Graça, Verdade e Essência

 Eu não vou à igreja movida pela busca de bênçãos materiais ou pela expectativa de recompensas terrenas. Não quero uma fé baseada em troca, onde dou para receber, nem me aproximo de Deus apenas nos momentos em que preciso de algo. A minha caminhada espiritual é uma busca constante pela graça, essa força divina que não apenas me sustenta, mas me transforma. Quero ser moldada segundo os desígnios de Deus, quero que minha alma seja trabalhada como o barro nas mãos do Oleiro, para que eu possa crescer em santidade e virtude.

Jesus Cristo nos ensinou que o Reino de Deus não é dos que buscam grandezas, mas dos humildes e dos que têm um coração puro. Ele não veio ao mundo para acumular riquezas ou conquistar poderes efêmeros, mas para servir e se doar até a última gota. Ele lavou os pés dos discípulos, ensinando que a verdadeira grandeza está na humildade. Ele acolheu os pecadores com misericórdia, mostrando que o amor é maior que o julgamento. Ele carregou a cruz sem reclamar, ensinando que a entrega verdadeira exige renúncia. Quero seguir esse caminho, quero aprender com Ele a amar sem reservas, a perdoar sem ressentimentos, a servir sem esperar reconhecimento.

Quando olho para Maria, vejo o exemplo mais sublime de obediência e entrega à vontade de Deus. A sua resposta ao anjo – “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” – não foi um simples consentimento, mas um ato de confiança absoluta. Ela não questionou, não exigiu explicações, não colocou suas vontades acima do plano divino. Ela aceitou ser instrumento da graça, mesmo sem compreender plenamente o mistério que se desenrolava diante dela. Quero aprender com Maria essa humildade, essa confiança inabalável, essa disposição para dizer "sim" a Deus em cada momento da minha vida.

Maria não apenas aceitou a missão que lhe foi confiada, mas permaneceu fiel até o fim. Ela esteve ao lado de Jesus desde o seu nascimento humilde na manjedoura até o seu sofrimento na cruz. Não se desesperou, não se revoltou contra Deus, mas permaneceu firme, sustentada pelo Espírito Santo, o Paráclito, o Consolador prometido por Cristo. O mesmo Espírito que desceu sobre ela em Pentecostes e que a tornou mãe da Igreja continua a agir no mundo e em minha vida. Ele é aquele que ilumina, que fortalece, que ensina e que me conduz pelos caminhos de Deus.

É esse Espírito que imploro para que me preencha e me transforme. Quero que Ele me dê sabedoria para discernir entre o que é passageiro e o que é eterno. Que Ele me conceda a fortaleza para enfrentar as dificuldades sem desanimar. Que Ele me ensine a ter temor a Deus, não como medo servil, mas como reverência e amor profundo pelo Criador. Que Ele derrame em mim os seus frutos: a paciência para suportar os desafios, a mansidão para lidar com as dificuldades dos outros, a bondade para ser um reflexo do amor de Deus.

Não quero uma fé estagnada, mas uma fé que se manifesta em atos concretos. Quero que minha vida seja um testemunho de amor, de generosidade e de misericórdia. Jesus disse que o maior mandamento é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesma. E amar verdadeiramente não significa apenas sentir compaixão ou desejar o bem, mas agir, fazer diferente, ser presença, ser luz.

Quero fazer diferente a diferença. Quero que a minha existência seja marcada pela bondade, que a minha presença no mundo seja um reflexo da graça que recebo. Não quero viver para mim mesma, mas para os outros, assim como Cristo se deu inteiramente por nós. Quero ser generosa sem calcular custos, quero perdoar sem impor condições, quero estender as mãos sem esperar nada em troca.

Sei que o caminho da santidade não é fácil, que exige renúncia, esforço e constância. Sei que haverá momentos em que me sentirei fraca, tentada a desistir, mas confio que Deus não abandona aqueles que Nele confiam. Ele é Pai, Ele sustenta, Ele guia. Se eu cair, Ele me levantará. Se eu me perder, Ele me trará de volta.

Assim, sigo minha caminhada, amparada pela graça, inspirada por Jesus, guiada pelo Espírito Santo e protegida pela intercessão da Virgem Maria. Quero ser um instrumento nas mãos de Deus, quero viver uma vida que faça sentido não apenas para mim, mas para todos que cruzarem o meu caminho. Que minha vida seja uma oração viva, um testemunho de fé e um reflexo da infinita misericórdia de Deus.

Sei que Deus me criou com uma essência única, e Ele me conhece melhor do que qualquer um. Ele não deseja que eu viva uma vida triste, reprimida ou sem alegria. Pelo contrário, Deus é a fonte da verdadeira alegria, e Ele se alegra quando sou plenamente eu mesma, vivendo de acordo com a essência que Ele me deu.

Jesus, quando esteve na Terra, não foi alguém sisudo ou distante. Ele participou de festas, esteve em casamentos, conviveu com pessoas de todas as origens e, certamente, sorriu e se alegrou com elas. O seu primeiro milagre foi transformar água em vinho numa festa de casamento em Caná, o que mostra que Ele não condenava a alegria e a celebração. A questão nunca foi a diversão em si, mas sim como vivo essa alegria – se de maneira pura, equilibrada e em comunhão com Deus.

Brincar, rir, dançar e me divertir não são atos contrários à santidade. Pelo contrário, são expressões naturais de uma alma que vive em harmonia com a graça divina. A própria Bíblia ensina:

Eclesiastes 3:4 – "Há tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar."

Salmo 126:2 – "A nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de cânticos de alegria."

Provérbios 17:22 – "O coração alegre é bom remédio, mas o espírito abatido faz secar os ossos."

A santidade não exige que eu anule minha personalidade ou que deixe de expressar minha alegria de viver. Deus não quer que eu me torne alguém que apenas segue regras frias, sem vida interior. Ele quer que eu ame, que viva com intensidade e que encontre Nele a alegria verdadeira.

E se essa alegria pode se manifestar na dança, no riso e na festa, por que não? Mas sempre com equilíbrio, sem me afastar dos princípios que Deus me ensina.

Quando penso no Carnaval, reflito sobre a intenção do meu coração e a forma como vivo essa experiência. O ato de me mascarar ou fantasiar, em si mesmo, não é pecado nem algo contrário à fé cristã. O que importa é como e por que faço isso.

Se minha participação no Carnaval for vivida com leveza, alegria saudável e respeito aos valores cristãos, não há mal em me mascarar. Muitas culturas possuem tradições de máscaras e fantasias que fazem parte da expressão artística e cultural do povo. O perigo está quando o Carnaval se torna um momento de descontrole, de atitudes contrárias à moral cristã ou de afastamento de Deus.

Jesus nos ensina que o mais importante não é a aparência externa, mas a intenção do coração:

Mateus 15:11 – "Não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas o que sai da boca, isso sim o contamina."

1 Coríntios 10:31 – "Portanto, quer comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus."

A liberdade cristã não é um peso, mas uma responsabilidade. O que importa não é apenas a máscara exterior que coloco, mas quem sou por dentro, diante de Deus e diante de mim mesma. Quero viver com autenticidade, com alegria e com a consciência tranquila de que minha vida, em todas as suas expressões, glorifica ao Senhor.

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