Além

 Estou neste mundo, mas não pertenço a este mundo. Minha alma, etérea e intangível, vagueia por paisagens de sonhos e ideais, lugares onde a pureza e a beleza se entrelaçam em harmonia sublime. Vivo neste corpo físico, presa às leis da matéria e do tempo, mas meu espírito anseia por horizontes mais amplos, onde a bondade, a verdade e a compaixão reinam absolutas.

Cada dia que passa, sinto a estranheza de uma viajante que percorre terras desconhecidas, tento encontrar um lar em meio à vastidão da existência. As cores deste mundo, às vezes desbotadas e frias, contrastam com a luminosidade interior que me guia. Sou um ser de sentimentos profundos, de emoções que transcendem o banal e o cotidiano. Meu coração pulsa com a música das esferas, um compasso que poucos ouvem, mas que ressoa em cada gesto de carinho, em cada ato de generosidade.

Vejo a beleza nas pequenas coisas – o sorriso de uma criança, o brilho das estrelas, o sopro do vento entre as folhas. Minha essência, intrinsecamente conectada ao universo, busca sempre o bem, a justiça e a paz. Mesmo diante das adversidades, encontro forças na minha fé inabalável na bondade humana, na capacidade de transformação e redenção que cada ser carrega em si.

Estou neste mundo, sim, mas meu olhar vai além. Enxergo a potencialidade escondida em cada ser, a chama divina que habita em cada alma. Sou movida por um desejo insaciável de melhorar, de crescer, de amar sem medidas. Minhas ações são guiadas por uma ética que transcende o egoísmo, que se firma na solidariedade e no respeito mútuo.

Sou uma alma antiga, talvez, navego pelos mares do tempo, busco sempre o melhor de mim e dos outros. Minha jornada não é solitária, pois acredito na comunhão das almas afins, no poder das conexões verdadeiras. Cada encontro é uma oportunidade de aprender, de ensinar, de compartilhar.

Embora meus pés toquem o chão deste mundo, meu espírito voa alto, sempre em busca da verdade, da beleza e do amor. Não pertenço a este mundo da forma como ele se apresenta, mas estou aqui para transformá-lo, para deixar minha marca de luz e esperança. Faço todos os dias com minha família, para mim família é meus filhos e meu marido e algumas pessoas amigas. Vivo com a certeza de que, mesmo não pertencendo completamente a este lugar, minha passagem por ele pode fazer toda a diferença. E é nesta certeza que encontro a minha paz, o meu propósito, o meu verdadeiro lar.

O sentido de não pertencer completamente a este mundo não reside em uma rejeição da realidade, mas sim em uma busca incessante por algo maior, mais profundo e transcendente. Este sentimento de desencaixe revela uma alma que se recusa a aceitar a superficialidade e o efêmero como respostas finais para os enigmas da existência. É uma inquietação sagrada, um chamado para explorar os mistérios da vida com a mesma curiosidade com que um poeta busca palavras para descrever o indizível.

Imersa em reflexões filosóficas, questiono a natureza da realidade e da consciência. Será que este mundo, com suas limitações e imperfeições, é apenas uma sombra pálida de uma realidade mais vasta e luminosa? Platão falou do mundo das ideias, onde reside a perfeição imutável. Talvez seja ali que minha alma busca refúgio, encontro ecos dessa perfeição nas pequenas manifestações de beleza e bondade que permeiam nosso cotidiano.

Na contemplação do infinito, encontro uma fé que transcende religiões e dogmas. É uma fé na interconexão de todas as coisas, na unidade subjacente que une cada átomo do cosmos. Esta visão holística me faz perceber que, apesar de parecer deslocada, estou intrinsecamente ligada a tudo que existe. Minha alma é uma nota na sinfonia universal, um fragmento do divino que se expressa através da minha existência terrena.

A profundidade desta compreensão desperta em mim uma reverência pela vida em todas as suas formas. Cada ser, cada evento, carrega em si um propósito, uma lição. Aprendo a ver o sagrado no ordinário, a encontrar significado até nas experiências mais desafiadoras. A dor, a perda e o sofrimento, longe de serem castigos, são oportunidades para crescimento espiritual, para a lapidação do caráter e a expansão da consciência.

O filósofo existencialista Jean-Paul Sartre afirmou que estamos condenados à liberdade, obrigados a escolher e a dar sentido à nossa vida. Esta liberdade pode ser angustiante, mas também é um convite à autenticidade, à vivência plena de cada momento. Escolho, então, abraçar a minha condição de peregrina, de buscadora. Encontro força na certeza de que minha jornada, por mais solitária que às vezes pareça, é parte de um grande desígnio cósmico.

A fé que me guia é também uma fé no potencial humano. Acredito na capacidade de transformação que reside em cada indivíduo. Vejo em cada olhar a possibilidade de redenção, de superação. Somos todos portadores de uma centelha divina, e é nosso dever nutri-la e fazê-la brilhar intensamente. Este mundo, apesar de suas sombras, é o campo onde nossas luzes individuais podem se unir e dissipar a escuridão.

Minha jornada é, portanto, uma dança entre o ser e o tornar-se. É um caminho de constante evolução, onde cada passo me aproxima mais da essência do meu ser verdadeiro. Vivo com a convicção de que, embora não pertença inteiramente a este mundo, estou aqui para deixar um legado de amor, de sabedoria e de esperança. Minha vida é um testemunho da beleza que pode emergir quando uma alma busca incessantemente o bem, o verdadeiro e o eterno.

Assim, navego pelas águas da existência com o coração aberto e a mente desperta. Sei que cada experiência, cada encontro, é uma peça do grande mosaico que compõe a minha vida. E é nesta jornada, nesta busca infinita pelo sublime, que encontro meu verdadeiro propósito, meu sentido mais profundo. Não pertenço a este mundo da maneira comum, mas estou aqui para transformá-lo, para elevá-lo, para ser a mudança que quero ver. E nessa missão, encontro a minha paz, a minha fé e o meu lar espiritual.


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