As Pessoas Que Nos Sustentam
Há seres que nos marcam de forma indelével, cuja presença ilumina sem ofuscar, aquece sem queimar e guia sem impor direções. São as pessoas-árvore, seres de rara essência, que se erguem firmes e majestosas na paisagem da vida, oferecendo sombra, abrigo e sustento sem esperar nada em troca. São guardiãs silenciosas do equilíbrio, presenças que não se impõem pelo ruído ou pela ostentação, mas pela solidez da sua existência.
Reconhecê-las não é um exercício de olhar, mas de sentir. Porque as pessoas-árvore não se anunciam, não procuram protagonismo, não exigem reconhecimento. Estão ali, discretas, porém incontornáveis, profundamente enraizadas na verdade que carregam no peito. São essas almas que tornam o mundo um lugar mais suportável, que nos permitem repousar quando a exaustão se instala, que nos acolhem nos dias sombrios e que, mesmo sem palavras, nos dizem que tudo passa, que tudo se renova, que há sempre uma nova estação à nossa espera.
As pessoas-árvore têm troncos robustos, feitos da resistência silenciosa que só os anos e as provações podem esculpir. Não se dobram facilmente, mas sabem que a rigidez excessiva pode ser fatal. Por isso, aprenderam a ceder ao vento, a dançar com a tempestade, a inclinar-se quando necessário sem nunca perderem a essência. São resilientes não porque ignoram a dor, mas porque a transformam em força, em aprendizagem, em sabedoria.
As suas raízes mergulham fundo, muito além do que os olhos podem ver. Não são superficiais nem volúveis. Bebem da terra que as viu nascer, respeitam a sua origem, honram os seus antepassados e compreendem que nada de grandioso pode ser construído sem um alicerce sólido. E, no entanto, não se deixam prender pelo passado. Crescem sempre, procuram sempre o alto, buscam a luz sem nunca esquecer de onde vieram.
São presenças constantes, seguras, verdadeiras. Não vivem de aparências, de modas passageiras, de máscaras que escondem fragilidades. São genuínas, autênticas, fiéis à sua natureza. Não temem o tempo, pois sabem que cada estação traz consigo um propósito. No outono, desprendem-se do que já não lhes serve, deixando cair as folhas sem medo da nudez momentânea. No inverno, recolhem-se, fortalecem-se na quietude, aguardam pacientemente pelo renascimento. Na primavera, florescem sem arrogância, conscientes de que a sua beleza não precisa de ser proclamada. E no verão, oferecem generosamente a sua sombra a quem dela precisar.
E que dizer dos seus frutos? Não são frutos colhidos por vaidade, mas por generosidade. São frutos de bondade, de empatia, de palavras que curam e de gestos que confortam. Não se preocupam em contar o que dão, porque dão sem esperar trocas ou recompensas. Alimentam aqueles que cruzam o seu caminho, nutrem almas famintas de afeto, saciam a sede de quem há muito esqueceu o sabor da ternura.
E há ainda algo mais precioso que as pessoas-árvore oferecem: o oxigénio que nos permite respirar. Quando o mundo se torna sufocante, quando as dores da existência nos apertam o peito, são elas que nos devolvem o ar, que nos lembram de inspirar fundo, de reerguer a cabeça, de acreditar que há sempre espaço para um novo começo. São elas que nos fazem emergir quando tudo nos puxa para o fundo, que nos devolvem a capacidade de ver a vida com olhos menos cansados, menos desiludidos.
São maravilhosas as pessoas-árvore. E, no entanto, nunca se vangloriam daquilo que são. Não se arvoram em floresta ou bosque. Não desejam grandeza além da que já possuem na sua simplicidade. Entendem que a força não precisa de alarde, que a verdadeira grandeza está naquilo que se faz sem esperar reconhecimento.
Eu tenho o privilégio de conhecer algumas, poucas, mas que embelezam a minha caminhada. E a sua presença é como um presente silencioso, um bálsamo que suaviza os dias difíceis, um farol que me recorda da importância da integridade, da bondade, da simplicidade.
E se há algo que desejo, é que cada um, em algum momento da vida, tenha a sorte de cruzar-se com uma pessoa-árvore. Que encontre alguém cuja presença seja um porto seguro, cuja essência seja um lembrete de que a beleza da vida está nos gestos pequenos, mas significativos. E, acima de tudo, que sejamos também nós, para alguém, uma árvore onde possam descansar, respirar, reencontrar-se.
Porque, no fim, o que realmente importa não é o que temos, mas aquilo que deixamos na vida dos outros.