Espaço Meu

 Para ti, que gostas imenso de mim e que tens esse hábito – carinhoso, por vezes, invasivo – de opinar, mesmo quando não te pedi. Para ti, que queres constantemente entender, ajustar ou sugerir o que fazer, como me comportar, como viver. Quero deixar claro, desde já: este espaço é meu. Ele não exige permissões nem está à espera de aprovação, muito menos de conselhos que eu não busquei. Aqui, escrevo quando quero, sobre o que quero, da forma como quero. Este é o meu território, aquele onde as palavras ganham vida sem as amarras de expectativas ou de julgamentos alheios.

É importante para mim deixar claro isso – não por desrespeito, mas pelo simples fato de que, ao escrever, estou a fazer algo de íntimo, algo que pertence a um só: a mim. Se isto te incomodar, tudo bem. Se precisares entender o que escrevo, compreendo. No entanto, se optares por me acompanhar, fico feliz. Mas, antes de mais, lembra-te de que este espaço não foi feito para opiniões não solicitadas, não foi feito para modificar aquilo que sou ou como vejo o mundo. Este é um lugar onde expresso a minha essência, não a tua visão sobre ela.

Não aceito viver aquém do que sou. Não aceito sapatos que apertam os meus passos, vestidos que sufocam a minha liberdade ou anéis que restringem a minha essência. Não aceito qualquer coisa que peça de mim o sacrifício da minha plenitude em troca de pertencimento. Isso porque conheço o valor intrínseco que me foi dado, e esse valor não se negocia, não se ajusta, não se reduz – porque ele vem de Jesus, que me criou para ser inteira, e não fragmentada.

Jesus, na sua infinita bondade, nunca me pediu que me encolhesse ou que me moldasse aos padrões do mundo. Pelo contrário, Ele revelou-se como aquele que resgata, que liberta, que alarga os horizontes da nossa existência. Ele veio para que tenhamos vida em abundância, e essa abundância começa no respeito por quem somos, na dignidade que nos foi dada ao sermos criados à imagem e semelhança de Deus. Aceitar menos do que isso – aceitar moldes que apertam, lugares que nos diminuem – é, em certa medida, esquecer essa verdade eterna: somos filhas preciosas de um Deus que nos fez únicas.

Quando Jesus andou neste mundo, Ele não se aproximou para ajustar pessoas às expectativas sociais ou para reduzi-las ao que os outros esperavam delas. Ele ampliou vidas. Ele ergueu quem estava caído, curou feridas, libertou quem era aprisionado – tanto no corpo quanto na alma. Ele foi à casa de Zaqueu, porque via valor além das opiniões; Ele encontrou a mulher samaritana no poço e ofereceu-lhe a água viva; Ele se deitou ao chão para proteger a mulher acusada de adultério. Ele enxergou cada pessoa na sua totalidade, não como o mundo queria que elas fossem, mas como Deus as havia feito para ser.

E se Jesus, o Filho de Deus, nunca pediu que fôssemos menores do que somos, quem pode ousar fazê-lo? Quem pode pedir-me que aperte os meus passos, diminua a minha voz ou esconda o brilho que Ele mesmo me deu? Não aceito presentes que carreguem a insinuação de que eu deva caber num espaço que não me honra. Não aceito que relacionamentos, papéis ou convenções me tentem convencer de que tenho que abrir mão da liberdade que Cristo conquistou para mim.

Jesus chamou-nos à verdade – não só à verdade sobre Ele, mas à verdade sobre quem somos n’Ele. Somos chamadas a caminhar com sapatos que não ferem, vestidos que não esmagam, alianças que não nos prendem, porque Ele nunca quis que a nossa existência fosse dolorosa ou submissa à tirania do mundo. Ele nos chamou a sermos livres, e onde há liberdade, há amor, respeito e dignidade.

Portanto, não aceito que diminuam o espaço que ocupo no mundo, porque sei que esse espaço foi reservado por Deus. Sei que fui criada de forma maravilhosa, e nenhuma expectativa ou limitação humana pode apagar isso. Não cabe ao mundo determinar o meu tamanho; cabe a mim viver à altura do chamado que recebi, na integridade e plenitude de ser mulher, filha e seguidora de Cristo.

Quando digo “não” ao que me aperta, quando recuso o que tenta me moldar ao que não sou, não estou apenas respeitando-me – estou honrando aquele que me criou. Jesus ensinou-nos a amar o próximo como a nós mesmas. E como poderei amar verdadeiramente o outro se primeiro não aprendi a amar-me? Amar-me não é vaidade; é reverência pelo dom da vida que recebi. É reconhecer a obra do Criador em mim e não permitir que ela seja deformada para agradar a uma visão limitada.

A ti que me lês, deixo-te esta reflexão: Jesus nunca diminuiu ninguém que encontrou no seu caminho. Ele não impôs limites, não pediu que nos comprimíssemos para caber. Ele olhou-nos e viu plenitude. E agora, quando alguém te pedir para seres menos – menos forte, menos autêntica, menos expansiva –, lembra-te disso. Não foste criada para caber, mas para expandir-te, crescer, ocupar plenamente a vida que Ele te deu.

Dizer “não” ao que não nos respeita é um ato de fé. Fé naquilo que somos, naquilo que recebemos de Deus e naquilo que podemos ser. Recusar o pequeno não é arrogância; é reconhecer que somos filhas de um Rei, e que só merecemos o que honra essa verdade. Somos amadas, somos plenas, somos livres – e nada menos do que isso nos serve.

Não mudei. Talvez tenha ficado mais cautelosa, mais atenta, talvez erguido alguns muros, mas a mulher que escreve aqui sou eu, exatamente aquela que sempre fui, só que mais cuidadosa no seu próprio processo. E, sim, mantenho a mesma fé no sítio certo, o sítio que Deus me indicou, onde Ele traçou o caminho – uma fé inabalável nas lições que Ele me deu, nas direções que Ele me mostrou. Quando ajoelho para orar e digo, com o coração a transbordar: “Senhor, eu não sou digna de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salva,” é um momento de entrega. Ali, não há insegurança, apenas confiança.

Aqui, neste espaço onde as palavras se encontram, é onde digiro, reflito, e transformo cada momento em algo que me liberta. E não, não estou a fugir do que me aconteceu, nem a minimizá-lo; estou simplesmente a torná-lo leve com humor, com as palavras que me tiram o peso. Ao rir daquilo que me faz chorar, encontro a liberdade. A Missa, com suas orações, também me ensina esse caminho – de aceitar, de receber, de saber que até no mais doloroso, Deus está comigo.

Então, sim, este espaço é meu. E continuo a escrever, a partilhar, a sentir e a transformar tudo aquilo que passa por mim. Para que a cada palavra, eu esteja mais próxima de quem realmente sou, mais próxima de Deus, mais próxima da paz que tanto busco. Porque não preciso que nada ou ninguém me diga como ser. Eu já sei quem sou. E, com a graça de Deus, o espaço será sempre meu.

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