Resistir Sendo Eu
Ainda me lembro do dia em que comecei a perceber o peso das opiniões alheias. Não porque essas opiniões fossem necessariamente acertadas, ou mesmo construtivas, mas porque havia algo nelas que insistia em se cravar na minha pele como espinhos de uma roseira selvagem. Diziam que eu era "demasiado". Demasiado intensa, demasiado expressiva, demasiado diferente. Outros argumentavam que, afinal, eu era "demasiado pouco": pouco conformista, pouco dócil, pouco semelhante ao que esperavam que eu fosse.
Parei um instante e refleti. Não estava perante uma questão de "demais" ou "de menos", mas sim perante um conflito essencial: o de existir fora do padrão, de ser um desvio feliz das linhas que a sociedade insiste em desenhar. E que dor é, para muitos, encontrar quem se atreva a viver assim — sem pedir desculpa pela autenticidade. É nisso que reside a razão de tanto ódio, de tanto incómodo que, não raras vezes, é expresso sob a forma de críticas, ataques ou juízos.
Oiço: “Ela não é assim. Não pode ser assim.” Mas digo a mim mesma, sem hesitação: sou assim. Gosto de ser assim. Lutei arduamente, através de lágrimas, frustrações, quedas e recomeços, para aceitar e melhorar a mulher que sou. Há algo de precioso em reconhecer a nossa sombra, as nossas imperfeições e usá-las como alicerces de virtudes. É o trabalho de uma vida. E que direito tem outro de me dizer o que devo ou não ser, quando só eu carrego o peso da minha existência?
Dá-me força pensar no caminho que percorro. Não é um trajeto reto, nem é forrado de aplausos. Muitos evitam esta estrada porque é íngreme e feita de dúvidas, porque dói como dói arrancar espinhos que outros insistem em cravar na alma. Mas também é uma caminhada onde a liberdade dança com o propósito. Abraço-me completamente, com a imperfeição que me define, sabendo que as cicatrizes que carrego são, no fundo, medalhas da coragem de viver como sou, sem máscaras, sem me dobrar ao desejo alheio de que seja menos.
Esforço-me por ouvir as críticas que valem a pena, aquelas que não me derrubam mas que constroem pontes para o meu crescimento. Porém, não darei peso ao ruído tóxico de quem me vê apenas como um espelho do que não consegue ser. Há algo de revolucionário em existir e aceitar-me nos meus próprios termos, em querer ser melhor sem nunca deixar de ser fiel à minha essência.
É fácil falar, mas como dói viver esta realidade. Sinto a garganta apertar tantas vezes, porque as palavras de desdém são como gritos no silêncio: interrompem-me, tentam calar-me. E, mesmo assim, escolho manter-me firme. Escolho levantar-me, ainda que as pernas tremam. Escolho ser a pessoa que lutei tanto para me tornar, não porque é fácil ou confortável, mas porque é autêntico.
Aqueles que me julgam, que insistem em medir-me pelo tamanho da sua própria limitação, talvez nunca compreendam que a minha força não reside em ser perfeita, mas em transformar as minhas falhas em lições, as minhas quedas em passos, a minha vulnerabilidade em poder.
Continuo, pois, a erguer-me contra o ódio gratuito, sabendo que cada dia que vivo e me aceito é uma pequena vitória no grande palco da autenticidade. Que mais posso fazer senão continuar a ser quem sou? Num mundo que tenta anular quem ousa ser diferente, viver plenamente é, em si, um ato de resistência.