Entre Muros e Pontes: O Valor de Escolher Bem
A vida, com a sua sabedoria misteriosa, é uma tapeçaria de encontros e despedidas, um bordado perfeito de experiências que, à primeira vista, podem parecer meras coincidências, mas revelam-se inevitáveis à medida que cresço e evoluo. Não foi por acaso que me tornei mais seletiva, nem que aprendi a filtrar cuidadosamente quem permito que entre no meu mundo. Não é uma rejeição ao outro, mas uma proteção de mim mesma, do que construí com tanto esforço e cicatrizes.
As minhas vivências ensinaram-me que o confiar cegamente tem um preço elevado. Não foi a dureza que me moldou, mas a realidade – um conjunto de lições cruas e necessárias que me obrigaram a crescer, a olhar mais profundamente, a questionar intenções. Cada decepção que enfrentei trouxe-me uma nova perspetiva, fez-me compreender que preservar o meu interior não é um sinal de fraqueza, mas uma demonstração de amor-próprio. Já não vejo o mundo com ingenuidade, mas com lucidez. E isso mudou tudo.
Porém, ao mesmo tempo que fecho portas ao superficial, abro janelas ao essencial. Ser seletiva não é erguer muros intransponíveis, mas colocar filtros que me protejam de relações vazias. O que ofereço aos outros é genuíno, e por isso guardo-o para quem prova merecer, para quem vem com verdade, respeito e intenção. Estas escolhas não são isolamento; são um caminho para valorizar as conexões profundas que realmente importam.
E quando encontro essas almas raras, algo muda em mim. Descubro amigos que entendem os meus silêncios, amores que refletem a melhor parte de mim, pessoas que iluminam o meu caminho quando tudo parece sombrio. São estes encontros, apesar da minha cautela, que reafirmam que o mais belo da vida está na partilha autêntica, na cumplicidade genuína, no respeito mútuo. Aprendi que as pessoas certas não invadem o nosso espaço, mas ocupam-no suavemente, respeitando os nossos limites e celebrando a nossa essência.
Sim, não confio facilmente, mas isso não significa que o meu coração esteja fechado. Pelo contrário, ele está preparado para acolher quem vem por bem, quem chega com luz e intenção sincera. Sei o que mereço, sei que, no meio das sombras da desilusão, ainda existem pessoas que se destacam, que oferecem um abrigo seguro em forma de amizade, de compreensão, de amor. Essas, eu escolho com cuidado, porque sei que não é a quantidade de relações que nos define, mas a profundidade delas.
Ser cautelosa não me torna fria; torna-me mais consciente. Ser seletiva não me isola; ensina-me a valorizar quem fica. Não confiar cegamente não me enfraquece; fortalece-me. Porque a vida, essa professora implacável, ensinou-me que mesmo nos caminhos mais difíceis, há uma beleza incomparável em encontrar quem nos entende como somos, nos valoriza e nos ajuda a ser a melhor versão de nós mesmas. E esses, poucos mas preciosos, são os que tornam tudo isto verdadeiramente válido.