Enterro das Memórias
Hoje, celebramos o enterro das lembranças.
Não as boas, claro, pois essas guardamos em caixas douradas dentro do coração.
Enterramos aquelas que doem, as que queimam a alma.
As que um dia nos fizeram questionar nossa bondade e nossa capacidade de perdoar.
Perdoar, afinal, é fácil.
Difícil é esquecer a dor que nos foi infligida.
Difícil é olhar para quem nos feriu e não lembrar da cicatriz que ficou.
E enquanto as feridas abertas sangram, afastamo-nos.
Não falamos, não olhamos, não vivemos aquela presença.
Curioso, não? Como meu filho, que ao sarar, nunca mais fala com quem o feriu.
Sim, enterramos as memórias dolorosas.
Com flores de sarcasmo, em um jardim de indiferença.
E, para essas pessoas, escrevemos textos bonitos.
Textos que são epitáfios de relações findas,
tão lindos quanto dolorosos.
Assim seguimos, pois perdoar não é esquecer.
E as feridas, mesmo que cicatrizem, deixam marcas.
Marcas que nos lembram que a bondade não é ingenuidade,
e que a vida, com suas ironias, continua a nos ensinar.