Incandescente

 Podes pensar que a tua presença no mundo é pequena, quase insignificante perante a vastidão dos dias e a pressa do tempo. Talvez acredites que os teus gestos se perdem no anonimato do quotidiano, como gotas dispersas num oceano imenso. Contudo, ainda que não te apercebas, todas as noites há alguém que repousa com mais serenidade simplesmente porque ouviu as tuas palavras de conforto. Há quem enfrente o peso das horas com mais leveza, porque recebeu um abraço teu, breve, mas pleno de sentido. Nalgum recanto escondido, um coração perdido no labirinto da dor e da desesperança encontrou um novo norte, uma réstia de luz, porque tu estavas lá para escutar, para ser presença silenciosa, mas firme.

Talvez nunca venhas a saber, mas há conselhos teus que já devolveram o fôlego a quem julgava ter chegado ao fim da linha; há sorrisos teus que iluminaram dias que, para outros, estavam mergulhados em sombra. O impacto que deixas, tantas vezes invisível ao olhar apressado, é sentido no âmago dos que cruzam o teu caminho. Por isso, lembra-te: cada palavra, cada gesto, por mais singelo, pode transformar ou ferir, erguer ou derrubar. O mundo carece de mãos que levantem e não que empurrem, de vozes que acalmem e não que tumultuem. A missão que nos foi confiada é, justamente, essa: restaurar o que foi quebrado, semear esperança onde reina o deserto, amar sem reservas, sem escolha. Porque o amor verdadeiro não calcula, não mede, apenas se dá.

E é nesta entrega que resides tu, com a tua simplicidade única, tocando vidas de uma forma que, talvez, jamais venhas a perceber por completo.

Agora, permite-me que te fale, não mais como observadora distante, mas como quem partilha esta travessia:

Eu própria já me questionei inúmeras vezes sobre a real importância da minha existência. Já houve dias em que, envolta na rotina e nas inquietações silenciosas, imaginei que os meus gestos se perdiam no vazio, sem eco, sem propósito. Mas a vida, com a sua sabedoria subtil, fez-me perceber que cada palavra que ofereço, cada vez que escuto sem julgar, cada sorriso que distribuo sem esperar retorno, podem ser a ponte que alguém precisa para atravessar o seu abismo interior.

Muitas vezes, sem sequer me darem conta, olhos cansados encontram repouso na minha escuta atenta, e corações pesados descobrem alívio na leveza de um abraço meu. Já vi, sem pedir reconhecimento, pessoas erguerem-se depois de uma conversa despretensiosa, como se a minha presença tivesse acendido nelas uma centelha esquecida. E é aí que compreendo: a grandiosidade do bem não reside em feitos grandiosos, mas nas pequenas sementes que semeamos sem nos darmos conta.

Por isso, procuro vigiar as minhas palavras como quem cuida de algo sagrado. Sei que um gesto impensado pode ferir, assim como um olhar acolhedor pode ser o primeiro raio de luz no dia sombrio de alguém. Não me considero perfeita, longe disso. Mas trago comigo um compromisso silencioso: que a minha passagem pelo mundo seja leve e que, se puder, alivie os fardos de quem me rodeia. Que a minha simplicidade não seja obstáculo, mas veículo. Que, ao ser quem sou, sem máscaras nem artifícios, possa de alguma forma devolver esperança a quem a perdeu, e amor a quem já desistiu de acreditar nele.

Vivo, assim, com a certeza de que, ainda que os meus gestos não ecoem nos grandes palcos, eles têm um valor imensurável na vida de quem comigo cruza caminho. Não preciso saber os nomes, nem contabilizar os feitos. Basta-me saber que, no grande bordado da existência, cada fio que lanço, mesmo invisível, sustenta e entrelaça a esperança alheia.

Que Deus, fonte de todo amor, habite sempre o meu coração e me conduza para que, em cada palavra, em cada ato, eu continue a ser instrumento de vida, consolo e luz.

Desejo, para mim e para ti, um dia pleno de sentido — onde o amor, silencioso mas firme, guie cada passo. Sempre com Deus no coração.

