Reflexão
Nos últimos meses, quase um ano, senti a dureza de uma realidade que foi além de qualquer expectativa. Entrei com esperança, com confiança de que havia ali um ambiente seguro, colaborativo, onde o respeito fosse mútuo. Mas a ingenuidade rapidamente foi esmagada. Em pouco tempo, fui empurrada para uma posição de antagonista, quase uma estranha num campo hostil. Aqueles que deveriam ser aliados no percurso educativo do meu filho, tornaram-se uma presença que me consumia, desgastando-me a cada passo.
Fui tratada como se não tivesse voz, como se a minha preocupação fosse um incómodo, como se o meu papel ali fosse irrelevante. Em vez de respostas, recebi olhares de desconfiança, palavras frias, desfeitas feitas para cortar. E o que começou como um simples desacordo foi-se tornando num mar de ataques, uma escalada de desprezo e humilhação que me desarmou. Fui desrespeitada, como se tivesse ousado cruzar uma linha que jamais deveria ter pisado. Cada tentativa de diálogo era respondida com uma indiferença ou um sarcasmo que me dilaceravam, um tratamento que parecia calculado para me diminuir, para me silenciar.
Difamada, viram-me como uma ameaça, alguém a ser isolado, descredibilizado. Em cada reunião, em cada interação, sentia-me afundar um pouco mais. As palavras, as atitudes, as mentiras, tudo me foi arrancando pedaço a pedaço, até que de tudo fiquei nada. De bestial virei besta Deixei de ser vista como uma pessoa, alguém que estava ali pela educação de uma criança, e passei a ser um alvo.
Hoje, olho para trás e quase não me reconheço. Sou um vulto do que fui, alguém que aprendeu da pior forma a enfrentar um sistema que parece implacável, que não perdoa e que desumaniza.
Troquei de escola, e o contraste foi chocante. Encontrei, por fim, um profissionalismo exímio, uma postura séria e respeitosa que parecia, finalmente, reconhecer o meu papel. Mas, mesmo neste ambiente de competência e decoro, ficou em mim uma cicatriz funda, uma lição amarga que transformou a minha maneira de me relacionar com os docentes. Não quero diálogo, não procuro entendimento além do estritamente necessário. Aprendi que a proteção do que me é mais íntimo e familiar é minha responsabilidade exclusiva, que qualquer abertura desnecessária pode se tornar uma fragilidade explorada.
Adotei, por isso, uma postura firme e distante. Cumpro o meu papel com educação e cordialidade, mas sem ultrapassar um limite que agora vejo como essencial para a minha paz e dignidade. A partir deste ponto, escolho preservar-me. Evito, de forma quase cirúrgica, qualquer interação que não seja indispensável, qualquer brecha que permita ao ambiente escolar interferir no que considero privado. Se precisarem de algo, que perguntem, que escrevam, que enviem mensagens formais, que façam sinais de fumo, se for o caso. Mas, a partir daquele momento para a frente, o diálogo profundo e a partilha acabaram. Não há mais espaço para o desgaste emocional que esse contato implica.
Há uma ironia fria na forma como sou grata a quem me ensinou esta lição, a quem, sem querer, me mostrou que a melhor forma de lidar com certas dinâmicas é a dissimulação, a hipocrisia, a distância calculada. Ainda que estas atitudes não me representem, aprendi que a transparência e a sinceridade podem ser uma fraqueza explorada num contexto onde deveria haver confiança e respeito mútuo. Nem valia a pena o esforço para denegrir a minha integridade perante os colegas, mais uma falha, um erro.
E assim, pratico a distância. Coloco uma barreira segura entre o que sou e o que mostro, entre o que sinto e o que demonstro. A escola é, agora, um ambiente onde exerço apenas o essencial. Respeito quem ali está, mas é um respeito protocolar, sem afetividade, sem abertura. Escolhi, de forma consciente, guardar-me, proteger o que me é mais caro, e lembrar, todos os dias, que essa distância é um gesto de amor-próprio, uma forma de preservar a minha integridade frente a um sistema que já me tirou muito mais do que eu estava disposta a dar.