O segredo da saudade.

 As maiores saudades não se encontram em fotografias antigas ou em postais envelhecidos pelo tempo. Não residem em objectos, por mais impregnados de memórias que possam estar. A saudade verdadeira, aquela que se instala no âmago da alma, não precisa de imagem nem de palavra escrita; ela vive, pulsa e cresce no coração. E eu sei-o bem, pois trago dentro de mim um universo inteiro de ausências que me definem tanto quanto as presenças que um dia moldei na minha existência.

A saudade não é apenas a falta de algo ou de alguém. É um sussurro contínuo que ecoa nas entranhas da memória, uma melodia sem fim que persiste mesmo quando já julgávamos ter esquecido a letra. É um vazio paradoxalmente cheio, um espaço imenso habitado por rostos, vozes e gestos que o tempo, por mais implacável que se julgue, jamais poderá apagar.

Não há fotografia que consiga capturar o perfume do cabelo de quem um dia nos abraçou. Nenhuma imagem poderá devolver o calor das mãos que seguraram as nossas em momentos de ternura ou de desespero. Nenhum postal trará de volta o brilho exacto do olhar de quem nos marcou para sempre. E, no entanto, tudo isso vive em mim, de forma tão real como o ar que respiro.

A minha saudade não é um quadro estático, uma lembrança fixa e imutável. Ela é dinâmica, metamorfoseia-se com o passar dos dias. Há dias em que é branda, um murmúrio doce que me embala na nostalgia suave dos tempos idos. Mas há outros em que se torna avassaladora, esmagadora, e o peito se aperta numa angústia inominável. Nesses dias, a ausência transforma-se em presença tão intensa que quase posso tocar-lhe.

E o que fazer com uma saudade assim? Não há fuga possível, pois fugir dela seria renegar parte de mim mesma. A saudade é a prova de que vivi, de que amei, de que fui amada. É a marca indelével de tudo o que me construiu, a cicatriz bela e cruel das experiências que me moldaram.

Há quem diga que o tempo cura todas as feridas, mas eu sei que há dores que o tempo não apaga—apenas ensina a carregar. A minha saudade não se dilui; aprende a coexistir comigo, como uma sombra silenciosa que me acompanha em cada passo.

E no entanto, por mais que doa, há uma estranha beleza na saudade. Pois se ela existe, é porque algo de precioso foi vivido. E eu, por entre as lágrimas que por vezes me embargam a voz, sei que sou privilegiada por ter tido algo ou alguém que me deixou uma saudade assim tão profunda.

Não a trocaria pelo esquecimento. Prefiro a dor da lembrança à frieza da indiferença. Prefiro sentir este aperto no peito a admitir que nada de verdadeiramente grande passou pela minha vida. Pois, no fim, o que nos define não é apenas aquilo que temos, mas também aquilo que perdemos e carregamos dentro de nós como um segredo eterno.

E assim sigo, com a saudade dentro de mim, como um coração que bate num tempo diferente, num compasso que só eu entendo.

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