Reflexão... Hoje

 Hoje acordei com uma inquietação difícil de descrever. Acordei com o peso invisível do mundo inteiro sobre os meus ombros e uma vontade estranha de me encolher, de me esconder debaixo de tudo, de todas as responsabilidades, das exigências e dos olhares que esperam tanto de mim, das pessoas que insistem em infernizar, minimizar e denegrir quem sou. Hoje, mais do que nunca, senti que queria apenas um abraço - mas não um abraço qualquer, não aqueles gestos banais e distantes, tão formais que quase perdem o significado. Não. O que eu queria era um abraço daqueles que nos envolvem completamente, que nos sufocam num aperto profundo, onde o tempo parece parar e onde, por uns instantes, é possível esquecer que existe todo um mundo para lá desse contacto, todo um universo que, mesmo sem querer, nos cobra constantemente ser mais, fazer mais, resistir mais, principalmente resistir mais.

Hoje, queria alguém ao meu lado que compreendesse sem que eu precisasse explicar. Alguém que me olhasse nos olhos, com a compreensão silenciosa de quem sabe que às vezes as palavras falham e que, naqueles momentos, o que mais precisamos é de presença. Presença sem julgamentos, sem conselhos, sem lições, sem o "eu avisei". Presença que simplesmente é, que está ali, que nos envolve numa espécie de escudo invisível, dizendo, sem uma única palavra, "Eu estou aqui contigo. Nada vai quebrar-te enquanto estou a teu lado. E mesmo que o mundo desabe, vou segurar-te com tudo o que tenho".

Em dias como o de hoje, pergunto-me quantas vezes nos permitimos sentir, quantas vezes deixamos que a vulnerabilidade nos invada e que as emoções nos atravessem sem censuras. Vivemos numa sociedade que nos ensina desde cedo a sermos fortes, a resistir sempre, a levantar-nos rapidamente de cada queda como se a dor fosse algo a evitar, algo de que devêssemos fugir. Mas, e se o verdadeiro ato de coragem estivesse justamente em aceitar que, por vezes, somos frágeis? Que, por vezes, a nossa alma se cansa e o corpo pede uma pausa, uma trégua, um momento para apenas sentir o que nos vai no peito sem pressa, sem obrigação de superar?

Hoje percebo que, mais do que força, o que eu precisava era de compreensão. Não daquela compreensão lógica, racional, mas de uma compreensão que sabe que há dores que nem sempre têm nome, há inquietações que se escondem nas entrelinhas e que nem sempre é possível traduzir. Precisava de alguém que soubesse que, às vezes, só precisamos de um colo, um refúgio onde possamos pousar a cabeça e respirar fundo, fingindo, nem que seja por uns breves minutos, que o mundo lá fora não existe, que tudo está em suspenso, que há um silêncio envolvente que nos permite descansar.

Este desejo, talvez utópico, de simplesmente ouvir um "Vai ficar tudo bem" - como se essas palavras, tão simples, tivessem o poder de consertar todas as partes quebradas, de remendar todos os pedaços desalinhados. E sei que, racionalmente, sei que o mundo não muda por causa de um abraço ou de uma promessa reconfortante. Sei que a vida segue, que os problemas continuam lá, que as batalhas não desaparecem. Mas há uma magia inexplicável na sensação de pertença, na sensação de que, por mais pesado que seja o fardo, não estamos sozinhas, e isso, só isso, faz toda a diferença.

Hoje é um desses dias em que me pergunto se a força não reside exatamente em permitir-me ser frágil, em admitir que, sim, há momentos em que sinto o peso daquilo que é esperado de mim, e em que a vontade de desistir me ronda, mesmo que só por um instante, mas sim, perguntou-me, " o que faço aqui". É nesses dias que percebo que a dor, por mais intensa que seja, é também parte de quem sou, parte das marcas que carrego, e que, de certa forma, me torna humana, me torna autêntica.

Por mais que eu queira fugir da dor, por mais que deseje silenciar as inquietações, sei que são elas que me tornam sensível, que me permitem ver o mundo com olhos que compreendem o outro, que entendem que, muitas vezes, o que todos nós procuramos é apenas um pouco de ternura, um gesto simples que diga "Eu estou aqui, contigo. Vai passar. Vamos juntas".

E, assim, envolvida em pensamentos, percebo que, talvez, este colo, este abraço que tanto desejo, não seja um lugar físico, mas uma metáfora daquilo que busco dentro de mim. Uma aceitação profunda de que, apesar de todas as fragilidades, sou completa. E, no meio de tudo isto, mesmo com as lágrimas, com as pausas e com as falhas, há uma força que cresce, que se alimenta precisamente da coragem de me deixar ser vulnerável, de me deixar sentir tudo - o bom e o mau - sem me esconder, sim sinto tudo.

E talvez, só talvez, seja essa a verdadeira beleza de viver.

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