Redenção

 Existem momentos na vida em que o nosso instinto nos alerta, qual farol num mar tempestuoso, sobre determinadas pessoas. Aquelas que, apesar do sorriso simpático, carregam em si uma aura de desconfiança. Eu, ingénua talvez, ignorei esse sinal claro como a água de um ribeiro. Era como se estivesse a nadar contra a maré, com todos os avisos a gritarem-me para voltar atrás, mas eu segui em frente, determinada a provar a minha teimosia.

Desde o princípio, soube que aquela pessoa traria problemas. Nem era preciso ser Sherlock Holmes para perceber. Era óbvio como a calva do Kojak! Contudo, lá estava eu, a fazer ouvidos de mercador, a desconfiar do meu próprio instinto e das vozes sábias ao meu redor. E, claro, como manda a lei de Murphy, o desastre não tardou a acontecer.

Foi uma sequência de eventos que mais parecia um filme de suspense. À medida que as peças do quebra-cabeça se encaixavam, tudo apontava para uma conclusão inevitável: o caos. E foi então que percebi que não há coincidências na vida. Cada contratempo, cada desafio, cada reviravolta estava a preparar-me para algo maior.

Ao fundo do túnel, encontrei uma luz – uma promessa feita a Nossa Senhora de Fátima. Se Ela nos livrasse a mim e ao meu filho do mal, se o meu pequeno encontrasse aceitação e estabilidade emocional, eu iria em peregrinação até Fátima. E, milagrosamente, o caminho começou a desenhar-se. O meu filho foi colocado num lugar onde, ironicamente, tinha de andar muito – uma preparação perfeita para a peregrinação! Lá, encontrei amizades sinceras e uma comunidade acolhedora, e, acima de tudo, vi o meu filho florescer, reencontrando o seu equilíbrio.

Aceitei o chamamento como um sinal divino. A peregrinação até Fátima foi uma experiência transformadora, digna de um capítulo épico de qualquer best-seller espiritual. Cada passo era uma mescla de dor e alegria, de fé e cansaço. E, no final, fui recompensada com uma paz interior indescritível.

Decidi que era o momento de dar um passo ainda maior na minha fé. Vou ser batizada no dia de São Telmo, na pequena aldeia que nos acolheu de braços abertos. É um recomeço, uma celebração da nova vida que encontrei. Se antes estava perdida no labirinto da desconfiança e do medo, agora sinto-me renovada, como uma fénix renascida das cinzas.

A lição que aprendi é simples, mas poderosa: nunca subestimar o nosso instinto e, principalmente, nunca duvidar da força da fé. Por vezes, a vida coloca-nos em caminhos tortuosos para que possamos encontrar o nosso verdadeiro eu e a nossa verdadeira fé. E, quem diria, tudo começou com uma desconfiança que acabou por ser a minha salvação. E como se diz por aí, "Deus escreve certo por linhas tortas". Eu diria mais: às vezes, Ele escreve com um humor digno de um stand-up, e a vida acaba por ser uma comédia divina.

Graças a Deus já posso escrever e até brincar, passado arrumado. 






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