O Silêncio Onde Me Encontrei
Por sendas ásperas vaguei,
com os passos gastos de ausências,
a alma descalça de paciências,
e o tempo, um eco que não escutei.
Procurei, com sede insaciável,
nas promessas vãs do ruído,
um sentido irrevogável
que me resgatasse do perdido.
Busquei em vozes ocas,
em ideais de brilho febril,
mas eram sombras ocas,
onde tudo acabava fútil.
E então — não sei se por cansaço
ou por uma graça imprevista —
parei, e no mais íntimo espaço
ouvi uma nota nunca antes ouvida.
Não era um chamamento estridente,
nem um clarim de revelação,
mas um silêncio surpreendente
com timbre de libertação.
Descobri-me no meio do caminho,
não por ter chegado a um lugar,
mas por ter cessado o desalinho
de querer sempre alcançar.
A paz não veio como conquista,
nem como prémio ou solução;
chegou como quem assiste
ao desabrochar da aceitação.
Agora sou brisa, e sou pedra,
sou pausa no compasso do mundo.
Habito o instante, sem pressa,
num viver mais íntimo e profundo.
Não me movo por urgência,
nem por metas traçadas a régua.
Movo-me com a fluência
de quem sabe que nada nega.
E escrevo — não por vaidade,
nem por fome de glória ou nome —
mas porque a serenidade
também deseja corpo e pronome.
Se me perguntarem que loucura
é esta de falar com o papel,
direi: é que a alma, quando se cura,
só quer dançar no que é fiel.