Não É Carne Nem Sangue, É Coração
O que verdadeiramente faz de um homem um pai não são os laços do sangue, mas antes uma ligação invisível, intangível, mas profundamente sentida e vivida. É uma ligação feita de tempo, de gestos, de amor silencioso, de presença constante, mesmo nas ausências inevitáveis. E é exatamente isso que vejo em ti: não apenas o pai dos nossos filhos, mas o farol que lhes ilumina o caminho, sem nunca lhes roubar o leme.
Pergunto-me, tantas vezes, o que é que os nossos filhos herdam de ti, para lá da genética, e percebo que lhes ofereces o que de mais precioso há neste mundo: o teu tempo, o teu cuidado meticuloso, o teu amor discreto mas inabalável, e essa tua capacidade de cultivar neles uma tranquilidade na vida, nos outros, e sobretudo neles próprios.
És um pai sábio. Daqueles que têm a lucidez de entender que educar não é prender, não é moldar à força, mas orientar, com firmeza e ternura, deixando que os erros aconteçam, permitindo que neles cresçam lições que nenhuma advertência conseguiria ensinar. Nunca foste âncora que os prenda, nem vela que os leve sem rumo. És, sim, uma luz. Uma luz que guia, sem impor, que mostra o caminho sem empurrar, que está sempre lá, mesmo quando parece afastada, como uma estrela que nunca se apaga.
Recordo-me de quando, em pequenos gestos do quotidiano, os nossos filhos seguravam a tua mão para atravessar a rua ou enfrentar os seus medos. Hoje, percebo que, mais do que a travessia literal, lhes ensinaste a atravessar as encruzilhadas da vida com coragem e confiança. E mesmo agora, crescidos, continuam a dar-te a mão, porque sabem que, ao teu lado, qualquer obstáculo parece menor.
É um privilégio imenso e um orgulho silencioso poder partilhar a vida contigo e ver-te ser pai. Não é a carne, nem o sangue, que define um pai. É esse amor que vive no teu coração, essa coragem de educar, de doar-te sem reservas, de seres presença sólida e ao mesmo tempo leve, de seres refúgio e impulso.
Sinto-me verdadeiramente rica — e sei que os nossos filhos também o sentirão, um dia, quando olharem para trás — por ter ao meu lado um homem que, podendo ter pouco materialmente, oferece-lhes uma riqueza incomensurável: a tua bondade, a tua firmeza, a tua capacidade de amar sem precisar de palavras excessivas, porque tudo está nos gestos.
Sei que, muitas vezes, dizemos “amo-te” com a frequência que devemos. Sei que há silêncios, atrasos, convites que ficam por responder, palavras adiadas, visitas mentais que prometo e não cumpro. Mas há algo que nunca duvides: não há um dia em que não sinta gratidão profunda pelo pai que és para os nossos filhos e pelo homem extraordinário que és para mim.
Peço-te paciência pelas minhas faltas, compreensão pelos meus silêncios, mas prometo que, enquanto Deus permitir, farei tudo para retribuir-te, não só pelo pai que és, mas pelo ser humano íntegro que me faz crer que os maiores presentes não se compram.
Hoje, no dia de São José — símbolo por excelência da paternidade silenciosa e forte — celebro-te, não apenas como pai dos nossos filhos, mas como o homem que me ensina, todos os dias, que ser pai é, acima de tudo, um acto contínuo de amor e entrega. Que este dia, e todos os outros, sejam felizes, com a nossa família linda unida como tem sido até o dia de hoje, não sei o futuro, sei que te amamos.