Pensamentos...
Há um ruído constante no mundo. Um
zumbido insistente que se confunde com discurso, mas que nada diz. Palavras lançadas ao vento como confetes num funeral – coloridas, inúteis, deslocadas. Vivemos tempos onde falar tornou-se acto automático, quase um reflexo nervoso. A língua move-se antes que o pensamento amadureça. O verbo perdeu peso; flutua, leve e vão, sobre multidões que confundem expressão com sabedoria.É curioso – ou talvez trágico – como aqueles que realmente contemplam, aqueles que se debatem em silêncio com ideias profundas, muitas vezes se retraem. Não por medo de falar, mas por pudor de despejar grandeza em ouvidos que a não merecem. O pensamento verdadeiro, quando nasce, é tímido, é frágil. Precisa de tempo, de espaço, de escuta atenta. Mas o mundo moderno está ocupado demais a berrar para saber ouvir.
Há, no entanto, uma raça de faladores profissionais. Não pensadores, não criadores – apenas transmissores de banalidades polidas com arrogância. Estes falam com a confiança de quem nunca duvidou de nada, e com a impunidade de quem nunca teve de escutar. Os idiotas, os convencidos, os vazios ornamentados de certezas: esses falam. E falam muito. Constroem castelos de areia em cima da palavra alheia, enchem auditórios, ocupam púlpitos, alimentam algoritmos. Não precisam ter razão – apenas volume.
O paradoxo é pungente: os que deveriam falar, calam-se; os que nada têm a dizer, dominam o espaço sonoro. E assim, o silêncio dos lúcidos transforma-se em conivência involuntária. É o preço de uma sensibilidade que hesita, que pondera, que não se satisfaz com respostas fáceis. Mas talvez estejamos a pagar caro demais por tanta delicadeza.
Talvez tenha chegado o tempo de romper o silêncio com elegância brutal. De abandonar a modéstia excessiva do pensamento e resgatar a palavra como arma, como semente, como fúria criadora. Pensar e dizer – dois verbos que não deveriam caminhar separados. A verdade não precisa de gritar, mas também não pode sussurrar eternamente.
Que falem, então, os que pensam. Que escrevam os que sentem. Que se levantem os que observam com olhos claros e não apenas com bocas abertas. Porque a realidade já está demasiado cheia de sons – o que falta é sentido.