Reflexão: dezembro 2024
Testemunho e Reflexão Pessoal
Na caminhada cristã, somos frequentemente desafiados a examinar não só as grandes decisões da nossa vida, mas também os gestos e palavras quotidianos. Enquanto mulher católica, consciente da responsabilidade de ser testemunha de Cristo no mundo, estas três perguntas soam-me como um exame de consciência sincero. São espelhos fiéis que me revelam se a minha fé está, de facto, enraizada no Evangelho.
Sei o que é a humildade?
A humildade é uma virtude central na vida cristã, mas muitas vezes mal compreendida. Ser humilde não é negar os dons que Deus nos deu, nem viver numa postura de falsa modéstia ou desvalorização. A verdadeira humildade é a verdade sobre nós próprios: reconhecer que tudo o que temos e somos vem de Deus.
Jesus, nosso modelo perfeito, sendo Deus, fez-Se servo. A humildade d'Ele não diminuiu a Sua grandeza; antes, revelou a plenitude do amor. Assim também eu sou chamada a viver com os pés assentes na terra, sabendo que nada possuo por mérito próprio, mas tudo por graça. A humildade liberta-me da vaidade, da necessidade de comparação e da ânsia de superioridade.
Humilde é quem aceita os próprios limites sem revolta, reconhece as virtudes dos outros sem inveja e permanece disponível para aprender sempre. É uma escola diária, onde me descubro dependente de Deus, mas profundamente amada por Ele.
Tenho conversas inconvenientes sobre os outros?
Esta pergunta exige uma resposta honesta. A língua pode ser uma ferramenta de edificação ou um instrumento de destruição. Não é errado falar sobre factos reais, comentar acontecimentos concretos, mas há uma linha fina que separa a verdade dita com caridade da crítica dita com veneno.
Importa distinguir: posso relatar um acontecimento real, ser direta, sem especulações, sem suposições ou exageros. Mas devo sempre questionar-me: qual é a intenção com que falo? O que digo ajuda ou apenas satisfaz uma curiosidade ou alimenta um julgamento?
A maledicência surge, muitas vezes, disfarçada de desabafo ou preocupação, mas a verdade é que fere a caridade. O Evangelho pede-nos algo maior: que as nossas palavras reflitam justiça, respeito e, sobretudo, misericórdia.
Ser verdadeira, clara e direta não significa ser venenosa. Posso relatar, alertar, aconselhar, mas sempre com retidão de intenção, sem malícia ou superioridade.
Vejo o bem que há nos outros?
O olhar cristão deve ser um olhar de misericórdia e esperança. Somos rápidos a identificar falhas, lentos a reconhecer virtudes. Mas cada pessoa traz em si sinais do bem, marcas da imagem de Deus.
Ver o bem nos outros não é ingenuidade, mas um exercício de justiça e humildade. É saber olhar para além das falhas visíveis e perceber que todos têm valor, dons, potencialidades que merecem ser reconhecidos.
Quem vê o bem nos outros cresce em alegria, em paz, em comunhão. Este olhar puro afasta a inveja, o ciúme e o espírito crítico. É um olhar que constrói pontes em vez de cavar fossos.
Reflexão Final:
Viver estas atitudes — humildade, palavras justas e olhar positivo — não significa diluir quem sou ou apagar a minha personalidade. Não significa deixar de ter opinião ou ser passiva.
A transformação que Deus opera em mim não anula a minha essência; pelo contrário, purifica-a, aperfeiçoa-a. Ele conhece-me profundamente e quer que a minha autenticidade floresça, livre de vaidade, julgamento ou dureza de coração.
Diluir-me no amor e no serviço não é deixar de viver plenamente. É viver mais intensamente, como Ele sonhou para mim. O meu valor permanece intacto, porque está fundamentado no facto de ser filha amada de Deus.
Citação Inspiradora:
Recordo as palavras de Santo António de Lisboa, que tão bem sintetizam esta atitude interior:
"O homem humilde, ainda que desprezado, é amado por Deus; o soberbo, ainda que exaltado pelos homens, é rejeitado."
Oração:
Senhor, ensina-me a ser humilde,
A reconhecer que tudo em mim vem de Ti,
E que nada me falta quando permaneço no Teu amor.
Purifica os meus lábios para que as minhas palavras nunca sejam instrumento de divisão,
Mas canal de luz, de verdade e de caridade.
Dá-me um olhar puro, capaz de ver o bem nos outros,
Capaz de encorajar, levantar, reconhecer.
Que eu seja sempre verdadeira sem ser venenosa,
Clara sem ser cruel,
Direta sem perder a paz.
Não permitas que eu me dilua a ponto de me perder,
Mas transforma-me por dentro para que a essência que colocaste em mim brilhe purificada.
Amén.