Mensagens Enigmáticas

 Desde setembro, minha vida foi invadida por uma presença digital misteriosa, uma entidade que se manifesta diariamente através de mensagens e emails. Essa figura, ou figuras, se apresenta como uma única pessoa, mas os múltiplos números de telefone e endereços de email, juntamente com a cacofonia de erros ortográficos, me fazem duvidar da autenticidade dessa identidade. Há uma comicidade velada em toda essa situação, uma espécie de entretenimento macabro que me faz rir quando deveria me preocupar.

O que inicialmente parecia ser apenas uma irritação trivial, tornou-se um enigma que ocupa minha mente. Essa pessoa, ou talvez um grupo de pessoas, se esforça para ofender-me, mas a verdade é que me divirto com as tentativas de provocação. A ironia é palpável: a intenção de magoar esbarra na minha indiferença, transformando o que deveria ser uma agressão emocional em um espetáculo bizarro que observo com fascínio.

Não posso negar que há uma certa arte nas mensagens que recebo. É uma mistura de insultos e confusão gramatical que, de alguma forma, forma uma narrativa própria. "Mentirosa, aldrabona, manipuladora, puta" – são palavras que se repetem com uma regularidade quase melódica. Cada adjetivo pejorativo é como uma peça de um quebra-cabeça caótico que tento montar. E quando a pessoa se irrita, a comédia atinge seu clímax: é a frustração do agressor diante da impassividade da vítima.

O mais curioso é a natureza flutuante do tom das mensagens. Em um momento, sou uma "parasita da sociedade"; no outro, uma figura digna de "paixão" e "admiração". É um ciclo sem fim de insultos e declarações contraditórias que me deixam a pensar: será que estou lidando com um adolescente desajustado, alguém com distúrbios mentais, ou talvez um artista performático perdido na era digital?

Durante minha peregrinação, as mensagens diárias tornaram-se quase rituais. Era como receber um sermão tortuoso e emocional, cheio de acusações infundadas. "Não sabes ser mãe, vão tirar o teu filho", diziam. Eu, por minha vez, apenas sorria diante da tela, imaginando a ira do remetente ao perceber minha falta de reação. E mesmo quando respondo, a resposta não difere: a cascata de palavras continua, inabalável.

Há algo de quase cômico na necessidade de decifrar o que está escrito, como se fosse um quebra-cabeça linguístico. Cada mensagem é uma nova aventura, uma nova oportunidade de me divertir com o grotesco. E, de alguma forma, comecei a apreciar os apelidos criativos e os ataques mal formulados. "Parasita da sociedade" tornou-se quase um termo carinhoso, um lembrete diário da estranha conexão que estabelecemos.

Em última análise, essa troca bizarra de mensagens é um reflexo da era digital em que vivemos: uma época em que as identidades são fluidas, os insultos são lançados através de pixels e a realidade se mistura com a ficção. Eu, por minha vez, continuarei a observar esse fenômeno com um misto de curiosidade intelectual e diversão sarcástica. Afinal, na grande comédia da vida, até mesmo os trolls têm seu papel a desempenhar.




Texto escrito com muito amor dedicado a uma pessoa muito especial.




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