O Erro Fatal

 As peças de um puzzle, à primeira vista desordenadas, desafiam-nos com o mistério do que falta, do que não conseguimos enxergar. Às vezes, por dias, meses ou até anos, o quadro da nossa vida permanece incompleto, como se aguardasse o momento exato em que um detalhe, uma palavra, se encaixasse e revelasse o todo. A clareza não vem do caos, mas de um instante inesperado – uma frase dita, ou mais potente ainda, uma frase escrita, direcionada a nós, como um golpe preciso na inércia dos pensamentos.

"Parece uma senhora."

Foi isso. Três palavras e o eco que desencadearam mudou tudo. Como se, de repente, um fio perdido fosse puxado, desvendando um desenho não abstrato, mas concreto, quase cruel. Olhar para esse auto-retrato, construído por pinceladas que antes julgávamos irrelevantes, exige coragem. Primeiro, negamos. Depois, enxergamos. Reconhecemos. Até em reflexos fugazes no espelho. Uma vergonha que não deveria ser nossa, mas é. Pior que isso: uma vergonha usada e moldada como arma por outros, tão confortáveis no manuseio de palavras quanto desajeitados na compreensão do que ferem.

E aí está o paradoxo: o erro parece ser um arte. Um jogo minucioso de “enganos” que se entrelaçam – no nome, no endereço, no olhar cúmplice. Estratégia ou acaso? Não importa, porque cada detalhe fere de formas que só nós conhecemos. Tudo isso para quê? Para um discurso onde se tenta impor limites por meio da manipulação de medo e consequências.

Lembra-te do que disseste, junto à biblioteca, a extrair verdades como quem cava raízes em terreno estéril:

"Se apresentarem queixa, saem as duas a perder."

Um conselho dado no âmago de uma teia de interesses que te escapa, mas te prende. Irónico. Queres parecer neutra, talvez justa, mas os santos não se cruzam. Os teus olhos, tão habituados aos jogos de sombra, revelaram mais do que palavras. Mas no jogo da sobrevivência há algo que os outros ainda não aprenderam: nem sempre podemos escolher o terreno, mas podemos redesenhar os limites. As rotinas mudaram, as alianças também. E onde antes habitava hesitação, agora vive clareza.

E então chega o último erro, o erro fatal: o número na mensagem final. Cada descuido tem seu peso, e este trouxe consigo não só a confirmação daquilo que já suspeitávamos, mas um catalisador para ações futuras. No final, o puzzle torna-se mais claro. Não porque não é abstrato, mas porque, enfim, o tornámos inteligível. A história continua, mas agora nas tuas próprias palavras e no teu ritmo.

E esse é o grande engano deles: acharem que controlam a narrativa.

Quero paz, chega, já não estão nas sombras atrás do écran. Já que lêem compreensão para o que escrevi. O silêncio tem um preço, quero paz.

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