O Milagre do Caminho
Rumo ao Santuário de Fátima: A Minha Jornada de Fé
Cada passo que darei nesta peregrinação é um grito de fé, um eco da minha alma para o céu. Este ano, mais do que em qualquer outro, sinto que este caminho guarda algo especial. Talvez seja o último, talvez seja o mais significativo. Ninguém sabe o futuro, mas sei que o presente carrega em si a centelha divina do propósito. Vou, não apenas pelos meus próprios anseios, mas como mensageira de Fátima, levando comigo os pedidos, as dores, as esperanças e os sonhos de tantos que confiam em Nossa Senhora.
Curioso como Deus escreve nas linhas que a nossa humanidade considera tortas: quem diria que desta vez seria acompanhada por alguém tão especial, uma moça afável, cheia de vida e bondade, com quem terei a honra de partilhar esta jornada? Não lhe disse ainda, talvez deva… Talvez quando os nossos pés alcançarem o Santuário, quando o manto espiritual de Maria envolver cada um dos peregrinos, encontre as palavras para lhe contar quão significativo é este ato de caminharmos juntas. Até lá, guardo a gratidão no coração, porque mesmo nos muros que por vezes construí em volta da minha vida, Deus envia almas puras e destemidas que ousam saltá-los, relembrando-me de que o amor é mais forte do que qualquer barreira.
Enquanto me preparo para a jornada, há em mim uma expectativa doce e audaciosa: a esperança de reencontrar o meu filho à chegada, talvez Deus coloque no nosso caminho quem o leve lá. Espero que sim, que este ano uma pessoa que gosto imenso consiga ir e leve meu filho com ela. Se ela for com seu esposo leva o meu esposo e meu filho com ela. Ela disse-me que vai tentar. Imagino-o ali, na Retunda dos Pastorinhos, de mãos prontas para entrelaçar nas minhas, caminhando juntos no Santuário, como uma oração viva, uma promessa cumprida. Visualizo o calor dos peregrinos à nossa volta, os cânticos elevando-se como incenso até o trono de Deus, e nesse momento, sinto que não caminharei só: levo comigo o amor dos céus e o dos que me aguardam aqui na terra.
Esta peregrinação não é uma simples caminhada; é uma entrega. Na mochila, carrego o que é visível: roupas, água, talvez uma fotografia ou outra que me lembre da família linda que deixo temporariamente. Mas o que verdadeiramente pesa é invisível: as preces dos meninos da catequese, cada pedido cheio de confiança infantil no poder de Nossa Senhora; as súplicas dos amigos e das suas famílias, os seus desejos sinceros, muitos tão escondidos nos cantos do coração que nem eles conseguem verbalizar plenamente. Vou como serva, com a convicção de que Maria, nossa mãe celestial, tomará cada intenção nas suas mãos e apresentará ao seu filho, Jesus, os clamores daqueles que confiaram em mim. Custa-me a despedida. Amo a minha família de uma forma tão visceral, tão profunda, que a saudade chega antes mesmo da partida. Sei que eles também sentirão a minha ausência, especialmente o meu filho, mas esta é uma oportunidade de preparação, para que ele compreenda que, por vezes, o amor exige renúncia, exige entrega, amamos mesmo quando partimos por pouco tempo ou para sempre. Mas amamos sempre! Não o deixo sozinho, deixo-o com a certeza do meu regresso e com a fé de que, mesmo distantes fisicamente, estaremos espiritualmente unidos.
Em cada passo que darei, haverá dor física, cansaço, talvez até dúvida. Mas onde o corpo hesita, o espírito ergue-se mais alto. Em cada quilómetro, lembrarei o porquê desta peregrinação. Em cada canto à Senhora de Fátima, verei que não sou só uma peregrina; sou um veículo de fé. Tenho a certeza de que no Santuário experimentarei uma união tão profunda com o divino que cada lágrima valerá a pena. E quando a jornada findar e os sinos do Santuário ecoarem, quero estar em silêncio por um instante. Quero sentir cada lágrima queimar o rosto, não por tristeza, mas por ter sido digna de trilhar este caminho com amor, por ter carregado as orações alheias até aos pés da Virgem Maria. Quero que cada coração sincero que acreditou na intercessão celestial seja tocado por milagres, grandes ou pequenos, segundo a providência divina.
Esta peregrinação, para mim, é mais que uma promessa; é um pacto. É um renovar da fé, um ato de coragem, um grito de amor. Se alguém deseja juntar-se a mim, avançar nesta jornada, saiba que estará a juntar-se a algo maior que nós: ao mistério da entrega, ao calor da comunhão, à força de uma fé viva que ultrapassa qualquer obstáculo.
Caminho para Fátima de coração aberto, sem reservas, sabendo que nesta jornada as maiores bênçãos vêm da entrega mais genuína. Carrego comigo as vozes, os anseios e as esperanças de muitos. Confio que Maria intercederá. E na certeza desse amor que nunca falha, avanço. Em Maio partirei se Deus quiser.