Educação e guia
Como encarregado de educação, venho aqui, com palavras tecidas pelo mais sincero apreço, escrever para a senhora professora, com quem a vida confiou o futuro em forma de pequenos olhos atentos e mãos ansiosas por aprender.
A sua missão é de uma profundidade quase indescritível. Sei que cada dia carrega nos ombros a responsabilidade de muito mais que transmitir conteúdo: a senhora semeia esperança, paciência e os primeiros alicerces do saber. É guia na selva dos primeiros questionamentos, tradutora de realidades desconhecidas, companheira na descoberta de mundos novos. É impossível mensurar o impacto do que faz, porque a sua obra escreve-se no âmago da formação de cada criança que atravessa o seu olhar.
As coisas realmente valiosas raramente recebem o destaque merecido. Basta pensarmos no ar que respiramos: invisível, sempre presente, mas tão vital que apenas nos damos conta de sua grandeza quando o sentimos rarear. A senhora, como o ar, é assim: silenciosa e essencial. Não ocupa palcos nem microfones, mas o seu lugar é eterno, fixado na memória das crianças que tornam-se adultos e, ainda que sem palavras, carregam na alma as lições que receberam de você.
Penso muitas vezes no modo como olha para cada criança, como se fossem suas, e reconheço a raridade desse amor. Cada lição, cada correção carinhosa, cada incentivo pode parecer pequena no instante, mas, no horizonte distante, ela floresce em forma de coragem, inteligência e esperança.
Sabe, nunca conseguiremos viver grandes emoções todos os dias. O campeonato da vida é feito de pequenas conquistas diárias que, com o tempo, somam-se e formam algo grande. Há sempre quem se lembre de uma medalha, de um troféu, de um momento glorioso em destaque. Mas quem, senão a senhora, constrói a base invisível para que aqueles dias especiais sejam possíveis? Os seus gestos, tão comuns na rotina, são tão fundamentais quanto a água que sacia a sede ou os alimentos que alimentam o corpo.
Quero que saiba que, entre os valores que ensino ao meu filho, está o respeito por si, que és tanto mais do que apenas uma professora, é uma amiga, ele gosta imenso de si, todos nós gostamos, de si e seu filho. É artesã do futuro. E não só da educação formal, mas da vida – porque cada toque que dá, com cada palavra e cada olhar, ecoa nas escolhas e nos sonhos das crianças que lhe são confiadas.
Por isso, hoje escrevo-lhe para expressar minha profunda gratidão. Se um dia as crianças esquecerem suas palavras – como inevitavelmente acontece –, elas jamais esquecerão como as fez sentir: capazes, especiais, entendidas. Afinal, o coração não esquece a mão que o acaricia e lhe dá novo alento para seguir.
Sei que tem desafios, mas peço que nunca esqueça o brilho que é na vida de tantos. No fundo, cada grande memória das crianças começa consigo. Tem a minha admiração e estima eterna. Hoje a festa do meu filho tornou-se mais especial por sua família ter estado presente.