Desconcertante
Detesto ir às compras. Incrível como sempre acabo com uma história para contar. Era um dia como outro qualquer no Pingo Doce, e lá estava eu, perdida pelos corredores, quando uma senhora com seus setenta e muitos anos se aproxima e me pede auxílio.
– Sabe me dizer quanto custa este roll-on? – pergunta ela, estendendo um pequeno frasco.
Olhei para o produto e, com surpresa, percebi que era um lubrificante feminino. Como, em nome de todos os deuses do supermercado, vou explicar àquela senhora que aquilo não era um roll-on?
Com um sorriso forçado, respondi:
– Minha senhora, isso não é um roll-on. É para colocar... por baixo.
Ela, com toda a indignação de uma matriarca que sabe das coisas, retruca:
– Eu sei! É para as axilas!
Eu, tentei manter a compostura e a paciência, insisto:
– Não, minha senhora. É para a zona íntima.
Ela olha para mim, confusa:
– Íntima? As axilas?
Suspirei profundamente, preparei-me para a verdade nua e crua.
– Não, minha senhora. É para a vagina.
Ela, agora completamente escandalizada, exclamou:
– Sua ordinária! Ponha você!
Respirei fundo e, com a calma que só alguém à beira do surto poderia ter, respondi:
– Minha senhora, ainda não preciso!
Isso pareceu deixá-la ainda mais furiosa.
– Eu também não! – respondeu ela, a voz tingida de uma indignação anacrônica.
Eu, exasperada, tentei ser prática:
– Então compre um roll-on, que é mais barato.
Ela, ainda arrelhada, decide perguntar a um jovem adulto que passava por ali. Ele, com a simplicidade brutal de quem não tem filtros, responde sem pestanejar:
– Olhe, isso põe-se na rata.
E foi assim que eu saí do Pingo Doce com uma nova história para contar, a sensação de que o mundo do varejo é um espetáculo tragicómico, e a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, sempre me deparo com a hilaridade do inesperado.