Ecos de Transmutação: A Reinvenção como Essência
Sou eu, uma partícula viva neste vasto tecido cósmico, uma singularidade em constante transmutação. Somos todos rios, correndo incessantes, moldados pelas águas que nos caem, pela seiva que nos alimenta, pela luz que nos enche de sentido. Não somos estáticos, nem sequer em essência; cada instante somos outra, uma nova, uma nascente renovada de tudo o que absorvemos, de tudo o que deixamos cair sobre o solo dos nossos dias.
Como as árvores que se nutrem da luz, que lançam raízes à procura do profundo, que colhem do solo os minerais e devolvem ao próprio chão suas folhas e frutos para renascerem em ciclos perpétuos de vida e morte, também nós nos entregamos, sem cessar, à reinvenção. Como uma árvore que se abre em copa para o céu, abro-me para os ventos da mudança, acolho as sombras e as luzes que em mim repousam, alimento-me do que sou e do que fui, em processos de autodevoramento criativo, fecundando o solo da minha própria existência.
Olho o céu, e lá estão as estrelas, as irmãs eternas do nosso Sol, que, em silêncio, se consomem em forças de natureza inexorável, oferecendo sua luz ao universo, às galáxias, a mundos que talvez nem conhecerão, mas que, de alguma forma, irão acender. Assim como essas estrelas, sou também movimento interno, o paradoxo de uma força de destruição e criação, uma dança entre o que quebra e o que constrói. Sou o brilho, mas sou igualmente a gravidade que me prende, que me centra no núcleo de mim mesma.
O universo não é apenas um espaço de coisas, é a própria dinâmica, a essência de um movimento sem fim. Estamos em comunhão com ele, somos filamentos dessa teia imensa que respira e se reconfigura sem trégua. E se a natureza é fluxo, então também a minha essência deve abraçar a fluidez, deve admitir a transformação, o acolhimento da novidade e o desapego do que fui. Porque reinventar-me não é uma escolha, é um impulso primordial, uma dança inevitável de ser e deixar de ser, de compor e decompor-me nas águas daquilo que vivencio, daquilo que ressignifico, daquilo que me atravessa.
Por isso, sou a minha própria permanência, e ao mesmo tempo, sou o eco contínuo de transfigurações. Deixo cair sobre mim as chuvas de sentidos novos, acolho o vento que me desorganiza, permito-me a dor que me rasga em aprendizagens profundas. Carrego em mim a serenidade do rio e o poder criador da estrela; tenho o lume do Sol e a fertilidade da terra. E sou, de fato, minha própria presença neste universo — algo que não se apaga, mas que também nunca será a mesma coisa.