Reflexão: outubro 2024

 Testemunho e Reflexão Pessoal

Enquanto mulher católica, filha da Igreja, procuro viver uma fé encarnada, consciente e profundamente enraizada em Cristo. As questões que me foram colocadas recentemente ressoaram dentro de mim como um convite ao aprofundamento, à verdade e à entrega. Partilho aqui a minha reflexão, fruto da oração e do desejo sincero de deixar-me guiar por Deus e ser, de facto, luz e sal no mundo.

Reconheço a Grandeza de Deus? Acredito que Deus Guia a Minha Vida? Sou Sal Que Dá Sabor à Vida dos Outros?

Há perguntas que não se respondem apenas com palavras, mas sobretudo com a vida. Perguntas que nos interpelam, que exigem silêncio, introspecção e, mais ainda, uma entrega constante. São questões que nos obrigam a mergulhar no mais íntimo de nós mesmas, a colocar-nos diante de Deus com total sinceridade. Vamos então reflectir profundamente sobre cada uma delas.


Reconheço a grandeza de Deus?

Quando olho para o mundo, facilmente percebo sinais visíveis da grandeza divina: no movimento harmonioso dos astros, na beleza da natureza, no milagre diário da vida. Mas reconhecer verdadeiramente a grandeza de Deus não se limita a admirar a obra criada; vai muito além disso. Reconhecê-Lo é deixar que Ele seja Deus na minha vida — aceitar que Ele é maior que tudo o que posso compreender, maior que os meus planos, maior que as minhas forças e fragilidades.

Reconhecer a grandeza de Deus exige humildade. Implica um desprendimento do meu ego, um abandono da tentação de controlar tudo. É, como Maria, proclamar: “A minha alma glorifica o Senhor” (Lc 1,46). O mais belo mistério é este: um Deus tão grandioso, infinito e perfeito, não se distancia, mas aproxima-Se, inclina-Se para mim. A Sua grandeza não me oprime, mas eleva-me; não anula quem sou, mas revela-me a plenitude daquilo que posso ser.


Acredito que Deus guia a minha vida?

Responder afirmativamente a esta pergunta é assumir um caminho de confiança total. Acredito que Deus guia a minha vida quando aceito que Ele escreve a minha história com amor, mesmo nos capítulos que não entendo. Confiar n’Ele é caminhar, muitas vezes sem ver o horizonte, mas com a certeza de que há uma mão divina a conduzir-me.

Na nossa sociedade, onde tudo parece incerto e onde tantas vozes oferecem direcções contraditórias, acreditar na orientação de Deus é um acto de fé que desafia. Não significa que Deus impõe, mas que propõe, chama, conduz com paciência. Ele respeita a minha liberdade, mas oferece-me continuamente sinais, inspirações e oportunidades para me deixar guiar.

É nos momentos difíceis, nos momentos de provação, que esta confiança se torna mais exigente. Porém, tal como o salmista proclama: “O Senhor é meu pastor, nada me faltará” (Sl 23), eu sei que, entregando-Lhe a minha vida, Ele faz dela algo muito maior do que eu seria capaz de fazer sozinha.


Sou sal que dá sabor à vida dos outros?

Quando Jesus nos diz: “Vós sois o sal da terra” (Mt 5,13), Ele não está a fazer um convite superficial, mas a apontar para a essência do discipulado cristão. O sal é discreto, mas essencial. Ele dá sabor, preserva, impede a corrupção. E para que o sal cumpra a sua função, precisa dissolver-se, precisa gastar-se, entregar-se. No entanto, e isto é importante, dissolver-se não significa desaparecer ou perder-se de si mesma.

Ser sal na vida dos outros é viver de tal forma que a presença de Cristo em mim torne-se alimento, consolo, inspiração para os que caminham ao meu lado. É nas pequenas coisas — no perdão, na escuta, na paciência, na coerência dos valores vividos — que temperamos e iluminamos a vida dos outros.

Num mundo onde reina a indiferença, onde tantos se tornam insípidos de esperança, ser sal é ser presença viva do amor de Deus. Não é anular-se; é, antes, deixar transparecer a essência mais autêntica que Ele próprio plantou em mim.


Reflexão Final:

E aqui chegamos a uma verdade fundamental: diluir-se não é desaparecer, não é deixar de ser quem somos. Não é matar a nossa essência, nem apagar a identidade única que Deus nos deu.

Pelo contrário, quando nos damos aos outros, quando permitimos que o nosso amor, a nossa fé, os nossos valores e virtudes sejam partilhados, não deixamos de ser quem somos — tornamo-nos mais plenamente aquilo que somos chamadas a ser. Deus conhece-nos melhor do que ninguém; Ele sabe quem somos, com todas as nossas qualidades, lutas e dons.

A mudança que Ele deseja não é uma anulação, mas uma transformação interior. É um aperfeiçoamento dos nossos valores, uma purificação das nossas atitudes, um crescimento nas virtudes. É um processo que começa no interior, no íntimo, e que se manifesta em gestos concretos no mundo.

Diluir-se como sal é aceitar gastar-se, sim, mas para exalar o sabor autêntico da vida nova que Cristo nos oferece. É ser canal de graça sem perder a identidade única que Deus sonhou para nós desde toda a eternidade.


Citação Inspiradora:

Deixo-vos uma frase luminosa de Santo António de Lisboa, que tão bem compreendeu o que significa ser sal e luz:


"Pregai sempre o Evangelho. Se necessário, usai palavras."


Que a nossa vida fale, que o nosso ser inteiro proclame Deus, que sejamos sal sem deixarmos de ser nós mesmas.



Oração

Senhor meu Deus,

Tu que és grande e eterno, que me conheces desde antes de eu ser,

Entrego-Te a minha vida, os meus passos, os meus sonhos e fragilidades.

Guia-me com a Tua mão firme e amorosa.

Faz-me sal da terra, Senhor, mas um sal que conserva intacta a essência que me deste.

Ensina-me a dar sabor à vida dos outros sem perder a minha identidade em Ti.

Que eu me transforme cada dia mais,

Não pelo peso do mundo, mas pela leveza do Teu Espírito.

Amén.

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