O Jardim Onde o Tempo Descansa
Todos os dias, quando meu filho sai da escola, seguimos juntos para o jardim. Não é apenas um espaço com árvores e bancos, não é apenas um lugar de passagem—é um refúgio. Ele brinca, eu penso. Ele corre, eu observo. Às vezes, brinco também. Mas, acima de tudo, sentimos.
Neste jardim, o tempo se dobra de um jeito diferente. Há um silêncio que não é ausência de som, mas uma presença suave, uma respiração. O vento entre as folhas sussurra histórias que não precisam ser entendidas, apenas sentidas. Meu filho mergulha na infância com a liberdade de quem ainda não conhece o peso dos relógios. Eu, por um instante, abandono a gravidade dos dias.
Já houve um tempo em que íamos ao parque perto de casa. Mas algo sempre quebrava a paz. Sempre surgia uma presença, uma interrupção, um olhar invasivo que desfazia o encanto. Não era medo, tampouco incómodo evidente, mas uma sensação de que aquele espaço nunca nos pertencia por inteiro. Então, mudamos.
Neste jardim novo, há uma espécie de pacto invisível entre aqueles que o habitam. Ninguém invade o silêncio do outro, ninguém retira do espaço sua vocação de abrigo. Aqui, meu filho e eu existimos sem o peso de sermos notados. O mundo lá fora pode seguir seu ritmo apressado, mas neste pedaço de verde, ele não nos alcança.
E assim seguimos. Todos os dias, uma pequena fuga. Todos os dias, um instante de eternidade.