Entre Silêncios e Laços

 Tenho descoberto em mim uma estranha e, ao mesmo tempo, serena afeição pela solidão. É curioso como, em meio à constante pressa e ao ruído incessante do mundo, encontrei refúgio na quietude dos meus próprios pensamentos. Há uma espécie de paz que só se revela quando estamos a sós, uma intimidade profunda com o eu que, por vezes, só o silêncio consegue desvendar.

Não se trata, no entanto, de uma rejeição à convivência com outros, mas de uma escolha deliberada e consciente, quase como um regresso à essência. Tenho preferido a solidão ou, quando não estou só, a companhia da minha família, aquele círculo restrito onde o afeto é genuíno e as palavras são dispensáveis. Estar entre aqueles que partilham do mesmo sangue e das mesmas memórias traz-me um consolo quase ancestral, como se o tempo não tivesse o poder de corroer esses laços.

É na família que o amor parece mais puro, desprovido de julgamentos ou expectativas. Ali, no seio desse grupo pequeno, posso ser eu mesma sem reservas, sem filtros, sem máscaras. Há uma beleza nisso, na transparência dos laços familiares, que não encontro em outros lugares. Entre nós, o silêncio é confortável, as palavras, quando surgem, são apenas complementos ao entendimento mútuo que já está lá, subentendido, enraizado.

Essa fase de recolhimento, de evitar o excesso de socializações e preferir o que é íntimo, pessoal, talvez tenha vindo como um contraponto a anos de dispersão, de busca incessante por validações externas. Percebi, afinal, que não há aprovação maior do que aquela que encontramos em nós mesmas. E, curiosamente, quanto mais me afasto da necessidade de estar constantemente entre os outros, mais me aproximo de mim. É um paradoxo: quanto mais só estou, mais me completo.

A solidão, para mim, não é um vazio, mas uma presença. Uma presença de mim mesma. É um momento em que o tempo parece expandir-se e, de repente, percebo coisas que antes me escapavam na pressa dos dias. Ouço meus pensamentos com clareza, sinto minhas emoções sem os filtros impostos pelo mundo exterior. É uma oportunidade de mergulhar nas profundezas da minha própria existência, de questionar, refletir, e até mesmo confrontar certas verdades que, talvez, preferisse ignorar.

E, no entanto, a solidão tem seus limites. Há momentos em que a alma anseia por um toque humano, e é nesse instante que a família se torna o meu porto seguro. Não é uma necessidade de companhia qualquer, mas da companhia que compreende, que conhece as raízes dos meus medos e a essência dos meus sonhos. Na família, encontro um espelho onde vejo refletida a parte de mim que pertence ao coletivo, às memórias partilhadas, às histórias que contornam as nossas identidades.

Por isso, tenho aprendido a valorizar esses dois espaços: o da solidão e o da comunhão familiar. Cada um deles alimenta partes diferentes de mim, mas ambos são essenciais para o meu equilíbrio. É como se a minha alma fosse uma casa com duas portas, uma que se abre para dentro, para o meu mundo interior, e outra que se abre para o lado de fora, onde estão aqueles que amo. E é nessa dança entre o dentro e o fora que encontro o meu verdadeiro centro.

Talvez seja apenas uma fase, um ciclo natural de introspecção que virá a ser seguido por outro, mais voltado para o exterior. Mas, neste momento, estou confortavelmente aninhada nessa quietude, nessa familiaridade. E, sinceramente, não há pressa para que isso mude. Aqui, entre o silêncio e os sorrisos familiares, entre a reflexão e o amor incondicional, encontrei algo raro: um espaço onde posso, finalmente, respirar.



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