Reflexão sobre religião
Ao longo da minha vida, sempre busquei compreender a fé para além das palavras ditas em púpitos e promessas vazias de prosperidade. A religião deveria ser um caminho de iluminação, de amor e de crescimento espiritual, mas, infelizmente, vejo que em muitos casos se tornou uma ferramenta de dominação, medo e alienação. Há algum tempo, acompanhei de perto a jornada da minha prima ao sair de uma igreja evangélica, e o que vi foi um processo doloroso, mas libertador.
A manipulação psicológica dentro dessas instituições é intensa. Criam um ambiente onde o medo é o principal motor da fé: o diabo espreita em cada esquina, cada pensamento pode ser um pecado, e a única forma de salvação é a obediência cega. Mas obediência a quê? A líderes que se autoproclamam pastores, apóstolos, profetas, e que, em vez de pregarem o amor e a compaixão, exigem sacrifícios financeiros em troca de bênçãos? A ideia de que quanto mais se dá, mais se recebe de Deus é uma perversão da fé, uma deturpação da espiritualidade em prol da exploração humana. Além disso, torna-se frequente o hábito de atribuir ao demônio as consequências das próprias atitudes, uma fuga da responsabilidade pessoal.
Outro fator preocupante é a utilização da catarse emocional nas pregações e no louvor como estratégia de manipulação. Criam uma dependência psicológica nos fiéis, fazendo-os confundir emoção com espiritualidade autêntica. A psicologia barata utilizada para atrair os pobres de espírito faz com que sigam cegamente uma ilusão, vendo bênçãos em alterações que eles próprios promoveram, reforçando uma subserviência perigosa.
Fui franca com a minha prima. Disse-lhe que uma fé construída sobre a culpa e o medo não pode ser verdadeira. Quem segue uma religião que explora a vulnerabilidade emocional dos seus fiéis tem, no mínimo, uma crise existencial mal resolvida. Deus não pode ser um carrasco que se alimenta do sofrimento e da servição irracional. Deus é amor, justiça e verdade.
E quando penso em verdade, penso em Jesus Cristo. Há um erro crasso e absurdo em certas correntes religiosas que o tratam como fundador de uma nova religião. Ele não o fez. Ele nasceu judeu, viveu como judeu e morreu como judeu. Nunca renegou sua fé, nunca construiu templos de ostentação e nunca pregou a acumulação de riquezas como sinal de predileção divina. Muito pelo contrário, instruiu os seus seguidores a darem a César o que é de César, separando o material do espiritual. Ele aboliu leis ultrapassadas do Antigo Testamento e trouxe uma mensagem que se resume na essência do amor: ama a Deus e ama ao próximo como a ti mesmo.
A verdadeira experiência do batismo do Espírito Santo também tem sido distorcida. Muitos associam unicamente ao falar em línguas, ignorando o que a própria Escritura ensina: "se não houver quem interprete, fique calado na igreja e fale consigo mesmo e com Deus" (1 Coríntios 14:28). O batismo do Espírito Santo não é apenas manifestação de dons, mas a capacitação para diferentes ministérios, como ensina 1 Coríntios 12:4-11. Além disso, existe um só batismo (Efésios 4:5), que não está condicionado a um rio específico, pois vemos que o apóstolo Paulo batizou uma família inteira numa fonte (Atos 16:33).
O verdadeiro ensinamento cristão está na caridade, na empatia, no perdão. Está em reconhecer a dignidade de cada ser humano, independentemente de suas posses ou status social. E, nesse contexto, como não falar de Maria? A mulher escolhida por Deus para ser mãe do Salvador. Uma mulher digna, honrada, respeitada pelo próprio Criador. Como podem alguns ignorar sua importância, reduzir sua existência a um papel secundário? A mulher não deve andar atrás do homem como sua sombra nem à sua frente como sua rival, mas ao seu lado, como companheira e igual.
A fé não deve ser uma prisão. Não deve ser um fardo que carregamos por medo do castigo, mas uma luz que guia nossas ações e fortalece a nossa humanidade. Por isso, digo sem medo: religião não pode ser uma ferramenta de manipulação. Quem prega o medo em vez do amor não fala em nome de Deus. Quem se enriquece com a fé do povo não age segundo os ensinamentos de Cristo. E quem usa a religião para subjugar mulheres, explorar financeiramente os fiéis e semear a intolerância não merece ser seguido.
A minha prima conseguiu libertar-se dessa teia, e sei que a caminhada dela foi difícil, mas agora, pelo menos, é uma caminhada autêntica. Fé verdadeira não precisa de dízimo nem de dar bens materiais, não é negócio é amor e obra feita no dia a dia com atitudes de verdadeiro cristão.
Precisa apenas de um coração sincero e de uma mente desperta. Quem ama a Deus deve buscar a verdade, e a verdade nunca será encontrada onde há exploração e engano.