Há quem pense que a nossa presença neste mundo é pequena, quase irrelevante. Que os nossos gestos se perdem no caos dos dias, sem deixar marca. Mas sei, por experiência própria, que não é assim. Às vezes, uma palavra dita sem grandes pretensões, um abraço oferecido no momento certo, ou até mesmo um simples olhar atento, pode ser o que impede alguém de cair. Já vi isso acontecer. Já vi pessoas encontrarem alento em coisas que eu mesma pensei serem insignificantes.

E digo-te mais: eu própria já precisei disso. Precisei — e continuo a precisar — de pessoas que me toquem o coração e a alma. Pessoas reais, imperfeitas como eu. Não são as que aparecem perfeitas aos olhos do mundo que me salvam. São as sinceras, as honestas, as que não têm medo de mostrar as falhas. São essas que me alcançam.

E é porque sei quanto essas pessoas fizeram diferença na minha vida que também faço questão de, sempre que posso, ser isso para os outros. Tento sempre tocar, mesmo que seja de leve, a alma de quem cruza o meu caminho. Não é preciso muito — basta ter intenção verdadeira.

Mas nem todos entendem. Houve um tempo em que precisei calar a minha voz. Fui obrigada a escutar palavras que magoaram, não só a mim, mas à minha família. Fui ferida por alguém que pensei ser uma coisa e, afinal, revelou-se outra. Engoli tudo em silêncio. Não respondi, não rebati. Guardei para mim, não por fraqueza, mas por força — porque sabia que qualquer palavra minha, naquele momento, não seria ouvida como devia.

E quando finalmente falei, foi com o coração limpo. Disse o que sentia sem esperar retorno, sem intenção de reconciliação. Disse: "não viva no medo", "não mude quem é". Mas não disse para a pessoa concreta que estava à minha frente. Disse para a versão dela que um dia pensei ter existido — e, quem sabe, espero que ainda exista, não por mim, mas pelos seus, pelos amigos, pela família. Por mim, já conheci o suficiente. Já não há ligação. O tempo dela na minha vida terminou.

Hoje, sei exatamente quem deixo entrar no meu círculo. Sou seletiva. Não abro portas ao acaso. Mas, mesmo assim, continuo a espalhar pequenos atos de bondade. Porque não faço o bem à espera de reconhecimento. Faço-o porque é quem eu sou.

Sei também quando são condescendentes comigo. Sei ler nas entrelinhas quando me olham de cima, quando fingem gentileza mas carregam julgamento. É triste, mas aceito sem perder tempo a responder. O silêncio é a minha resposta. E dou graças a Deus quando certas pessoas simplesmente se afastam. Porque eu não vejo tudo, mas Deus vê. Ele escuta conversas que eu nunca ouvi. Ele testemunha o que se passa quando ninguém está a ver.

E há algo que sempre soube sobre mim: eu não sou de pedir bênçãos. Não sou de exigir nada. Não estou aqui para implorar favores divinos. Se Deus achar que deve fazer algo por mim, aceito. Se não fizer, aceito também. Acredito que Ele sabe mais do que eu alguma vez saberei. O que for meu, virá. O que não for, que siga. Eu não corro atrás. Caminho em paz.

E quando Deus tira alguém do meu caminho, sei que foi proteção. Ele leva essas pessoas para onde devem estar — para ambientes, para círculos, para o género de gente que combina com quem elas verdadeiramente são. E peço a Deus que as guarde… mas longe de mim e dos meus. Porque não quero, nem preciso, de presenças vazias, de máscaras, de pesos disfarçados de amizade.

Hoje, sigo firme, sem ilusões. Já não lamento portas fechadas. Sei que a minha missão é simples: tocar quem merece, amar quem respeita, e deixar que Deus remova o resto. Quem quiser ficar, que fique inteiro. Quem não quiser, que siga, sem voltar.

E que eu nunca deixe de ser quem sou: com defeitos, sim, mas inteira, verdadeira e seletiva. Porque o tempo de aceitar migalhas ou presenças ocas acabou.

Hoje foi um dia muito especial e feliz para mim e minha família e Deus colocou , espero eu que, tenha colocado este texto em meu coração. Que chegue a muitos corações.

Mensagens populares deste blogue

Ousadia Incompreendida

O Corpo Não Mente

Reflexão -Quando se diz tudo, em silêncio também.