O poder do “não” e o valor de estar presente: um testemunho de amor e consciência
Vivemos tempos em que o “não” parece sempre pedir desculpas por existir, como se fosse necessário envolver cada recusa em camadas de justificações para que seja aceite. Mas, na realidade, o “não” é, por si só, uma afirmação completa – um acto de coragem e clareza. É a expressão autêntica de quem compreende que os limites são, mais do que uma recusa, uma forma de amor-próprio, de respeito pelos outros e, acima de tudo, de respeito pelo que verdadeiramente importa.
Na semana que findou, senti, de forma particularmente intensa, o peso e, simultaneamente, a graça de saber dizer “não”. Terminava o primeiro ciclo do meu filho – um marco tão simbólico quanto real, um fecho de capítulo que carrega memórias de descobertas, medos ultrapassados e vitórias silenciosas. Era inevitável: o coração pedia-me para estar ali, de corpo inteiro e de alma presente, e não apenas como espectadora apressada de um momento irrepetível.
Disse “não” a reuniões, disse “não” a compromissos que poderiam ser adiados, disse “não” até a pensamentos de culpa por não conseguir fazer tudo ao mesmo tempo. Esse “não” foi, na verdade, um “sim” maior: um sim ao meu filho, à família, ao tempo de qualidade que se constrói não nas sobras da agenda, mas na escolha deliberada de estar. Troquei horários, redesenhei dias, e nessa dança silenciosa entre responsabilidades e afectos, descobri mais uma vez a força transformadora da palavra “não”.
Naquela festa de final de ano, vi espelhado nos olhos do meu filho o valor inestimável de ter a mãe ali, presente, sem pressas nem distrações. E nesse instante, percebi como cada “não” dito fora do caminho abriu espaço para um “sim” que tinha muito mais significado.
Aproveito este testemunho para expressar a minha mais profunda gratidão à senhora professora Ana – uma profissional exímia, mas, acima de tudo, uma mulher extraordinariamente humana, delicada e humilde. Alguém que ensina muito para além dos conteúdos programáticos: ensina pelo exemplo, pelo cuidado e pela serenidade com que guia cada criança. É um privilégio raro encontrar professores que educam o coração ao mesmo tempo que educam a mente, e a senhora professora Ana é, sem dúvida, uma dessas raridades.
Para já, divulgo apenas o nome da professora, mas não poderia deixar de registar o meu reconhecimento público pelo seu trabalho, dedicação e generosidade. Em breve, partilharei também o nome do estabelecimento escolar e do agrupamento, pois sei que a excelência deve ser celebrada e reconhecida. Mesmo eu tendo tornado-me antagonista e nunca ter existido aproximação vi o que nunca vi antes, e ela fez a diferença no meu filho.
Esta experiência recordou-me, com humildade, que o “não” não é um acto de rejeição; é, muitas vezes, a maior prova de amor que podemos oferecer. É a escolha consciente de proteger o que é essencial, de não permitir que as urgências do mundo abafem o que realmente nos define.
Deixo esta reflexão a quem, como eu, tantas vezes sente a tentação de justificar cada recusa: lembra-te de que a tua palavra tem valor. Diz “não” quando for preciso, sem culpa nem desculpas. É nesse gesto, aparentemente simples, que reside o poder de seres inteira, coerente e fiel ao que mais amas.
Pensa nisto. Porque há momentos que não voltam – e nenhum trabalho, por mais importante que pareça, substitui a alegria nos olhos de um filho ao ver que estiveste ali, presente, de verdade.
Com o coração cheio,
Uma mãe