Perguntas...

 E quando alguém se lembra de perguntar?

"Como está a tua secura vaginal?" – e o corpo dá aquele espasmo ligeiro, o coração dá uma guinada. Não é uma simples pergunta, é quase um teste de resistência. Quem é que se lembra de tal invasão, como se alguém precisasse de andar a medir humidades alheias? Mal termina a primeira, e já vem a segunda: "E a tua libido, ainda anda tão apagada quanto uma lâmpada queimada?" Aqui, não querem só uma resposta. Querem um raio-X emocional, querem detalhes, como se a lâmpada tivesse um manual de instruções a explicar a falta de brilho.

Essas perguntas parecem uma sessão de interrogatório: tocam em pontos que até nós mesmos evitamos. "Como se sente em relação ao seu prazer pessoal?" – como se fosse algo que simplesmente se encomendasse pela internet. Afinal, prazer é uma coisa complexa, quase um projeto de pesquisa. Mas quem pergunta assim espera simplicidade, como quem pergunta se queremos chá ou café.

E as perguntas continuam, porque, claro, não há limite para a curiosidade humana. "A tua vida sexual ainda é tão monótona quanto uma aula de matemática?" Uma comparação injusta, diga-se, porque a matemática, ao menos, resolve equações. A vida sexual, às vezes, é como resolver um problema com metade das peças do puzzle. E lá vem outra, tão subtil como um tijolo: "Você já considerou buscar alguma forma de ajuda?" Ah, a insinuação, a sugestão de que talvez eu precise de alguém com um crachá de terapeuta para me dizer como resolver essa “crise” existencial.

E depois toca na autoconfiança: "E quanto à tua autoconfiança? Está tão em alta quanto um balão furado?" Ora, minha cara autoconfiança e eu estamos ótimas, obrigada. Mas fica o ar de que, talvez, um balão furado esteja a ser generoso. Porque agora vem outra tão invasiva como um espelho falante: "Como te sentes ao olhar no espelho?" Como se o espelho soubesse segredos que nem a minha própria reflexão está pronta para admitir.

Estas perguntas são um exercício de esgrima emocional – têm uma lâmina fina e afiada, e cada uma é mais incisiva que a anterior. "Já pensaste em como a tua saúde íntima afeta o teu bem-estar geral?" Claro, claro, o bem-estar está totalmente interligado com o meu… clima pessoal, obviamente. Depois, a pergunta sobre as “últimas vezes” – uma indagação que parece saída de uma sessão de nostalgia. "Quais foram as últimas vezes que sentiste prazer?" Como se fosse algo a recordar num álbum de memórias.

A lista continua, como um monólogo existencial: "Alguma vez já te perguntaste se mereces mais?" Ah, mas claro, já fiz uma lista de “mereço mais” e pus na porta do frigorífico. Mas agora, alguém vem e levanta a cortina do desejo, o grande mistério que é saber se merecemos mesmo mais ou se estamos a sonhar de olhos abertos.

E segue outra: "Como se sente ao ver outras pessoas mais satisfeitas?" A pergunta é um soco no estômago emocional. Porque não basta perguntar sobre o prazer – há que comparar com os outros, claro. Uma visita ao “Jardim da Felicidade Alheia”. Tudo bem, vamos seguir: "Já tentou explorar a sua própria sexualidade?" Como se isso fosse um parque temático com bilhete grátis e tempo ilimitado.

Agora, é quase pessoal: "Tens-te permitido sentir prazer em outras áreas da vida?" Ah, permito-me, sim, é claro. Permito-me o prazer de… não responder a estas perguntas, quem sabe? E aí vem uma pérola digna de uma sessão de autoajuda: "Achas que estás a sabotar a tua própria felicidade?" Quem diria, eu a minha própria vilã! Fico a imaginar se tenho um clube secreto onde conspiro contra a minha própria alegria.

E não desistem: "Sentes-te confortável em falar sobre as tuas necessidades sexuais?" Confortável? Imagino que seja o mesmo conforto de alguém a enfiar a cabeça numa panela a ferver – por pura diversão. Mas a sequência não perdoa: "O que te impede de buscar novas experiências?" Nada, claro, tirando talvez a minha paciência. E o melhor: "Já pensaste que o prazer não precisa estar relacionado com outra pessoa?" Obrigada pelo lembrete, ando mesmo a precisar de uma relação monogâmica comigo mesma.

E quando chega a grande questão final: "Como imagina que seria a tua vida se sentisses mais prazer?" Ora bem, imagino que, se fosse possível medir a satisfação, estaria agora no topo das tabelas de bem-estar. Mas no fundo, no fundo, a pergunta está a insinuar que a minha vida, ao fim ao cabo, seria como a de qualquer outra pessoa. Afinal, se todas as perguntas levam ao mesmo ponto, só resta dizer: a felicidade, como estas perguntas, tem a sua graça – mas às vezes só precisa é de uma boa gargalhada.

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