Oração
Há momentos em que reconhecemos, com toda a humildade, que carregamos em nós não apenas virtudes, mas também imperfeições. Ontem, durante a missa, vivi um desses momentos de revelação. Em oração profunda, encontrei-me diante de Deus, expondo com sinceridade uma preocupação que há algum tempo tem rondado os meus pensamentos: a amizade do meu filho com um colega. Não é que eu nutrisse antipatia pelo menino, mas sentia, no íntimo, que ele não era a melhor companhia para o meu filho. Naquele momento, pedi a Deus que, se fosse da Sua vontade, fizesse com que o menino fosse transferido para outra escola, para que o meu filho fosse protegido de influências que eu considerava indesejadas.
Assim que proferi essa súplica, um peso subtil instalou-se na minha consciência. Questionei-me sobre a natureza do meu pedido: estaria realmente a agir com amor e cuidado ou estaria a deixar-me levar pelo medo e pela necessidade de controlo? Saber que somos capazes de pedidos e sentimentos que podem não ser inteiramente altruístas faz-nos enfrentar um espelho onde enxergamos nossas sombras. O papel de mãe é amar e proteger, mas proteger sem sufocar, guiar sem controlar. E, naquele instante, percebi que meu desejo de afastar uma influência vinha tanto da preocupação legítima quanto de uma tentativa de moldar a vida à minha imagem, de um desejo humano de controlar o imprevisível.
No entanto, a vida é feita de mistérios que apenas a fé pode explicar, e a minha oração, para minha surpresa, foi ouvida. O menino foi embora, e com ele levou as minhas preocupações mais imediatas. Agradeci a Deus, sentindo que, de algum modo, Ele atendeu à minha prece e trouxe-me a serenidade que eu tanto desejava. "Obrigada, graças a Deus", repeti em silêncio, reconhecendo que, mesmo nos momentos em que pedimos coisas imperfeitas, Ele ouve e age de acordo com o que é melhor para todos.
Mas o verdadeiro presente não foi apenas a resposta ao meu pedido. Foi a oportunidade de refletir sobre o que significa ter fé, amar e educar sem ser refém do medo. Esta experiência ensinou-me que, mais importante do que afastar alguém que julgamos uma má influência, é pedir a Deus que nos conceda sabedoria para confiar nos Seus caminhos, para sermos melhores e mais generosos. O verdadeiro desafio é aceitar que não controlamos todas as situações e que, às vezes, o que pedimos por proteção também pode ser uma oportunidade de crescimento. Assim, em vez de somente pedir que Deus afastasse alguém do meu filho, passei a rezar para que Ele nos ensinasse a lidar com as diferenças, a ser luz na vida dos outros e a transformar o que nos rodeia com amor.
Esta experiência foi uma prova da presença divina, mas também um lembrete de que, para cuidar daqueles que amamos, precisamos primeiro olhar para dentro de nós e questionar se agimos a partir do amor puro ou do receio. Só assim a nossa fé se torna mais rica e a nossa caminhada, mais leve.