Super-heróis de Carne e Alma
Não se vence uma guerra sozinha,
mas o coração, feito de luz e ferro,
ergue muralhas e desmorona-se ao vento.
Protege-nos, sim, mas consome-se no tempo.
E o medo de pedir ajuda?
Esse é um fantasma que sussurra no silêncio.
Mas basta um passo—
um único passo—
como aquele do primeiro homem na Lua,
para atravessar o abismo das incertezas,
para tornar o impossível numa casa segura.
Porque ninguém vê as tempestades dentro de nós,
as noites em que a alma desaba
e o peito se afoga num mar de prantos invisíveis.
Nascemos sozinhos, dizem,
mas morremos sempre no coração de alguém.
Somos anjos com asas partidas,
e só voamos quando nos seguramos.
Caminharei,
a um passo do teu passo,
e travaremos o vento como deuses esquecidos.
Seremos super-heróis,
como eu e tu,
e se sentires medo, aperta-me as mãos.
Porque juntos somos eternos,
invencíveis na proximidade,
e para onde quer que vá,
levo-te comigo.
Somos gotas de chuva que caem de leve
mas movem oceanos.
As cicatrizes falam em sussurros,
contam histórias que o tempo não apaga.
Há dores que não morrem,
feridas que se fecham na pele,
mas deixam sombras dentro de nós.
E já odiei o reflexo no espelho,
já afundei na noite sem chão,
mas mesmo nos meus abismos
encontrei-te ali, a estender-me a mão.
Oh, e quando estamos distantes,
sei que o céu chora contigo.
Oh, não tenho muito para te dar,
mas o que sou, juro, é teu.
Se um dia tropeçares na escuridão,
se as tuas asas forem presas pelo medo,
eu serei o chão onde cais devagar,
o eco da tua voz quando já não souberes gritar.
E se o mundo te pesar nos ombros,
se sentires que és só poeira ao vento,
lembra-te: és feita de estrelas antigas,
de constelações que nunca se apagam,
e eu caminharei ao teu lado,
até o sol nascer dentro de ti outra vez.
Basta um instante para saber:
toda cicatriz tua é também minha,
toda dor tua ecoa no meu peito.
Basta um instante para perceber:
onde estás, eu existo,
e em ti, qualquer lugar é casa.
Porque juntos somos feitos de estrela e aço,
e para onde quer que vá, levo-te em mim.
Seremos super-heróis sem capa,
sem voar, mas sem cair,
duas gotas de chuva
que salvam o mundo,
gota a gota,
mão na mão.
E se um dia o silêncio for maior que as palavras,
se a noite te engolir sem deixar rastros de luz,
lembra-te: sou tua sombra na ausência,
sou o vento que sussurra o teu nome ao luar.
Os dias passarão como folhas soltas,
a chuva apagará pegadas na areia,
mas eu serei sempre o fogo que arde em segredo,
a certeza que te chama de volta para casa.
Porque o amor não é apenas permanência,
é ficar mesmo quando tudo se desfaz,
é escolher voltar mil vezes,
mesmo que o caminho seja de espinhos e marés.
E eu voltarei sempre—
como a maré que encontra a praia,
como as estrelas que regressam à noite,
como a última folha que dança no outono
mas nunca se perde do vento que a leva.
Se o tempo te apagar, eu reescrevo-te no céu,
desenho-te na poeira dourada do universo,
escondo-te nas notas de uma canção
que só os corações partidos conseguem ouvir.
E se fores apenas um sussurro no vazio,
eu gritarei o teu nome ao infinito,
até que o eco da minha alma
te encontre e te traga de volta a mim.
Pois amar é ser morada e tempestade,
ser porto seguro e furacão.
É saber que mesmo sem asas,
encontraremos sempre uma forma de voar.
Caminharei,
mesmo que o chão desabe,
mesmo que o vento me arraste para longe,
pois o amor é uma âncora invisível
e tu és o meu norte,
o meu mapa,
o meu farol na névoa do mundo.
Seremos super-heróis,
não por termos poderes,
mas por enfrentarmos a vida
de mãos dadas,
com os corações a arder
como constelações antigas
que nunca deixam de brilhar.
E se um dia já não houver palavras,
se a minha voz se perder no tempo,
basta olhar para o céu—
porque estarei lá,
numa estrela que nunca se apaga,
num vento que te sussurra ao ouvido:
"Eu estou aqui. Eu sempre estarei aqui."