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A mostrar mensagens de dezembro, 2023

Já não pergunto.

 Já não pergunto por que fizeste O que fizeste. Pergunto como é que eu deixei, Como é que eu, mãe, Deixei-te,  quase "amiga", Chegar tão perto do meu filho, E no fim, humilhá-lo, Destratá-lo, Rebaixá-lo diante de outros, Mentir sobre ele. Como é que eu deixei? Eu deixei, Porque confiei. Porque eras mais do que uma professora, Eras minha suposta quase "amiga". Entreguei-te o meu filho, O meu maior tesouro, Acreditando que o tratarias com o cuidado E o respeito que ele merecia. Mas o que fizeste foi tão longe do que eu esperava. Agora pergunto, Como é que deixei? As tuas palavras, que deveriam educar, Viraram pedras, Humilhações que o feriram, E eu, cega de confiança, Não vi. Como pude não perceber Que em vez de ensiná-lo, O estavas a rebaixar? Enquanto eu seguia uma linha reta de confiança, Tu criavas curvas de desprezo, Pisavas o seu orgulho, E fazias dele um alvo Para a tua autoridade injusta. Gritaste que estavas certa, Quando me confrontei contigo, E eu, ainda at...

O meu desejo é desconhecer pessoas.

Não todas, naturalmente. Há rostos que ficam connosco, como o calor persistente de um sol tímido em pleno inverno; há palavras que se cravam na memória, não como feridas, mas como mapas, apontando caminhos onde antes só havia desorientação. Quero preservar esses. Quero guardar quem soube tocar sem exigir, quem ocupou espaço sem esmagar, quem silenciou sem ofender. Quero, no entanto, desconhecer os outros. Quero apagar o vestígio daqueles que chegaram com as mãos estendidas e o coração fechado. Quero apagar as suas vozes — sim, essas vozes que nunca disseram nada, apenas ruíram por dentro, como edifícios abandonados no tempo. Quero devolver-lhes os olhares que nunca souberam ver nada para além de si próprios. Desfazer os toques que não tocaram, devolver os sorrisos que eram máscaras baratas e falsos portos de abrigo. Gostava que viessem com um botão: um pequeno e discreto "Desfazer" ao alcance de um pensamento. Ou com uma data de validade inscrita no próprio olhar, uma etiquet...