Segundas oportunidades.

 Eu, nascida sob o signo de Caranguejo, carrego em mim a essência da empatia, da lealdade e do carinho genuíno. Como as marés que dançam ao compasso da lua, assim também o meu coração pulsa em sintonia com as emoções alheias. Há em mim uma inclinação natural para cuidar, compreender e oferecer suporte a quem se cruza no meu caminho. Contudo, aprendi que a verdadeira nobreza reside em saber estabelecer limites sem perder a ternura.

Na complexidade das relações humanas, compreendi que nem sempre as respostas vêm quando as procuramos. Por vezes, é necessário silenciar as perguntas e simplesmente deixar a porta aberta — um convite tácito à reflexão e ao arrependimento. Nesse espaço de espera, reside uma demonstração silenciosa de maturidade emocional: quem reconhece o valor da lealdade e do afeto autêntico, há de regressar para reconstruir as pontes quebradas. Se, porém, o eco do silêncio persistir, resta-nos a aceitação serena de que não somos os restos das escolhas alheias. A perda recai sobre quem deixa escapar a constância de um coração fiel, capaz de oferecer compreensão sem julgamentos, carinho sem condições e suporte sem esperar retribuição.

Há, contudo, momentos inesperados em que a vida nos surpreende com gestos de reconciliação. Recordo o dia em que recebi um presente especial — o perfume Opium de Yves Saint Laurent — vindo de alguém que desejava reatar a nossa amizade. Naquele instante, percebi que não era o valor do presente que me comovia, mas sim as palavras sinceras que o acompanharam: o reconhecimento do meu coração e a saudade confessada sem receios. Poderia ter vindo de mãos vazias, pois bastava o ato genuíno de procurar-me e dizer: “Sinto a tua falta e confio em ti.” Ainda assim, aceitei o presente com gratidão, não pelo objeto em si, mas pelo significado profundo que ele carregava.

A confiança, ferida pelo tempo e pelas circunstâncias, não se reconstrói de um dia para o outro. Contudo, o afeto que sempre nutri por essa pessoa, apesar de tudo, reacendeu em mim a esperança de reatar uma amizade improvável, inexplicável, mas verdadeira. Como o perfume que deixa a sua marca subtil no ar, assim também os laços do passado permanecem gravados na memória. E, ao escolhermos dar uma segunda oportunidade, não o fazemos por fraqueza, mas por coragem — a coragem de acreditar que o melhor de nós pode, afinal, encontrar eco no coração do outro.

Afinal, ser Caranguejo é amar com intensidade, mas também saber recolher-se na concha do amor-próprio quando o mundo lá fora se mostra ingrato. Porque quem sabe o que vale nunca se deixa reduzir à condição de sobra. E é nessa certeza que encontro a minha paz, sabendo que, ao abrir novamente a porta, o faço com o coração inteiro, pronto para acolher, mas também para partir, se assim for necessário.

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