As decisões.
Existem decisões que rasgam o coração como um punhal afiado, decisões que deixam-nos a sangrar por dentro enquanto o mundo à nossa volta permanece indiferente. Eu sei disso. Sei porque já encontrei-me nesse abismo onde a escolha certa é, paradoxalmente, a mais dolorosa.
Lembro-me do dia em que vi-me diante desse precipício. A minha alma gritava pela paz que sabia que só viria com a renúncia, mas o meu coração? Ah, o meu coração resistia, rebelde, agarrado a cada pequena memória, a cada promessa feita num momento em que acreditávamos ser invencíveis. Era como segurar um espelho quebrado, com cacos a cortar-me os dedos, recusando-me a largar por medo de perder o reflexo de algo que já não existia.
Decidi. Tomei a decisão que rasgou-me por dentro, que arrancou-me o chão debaixo dos pés e deixou-me a navegar num mar de incerteza. Mas, à medida que os dias passaram, percebi que, ao quebrar os grilhões do que prendia-me, eu estava a libertar a minha alma. Era como se a dor inicial tivesse sido um preço necessário para encontrar algo maior – a serenidade, a verdade, a liberdade de ser inteira outra vez.
Há quem diga que o tempo cura tudo, mas eu aprendi que não é o tempo, é a coragem. A coragem de enfrentar o que dói, de deixar para trás o que pesa, mesmo que o coração se parta em mil pedaços. E, no final, ao olhar para esses pedaços, percebo que são eles que moldam-me, que tornam-me mais forte, mais lúcida, mais eu.
Hoje, sei que há decisões que não são apenas escolhas – são renascimentos. Curar a alma nunca é um caminho fácil, mas é o único que vale a pena.