é?a

Fala-me das figueiras, da sombra que ofereciam em dias escaldantes, do murmúrio do vento que sussurrava segredos de tempos passados. E como são as estações da tua vida? Como se transforma a vida ao longo do tempo, mudando de cor, como as folhas que caem e renascem? Como lidas com o choro que por vezes se prende na garganta, aquele que vem à tona quando menos se espera, cheio de emoções não ditas?

Por onde passaste? Quais foram os marcos que deixaram uma impressão indelével na tua alma? Conta-me sobre o teu primeiro amor, sobre a inocência e a intensidade de um sentimento que se transforma em recordação. Lembras-te da primeira vez que folheaste um caderno novo, da excitação do cheiro do papel e das promessas de novas histórias a serem escritas. Como te sentias na presença da tua primeira professora, aquela que abriu as portas do conhecimento e te inspirou a sonhar?

Fala-me dos teus avós, das suas histórias que te embalaram em noites de insónia, da comida que não apenas saciava a fome, mas também alimentava a alma. Qual era o cheiro do frasco de perfume que usava a tua avó? E as calçadas que se transformavam em parques, onde a imaginação não conhecia limites?

Descreve-me o teu caminho, as bifurcações que escolheste, a curva do rio que flui serenamente, levando consigo a flor que simboliza os teus sonhos. Como a água que te refrescava o rosto e te despertava para a vida, cada gota uma recordação, uma emoção guardada. Quais são os sonhos que, mesmo engavetados, ainda ardendo em ti como brasas, te fazem vibrar?

E agora, onde toca a tua música? Onde reside a emoção que te faz sentir viva? É no riso partilhado, nas lágrimas que caem como purificadoras, ou nos silêncios que falam mais alto do que mil palavras? Quero ouvir tudo isso. Desejo sentir o pulsar da tua história, as notas da tua melodia, porque no final, é isso que nos une: as vivências que nos moldam, as emoções que nos atravessam, as memórias que guardamos e os sonhos que ainda fazem os nossos olhos brilhar. Venha, conta-me da tua vida.







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