Ousadia Incompreendida
Enquanto segurava o telemóvel junto ao ouvido, escutava do outro lado uma voz que, apesar de firme, carregava um peso que não devia estar ali.
"Já pedi desculpa por ter feito os pais perderem tempo."
Essas palavras ressoaram dentro de mim de um modo que me incomodou profundamente, como um eco que insistia em repetir-se, cada vez mais intenso, cada vez mais injusto. Como é que alguém podia dizer tal coisa? Como é que a fizeram sentir que devia desculpar-se por algo que, na verdade, deveria ter sido celebrado?
A minha mente começou a correr por entre pensamentos que se atropelavam, sentimentos que se misturavam, uma inquietação crescente que não me permitia aceitar aquela frase sem mais nem menos. Não existia culpa a ser carregada, não havia erro cometido, apenas uma tentativa genuína de proporcionar uma experiência diferente, de abrir portas para algo novo, algo maior.
E, no entanto, ali estava ela, a pedir desculpa. Como se o simples facto de ter ousado fazer diferente fosse um erro. Como se o desejo de inovar, de sair do comum, de proporcionar uma nova perspetiva, fosse uma afronta.
A intenção era nobre: estimular a aprendizagem, incentivar a evolução, desafiar o pensamento. Uma ideia inteligente, estruturada, capaz de trazer um brilho diferente ao olhar de quem estivesse disposto a ver. E, no entanto, em vez de reconhecimento, encontrou resistência. Em vez de incentivo, sentiu-se obrigada a justificar-se.
Perguntei-me, naquele instante, o que leva as pessoas a reagirem assim perante a novidade, perante uma proposta diferente, perante um simples convite à reflexão? Será medo? Será conformismo? Será apenas uma resistência inata ao desconhecido?
O certo é que, ao longo da história, quantas mentes brilhantes não foram desacreditadas, quantas ideias revolucionárias não foram inicialmente rejeitadas, quantos passos em frente não foram travados por aqueles que, incapazes de compreender, optaram por desvalorizar?
E ali estava mais um caso. Um gesto de coragem transformado em motivo de justificação. Uma atitude louvável convertida, injustamente, numa suposta falta. Como se ousar sair da linha fosse um ato de rebeldia, como se querer mais fosse um erro.
Senti-me revoltada. Uma indignação serena, mas cortante. Não pelo que foi dito, mas pelo que ficou nas entrelinhas, pelo que a fizeram sentir. Pela forma como lhe roubaram, ainda que momentaneamente, a crença naquilo que propôs, a segurança no que idealizou.
E eu não podia permitir que aquilo passasse despercebido. Não podia deixar que aquela ideia se perdesse no ruído da rejeição, nem que aquela chama se apagasse sob o peso de uma desculpa que nunca deveria ter sido pedida.
Então, com toda a sinceridade e intensidade que as palavras me permitiram, tentei amenizar aquela dor, ainda que subtil, ainda que silenciosa. Tentei mostrar-lhe o que via: a coragem na sua ideia, a inteligência no seu gesto, a beleza no seu propósito.
Porque quando falamos, aprendemos. Quando ousamos, crescemos. Quando enfrentamos a resistência do mundo com a firmeza da nossa visão, conquistamos espaço para algo novo, algo melhor. E era isso que importava.
Espero ter conseguido. Espero que a minha voz tenha sido suficientemente clara, suficientemente forte para desfazer aquela sombra de culpa que nunca deveria ter existido.
Porque a verdadeira perda de tempo não esteve na sua iniciativa, mas sim na falta de visão de quem não soube reconhecer o valor do que ali acontecia. E isso, infelizmente, não é culpa de quem sonha, mas sim de quem não sabe sonhar.