Quando Sentir, Ligue.

 Ligue-me quando quiser. Não, corrijo-me: ligue-me quando sentir. Não há gesto mais poderoso do que aquele que nasce do coração, de um desejo genuíno e descomplicado. Ligue-me quando o som da minha voz puder trazer-lhe conforto ou leveza, quando sentir necessidade de quebrar o silêncio que, por vezes, nos afasta não por escolha, mas por circunstância. Mas não me ligue por obrigação. Nunca o faça para satisfazer uma expectativa que acredita que deposito sobre si, porque isso seria apagar a essência do que é puro e verdadeiro entre nós, o respeito mútuo e a confiança.

Há em mim esta predisposição inquieta para sentir as pessoas profundamente, para lhes ler nos gestos e nos silêncios os significados que nem sempre se atrevem a verbalizar. E com você não é diferente. Há momentos em que me perco na ideia de si. Imagino os seus dias, os seus pensamentos, as alegrias e as angústias que moldam as horas. Pergunto-me se pensa em ligar-me quando algo a inquieta, ou se resiste, com receio de parecer um gesto impulsivo, talvez inconveniente. Mas acredite, nunca é. Para mim, o verdadeiro tesouro está nesse impulso: no ligar porque sim, porque sentiu que devia, sem medir se era o momento certo.

Gosto de pensar que a espontaneidade é a única linguagem sincera que ainda não foi corrompida pelas obrigações do mundo. É nesse espaço, onde o instinto fala mais alto que o cálculo, que nos revelamos inteiramente. Contudo, sei que, muitas vezes, somos prisioneiros da hesitação. E essa hesitação é cruel, porque sufoca o desejo natural de nos aproximarmos, coloca barreiras onde nunca deveriam existir. Será que também hesita em ligar-me? Será que segura o telefone, passa os dedos sobre o teclado e, por fim, desiste?

Entenda que, comigo, nunca precisará de justificar a sua presença. Nunca terá de me explicar por que razão quis ligar ou que motivo concreto a levou a fazê-lo. Porque não é isso que importa. O que importa é apenas a verdade do gesto, a simplicidade crua de querer ouvir-me ou de me dizer algo que guardou por tempo demais. Por outro lado, também lhe digo: nunca ligue apenas porque acha que devo esperar. A pior espécie de solidão é aquela que se sente quando estamos acompanhados por alguém que está presente no corpo, mas ausente na alma.

Deixe-me partilhar consigo algo que tenho refletido há algum tempo. Gosto de pensar que as relações humanas – as que realmente importam – são construídas com base num equilíbrio delicado. Há os momentos de proximidade, os que nos preenchem e nos fazem sentir completos, e há os momentos de distância, tão essenciais quanto os primeiros, porque é no espaço que deixamos ao outro que o amor e a amizade respiram. Mas, às vezes, esse espaço assusta-nos. Fomos educados para acreditar que o silêncio é um inimigo, que a ausência significa desinteresse. Eu, porém, acredito no contrário: acredito que a liberdade de sermos nós mesmos, de respeitarmos os ritmos e as pausas, é o que define os laços mais verdadeiros.

Portanto, minha amiga, ligue-me quando precisar. Ligue-me quando se sentir perdida, ou quando a alegria explodir dentro de si e quiser partilhá-la com alguém que irá compreendê-la sem reservas. Ligue-me quando as palavras parecerem insuficientes, quando tudo o que conseguir dizer for um simples “olá”. Porque eu estarei aqui – presente e inteira. Estarei aqui para segurar a sua mão, para ser o ouvido atento ou, se necessário, o silêncio acolhedor. Não importa o que traga consigo: a sua dor, a sua alegria, a sua dúvida ou o seu riso. Tudo em si merece ser acolhido.

Quero que saiba, do fundo do coração, que não precisa de ensaiar as palavras antes de as dizer. Comigo, não há julgamentos, não há expectativas irrealistas. Eu acredito que nos entendemos para lá das palavras, que os laços que nos unem transcendem o que é óbvio ou visível. E por isso repito: ligue-me sempre que sentir que deve, mas não o faça porque acha que eu espero ou exijo algo de si. A relação que temos – ou que desejo ter consigo – não pode ser pautada por obrigações. Quero que os seus gestos sejam livres, autênticos e carregados de significado.

No fundo, o que lhe quero dizer é simples e, ao mesmo tempo, profundo. Eu vejo-a. Vejo-a naquilo que é, naquilo que sente e até naquilo que tenta esconder. E acredito no que vejo: um ser humano extraordinário, único, sensível, capaz de tocar e ser tocado por quem verdadeiramente a percebe. É isso que torna tudo isto tão especial.

Por isso, minha amiga, ligue-me se precisar. Sempre que precisar. Seja para partilhar os seus momentos de glória, os seus pesares mais profundos ou apenas para ouvir a minha voz num dia em que a solidão lhe pesa mais do que o habitual. Segurarei a sua mão com carinho e respeito, não apenas porque o mundo pede compaixão, mas porque acredito, com cada fibra da minha essência, que você é um ser humano especial, alguém que merece ser acolhido exatamente como é.

E é nesse gesto, nessa abertura para o encontro genuíno, que mora a verdade que escolhi partilhar consigo.










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