A Beleza de Ser Quem É
A terapia em grupo é, de fato, um espaço mágico, onde as palavras se tornam pontes e o silêncio, uma oportunidade de escuta. É um encontro de almas, cada uma com seus dilemas, fraquezas e forças, numa partilha que desarma o isolamento e dá forma à cura. A dinâmica de ouvir e falar, por mais simples que pareça, é profundamente transformadora. Ouvir é um exercício de empatia, um mergulho nas histórias alheias que nos faz enxergar a nossa própria com um olhar mais amplo, mais gentil. Falar, por sua vez, é um ato de coragem, uma libertação. A troca nos resgata, fazendo-nos perceber que a dor é universal, mas também o é a capacidade de superação.
Hoje foi-me proposto escrever sobre alguém que admiro profundamente. Sem recorrer ao refúgio imediato da família — mãe, pai, marido ou filhos —, fui chamada a ir além do conforto dos laços de sangue e buscar admiração em outras paragens da minha convivência. Percebi a riqueza desse convite: admirar é reconhecer virtudes que nos inspiram e, ao mesmo tempo, espelham aquilo que aspiramos cultivar em nós.
Escolhi escrever sobre a professora do meu filho. Não por acaso, mas porque nela encontro uma constelação de qualidades que iluminam o meu respeito e afeto. Há na sua forma de ser uma comunicação cristalina, uma diplomacia que apazigua sem perder a firmeza. O seu sentido de humor é encantador; ri das nuances da vida e percebe uma boa piada como poucos. Mas há algo além disso: uma força que parece vir de raízes profundas, alimentada pela perseverança e pela resiliência de quem se recusa a ceder diante das adversidades.
Ela carrega o mundo nos ombros, eu vejo. Sempre com um sorriso no rosto, como se o peso fosse invisível. Mas os olhos... ah, os olhos, esses nem sempre conseguem disfarçar. Há dias em que eles denunciam o cansaço, talvez uma tristeza camuflada que não se permite descansar no abraço do outro. Ela é, ao mesmo tempo, impulsiva e sensata, um equilíbrio improvável e fascinante que me ensina que perfeição e autenticidade podem coexistir.
Admiro, sobretudo, a coragem silenciosa com que enfrenta as suas inseguranças. Ela não é generosa consigo mesma — reconheço isso nos detalhes. Carrega culpas que não lhe pertencem, castiga-se por falhas que só ela julga ver. Quem a observa de fora, no entanto, sabe que ali reside um ser humano especial, daquelas almas raras que deixam um rastro de luz por onde passam.
É por isso que escrevo sobre ela. Porque quero que saiba o quanto é notável, mesmo que não acredite. Quero que reconheça em si o valor que espalha no mundo, que olhe para si com mais ternura e menos exigência, com mais compreensão e menos julgamento. Quero que ela permita que o sorriso nos lábios seja genuinamente acompanhado pelo brilho nos olhos. Que saiba que ser quem é, com todas as suas nuances, já é o suficiente.
Admiro-a profundamente porque, sem saber, ela me ensina algo novo a cada dia. No seu exemplo de força, humor, diplomacia e humanidade, aprendo sobre mim mesma. Aprendo sobre o quanto é essencial cultivar o respeito pela complexidade do outro — e pela minha também. Ela é, afinal, uma dessas pessoas que nos lembram de que há beleza até nas imperfeições, e que o amor-próprio não é um luxo, mas uma necessidade vital. Espero um dia mostrar o que escrevi, não agora, é a professora do meu filho. Neste momento estou a separar as águas e respeito imenso a professora, confio e respeito. Por enquanto uma pessoa amiga mas com afastamento. Quando terminar o primeiro ciclo.