Uma Semana Sagrada em Mim

 Esta semana não começou apenas com um novo ciclo de dias, mas com um renovar da alma. Há gestos que, embora simples, se tornam fundações de tudo o que somos — e o primeiro tem sido este: oferecer o meu dia ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Não como um ritual vazio, mas como um acto vivo de entrega consciente. Entrego-lhes as minhas alegrias, sim, mas também os meus medos, as dores que teimam em permanecer em silêncio, e as tribulações que tantas vezes se disfarçam de pequenas inquietações.

Neste acto de entrega reside uma sabedoria antiga: reconhecer que não caminho só. Quando peço ao Espírito Santo que fortaleça os seus dons em mim — sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus — não o faço apenas para mim, mas para que, em mim, o outro também encontre abrigo. Tenho buscado com mais intenção que cada pessoa que se cruza no meu caminho se sinta vista, ouvida, acolhida. Que o meu olhar não seja julgamento, mas espelho; que as minhas palavras não sejam imposição, mas ponte.

A minha mente inquieta, sempre em busca de mais — mais sentido, mais profundidade, mais verdade — tem aprendido a ser também tranquila. Porque a verdadeira inquietação não é barulho, é chama: aquela que ilumina sem consumir, que aquece sem queimar. Aprender a amar mais não tem sido um destino, mas um caminho: às vezes leve, outras vezes árido, mas sempre revelador. Aprender a amar mais é aprender a ver para além do que é imediato, a escutar o que não é dito, a abraçar o que é imperfeito.

Sinto que estou a ser moldada por dentro. Como quem é esculpida por mãos invisíveis que conhecem melhor do que eu mesma aquilo que posso ser. Não é uma transformação ruidosa, mas uma metamorfose silenciosa, feita de pequenas escolhas, de oração discreta, de presença plena.

Neste processo, a fé deixou de ser um lugar onde me refugio apenas na dor, para ser uma casa onde habito também na alegria, na aprendizagem, no quotidiano. Porque espiritualidade não é fuga, é mergulho. Mergulho no real, com olhos de eternidade.

O mundo pode ser tumultuoso, sim. A vida pode ser exigente. Mas há um silêncio habitado em mim que se fortalece a cada manhã, quando reconheço que nada do que faço é por mim ou para mim apenas. Há um propósito maior a tecer os dias. E isso torna esta semana — esta simples semana — não apenas importante, mas sagrada.

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