Reflexão: novembro 2024

 Testemunho e Reflexão Pessoal

Na correria da vida, somos frequentemente atravessados por perguntas que nos obrigam a parar e a regressar ao essencial. Perguntas que mais do que simples interrogações, são convites a uma revisão interior, a um olhar sincero sobre a forma como temos vivido a nossa fé. Como mulher católica, não posso ignorar estas questões sem lhes dar uma resposta concreta, verdadeira e, sobretudo, encarnada na vida diária.


Lembro-me de louvar a Deus?

Lembrar-me de louvar a Deus é mais do que proferir palavras bonitas em momentos pontuais. Louvar a Deus é uma atitude permanente do coração, é um estado interior de reconhecimento, de gratidão e humildade. É saber que tudo o que sou e tenho provém d’Ele.

Quantas vezes, no meio das preocupações diárias, esquecemo-nos de levantar o olhar e louvar? Quantas vezes o louvor é substituído pela murmuração, pela pressa, ou pela indiferença? No entanto, o louvor liberta. Quando louvo, deixo de me centrar nos problemas e volto a centrar-me n’Ele, que é maior que todas as dificuldades.

Lembrar-me de louvar a Deus é, também, reconhecer que Ele é digno de ser louvado não só pelo que faz, mas pelo que Ele é: Amor, Misericórdia, Verdade, Justiça. O louvor transforma-me porque realinha o meu coração com a verdade mais profunda: Deus é Deus, e eu sou Sua filha.


Sei quais são as grandes coisas que Deus faz por mim?

É fácil perder de vista as grandes obras que Deus realiza na minha vida quando me deixo absorver pelas inquietações do dia-a-dia. Mas Deus age, muitas vezes, no silêncio, na subtileza, nos pequenos detalhes. Saber reconhecer as grandes coisas que Deus faz por mim é ter um olhar de fé atento e agradecido.

Como Maria, devo ser capaz de proclamar: “O Senhor fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome” (Lc 1,49). Não apenas porque me concede bênçãos materiais ou livra de dificuldades, mas porque opera continuamente em mim a obra maior: a transformação do coração, o crescimento na fé, a conversão diária.

A maior maravilha é a salvação que Ele me oferece gratuitamente. É a Sua paciência para comigo, a Sua misericórdia infinita que me acolhe cada vez que caio. Saber quais são as grandes coisas que Deus faz por mim é olhar para trás, para o caminho já percorrido, e reconhecer a Sua mão a guiar-me, mesmo nos momentos em que eu pensava estar sozinha.


Sou testemunha corajosa da esperança, da alegria, da paz e da fé?

Ser testemunha é mais do que professar uma crença; é viver de modo que a minha vida se torne um reflexo visível daquilo em que acredito. Ser testemunha corajosa implica enfrentar o medo, o desconforto, a oposição, e mesmo assim permanecer firme, coerente, íntegra.

Vivemos tempos onde a esperança parece escassa, a alegria é substituída por uma constante insatisfação, a paz cede lugar à ansiedade, e a fé é frequentemente ridicularizada ou ignorada. Mais do que nunca, o mundo precisa de testemunhas que irradiem esperança verdadeira, não baseada em promessas vazias, mas ancorada em Cristo ressuscitado.

Sou chamada a testemunhar com palavras, sim, mas sobretudo com atitudes: com um sorriso, com um gesto de perdão, com a serenidade diante das provações. Testemunhar a paz que vem de Deus é ser presença reconciliadora; testemunhar a alegria é ser luz no meio do desânimo; testemunhar a esperança é apontar para além do imediato; testemunhar a fé é viver enraizada na confiança, mesmo sem ver.

Esta coragem não nasce de mim própria, mas do Espírito Santo que habita em mim e me dá força para ser sal e luz sem medo, sem tibieza.


Reflexão Final:

Em tudo isto, há um ponto essencial que nunca posso esquecer: ser testemunha, louvar a Deus, reconhecer as Suas maravilhas, não significa diluir quem sou, não significa deixar de viver plenamente ou anular-me.

Diluir-se no sentido cristão é deixar que a essência dada por Deus transborde de mim. Não é perder-me, mas encontrar-me mais profundamente. Deus conhece a minha essência — Ele mesmo a criou. Ele sabe quem sou, conhece cada fibra do meu ser. A mudança que Ele opera não é destruição, mas purificação; não é apagamento, mas iluminação.

Louvar, reconhecer e testemunhar não matam quem sou; pelo contrário, fazem-me viver na minha identidade mais autêntica: filha de Deus, amada, chamada a ser canal de graça no mundo. Não há nada mais pleno, mais verdadeiro, mais livre do que viver segundo aquilo que Deus sonhou para mim desde toda a eternidade.


Citação Inspiradora:

Termino com palavras da nossa querida Santa Teresa de Jesus (de Ávila), Doutora da Igreja, que tão bem nos recorda o essencial:


"Nada te perturbe, nada te espante. Tudo passa, Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta."


Que esta certeza seja o alicerce da nossa coragem e da nossa paz.


Oração:

Senhor, Deus da vida,

Eu Te louvo por quem és e por tudo quanto operas em mim.

Dá-me olhos atentos para reconhecer as maravilhas que realizas diariamente,

Coração grato para celebrar os Teus dons,

E força para ser testemunha corajosa da esperança, da alegria, da paz e da fé.

Faz-me instrumento do Teu amor sem que eu deixe de ser quem sou,

Conservando íntegra a essência que me deste e deixando que ela floresça sob a Tua graça.

Espírito Santo, transforma-me por dentro para que, diluindo-me no serviço aos outros,

Eu nunca me perca, mas antes me encontre mais plenamente em Ti.

Amén.

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