A Traição da Confiança
Hoje, recebi um e-mail que me deixou num estado de perplexidade, um misto de incredulidade e mágoa. Os primeiros dias de um novo ano escolar deviam ser sinónimo de renovação e entusiasmo, mas as palavras contidas naquele texto turvaram o meu espírito e lançaram-me numa espiral de questionamentos. Pergunto-me, com angústia e assombro, como alguém a quem confiei tanto poderia emitir opiniões tão despropositadas, tão carregadas de insensibilidade, especialmente quando o objeto das suas observações é o meu filho – uma criança, seu aluno.
Ao longo do tempo, desenvolvi um respeito imenso pela professora do meu filho. Uma relação de empatia e cumplicidade parecia ter florescido entre nós, sustentada por uma admiração mútua que considerei genuína. Não a via apenas como uma docente dedicada; via-a como uma pessoa de carácter, uma mulher que, pensei eu, valorizava os princípios da amizade, do profissionalismo e da empatia. Esta amizade transcendeu o contexto escolar, ou pelo menos assim julguei. Abracei a ideia de que poderia aconselhá-la, de que poderia, em momentos de fragilidade, oferecer-lhe a minha visão, a minha escuta, o meu apoio sincero.
Por isso mesmo, é esmagador ler o que foi dito – entre palavras escritas está a devastadora percepção de que fui traída por quem considerava uma aliada. Não é apenas a minha integridade que é posta em causa, nem apenas as escolhas que fiz pela minha família que são descritas com uma leviandade cruel; é o próprio cerne da relação de confiança que tínhamos construído que é reduzido a cinzas. Como pode uma pessoa a quem abri o meu coração emitir alegações tão bárbaras? Será possível que estas palavras espelhem realmente aquilo que ela pensa? Se assim for, como pode ela aproximar-se de mim de forma tão dissimulada? E mais inquietante ainda: como pode uma professora que desempenha um papel tão significativo na formação dos valores de uma criança proferir acusações tão atrozes e depreciar uma alma inocente como se fosse algo sem importância?
O meu coração pesa ao pensar na dualidade desta mulher que, aos olhos do meu filho, ocupa um lugar especial. Ele fala dela com entusiasmo, descreve-a com admiração, partilha histórias de pequenos gestos que reforçam a sua afeição por ela. Ele gosta tanto dela quanto do seu filho, com quem criou um laço natural, de pureza infantil. Não consigo compreender como é que uma pessoa que conquistou o carinho genuíno de uma criança pode ser tão cruel nas suas palavras, capaz de difamar, de espalhar alegações desprovidas de verdade e compaixão. Será que o rosto que ela oferece ao mundo é apenas uma máscara? Será que a sua postura no contexto educativo esconde sentimentos sombrios e visões contraditórias?
Eu não sou apenas mãe; sou, acima de tudo, uma guardiã incondicional do bem-estar e da dignidade do meu filho. Diante deste ataque velado, as palavras lidas despertaram em mim uma mistura de dor e revolta, mas também a necessidade urgente de defender quem amo. Este episódio perturbador deixou-me a pensar sobre a dualidade do ser humano, sobre as ilusões criadas pela confiança, e sobre o impacto devastador que a hipocrisia pode ter nas relações interpessoais.
Interrogo-me incessantemente sobre os motivos por detrás deste e-mail, sobre as verdades e inverdades escondidas nas suas entrelinhas. Será possível a senhora professora por de lado o meu filho, falar de mim a outros encarregados.Apesar do meu sofrimento, procuro perceber como alguém que preza a profissão de educador pode submeter-se a tamanha frieza. Mais do que isso, questiono: qual será o impacto que esta duplicidade terá nas crianças sob a sua responsabilidade, em especial naquela que tenho a responsabilidade de proteger com todas as forças do meu ser?