Desilusão
Após refletir e analisar cuidadosamente, percebo que os sinais estiveram sempre presentes. A maneira como a Sra. Professora falava sobre meu filho deveria ter me feito abrir os olhos, mas eu preferia acreditar que ela queria o melhor para ele. Realmente acreditava que ela era um bom ser humano – resiliente, generosa, diplomática, justa, uma pessoa especial. Assumi a culpa por não ter protegido meu filho como deveria, sabendo que deveria ter mantido uma distância maior entre a Sra. Professora e ele, principalmente entre mim e ela. Ela, professora titular da turma; eu, encarregada de educação. Eu sei separar as águas, ela não. Quando os problemas começaram a surgir, deveria ter me questionado: será que foi a Sra. Professora? Mas não o fiz, achando que ela seria incapaz de tal coisa. Neste momento, não sei mais, pois a rapidez com que a Sra. Professora me acusou deixa dúvidas. Quem acusa indiscriminadamente outra pessoa sem ter feito algo contra? Recordo uma noite em frente ao Burger King, quando informei que iria trocar meu filho de escola; sua reação deveria ter acionado o alerta. Quando afirmou que não queria ver o meu filho, eu ainda não sabia o que estava acontecendo, os contornos por trás dessa situação. Disse que iria falar com sua amiga, contando sua história – que, agora sei, é uma história fictícia de sua mente. Afirmou que não me perdoaria nem na hora da morte. Que tipo de pessoa diz algo assim? Conversei com meu marido e voltei atrás na decisão. Mais um erro. Cada vez que tentava resolver um problema, era uma tormenta para me fazer entender. Eu não sabia o que se passava. Meu filho queixava-se das atitudes da professora; se fosse outra criança, talvez não notasse, mas meu filho via e sofria. E a professora não se importava minimamente, mesmo quando eu tentava chamá-la à razão. Quando foi a foto de turma, o diálogo foi estranho e deixou um alerta. Todas as conversas eram estranhas e me deixavam desconfortável, mas eu ainda não sabia por quê. A Sra. Professora procurava formas de ter certeza da minha culpa. E quem quer acreditar que a outra pessoa é culpada, vê o que quer ver. Mais engraçado é pensar que eu não notava, ou que meu filho não notava. Como é possível? Neste momento, sei que ela é uma atriz, excelente na dissimulação, maledicência, manipuladora, falsa e muito mentirosa, sem falar na hipocrisia. Mas na altura, eu não fazia ideia. Demorei a digerir. Agora, felizmente, o afastamento ajudou imensamente meu filho a começar a superar tudo. Foi uma má experiência; até à data, a pior pessoa que passou na vida dele foi essa senhora. Mas, ironicamente, no passado, ela era considerada a melhor. Extremos que nunca imaginei que estariam guardados para meu filho. Enquanto ele se lembra, tentarei avivar apenas os bons momentos. Ele demonstra uma aversão a recordar o bom, mas estou certa de que nunca mais iremos ouvir falar dessa senhora. Ela encontrou a sua certeza da minha culpa, inexistente, mas para ela comprovada. Desde o dia em que fui falar com a auxiliar, tive o privilégio de não obter resposta da Sra. Professora. Um alívio. Se tudo correr como espero, nunca mais terei de falar com ela. Meu filho estará protegido e, como está noutro agrupamento, não cruzaremos caminho. No secundário, ele irá estudar fora, para não ter a infelicidade de cruzar com ela ou com seu filho, que é igual à mãe. Se tudo correr bem, com o tempo ele esquecerá por completo a Sra. Professora. Ela, com certeza, já nos esqueceu. Se passar por ela, trocarei de caminho. Não passarei perto dela e evitarei ao máximo a sua presença.