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A bondade é uma escolha — e eu escolhi-me.

Há algo profundamente irónico, até hilariante, na forma como certas pessoas reagem à presença de virtudes humanas como se estas fossem uma ameaça ao equilíbrio do seu cinismo. Aproximam-se, farejam como cães desconfiados, e sentenciam: “Ninguém é assim tão bom. Está a fingir.” Como se a integridade fosse um disfarce carnavalesco. Como se a generosidade fosse um golpe de marketing. Como se a empatia não passasse de um truque de ilusionismo emocional. Perdoem-me o sarcasmo. Mas é que há limites para o absurdo. Eu não finjo. Sou mesmo assim — e não porque nasci iluminada numa noite estrelada sob um eclipse em Sagitário. Sou assim porque lutei, milímetro por milímetro, contra a versão mais selvagem, instintiva, impulsiva e egoísta de mim. Não me foi dada, esta versão que hoje vos fala. Foi construída — tijolo a tijolo, cicatriz a cicatriz, dia após dia, com uma disciplina quase monástica. A minha honestidade? Foi afiada na forja das conversas difíceis que tive comigo própria. A minha paciê...

A Atmosfera da Alma: O Silêncio Onde Habita a Verdadeira Bondade

Há seres cuja presença não se escuta, mas sente-se. Como uma brisa quente num fim de tarde, como a luz coada pelas folhas. Não dizem muito. Não se apressam. Não se impõem. Mas onde estão, o mundo respira de outro modo. Há uma paz subtil, uma delicadeza quase invisível. É a isso que chamo bondade — não a do gesto grandioso, nem a da palavra perfeita, mas a da vibração essencial de um espírito que, sendo inteiro, não precisa ferir nada à sua volta para afirmar que existe. A bondade verdadeira não se anuncia, nem se exibe. Não há nela vaidade, nem teatralidade. Como escreveu Simone Weil, “a atenção é a forma mais rara e mais pura de generosidade”. E é talvez isso — essa escuta profunda, esse cuidado silencioso com o outro — que melhor define a alma boa. Não se trata de ser agradável, nem de fazer o bem por reflexo condicionado. Trata-se de habitar o mundo com leveza, com uma consciência viva de que o outro é um mistério sagrado. Emmanuel Levinas falava disso quando via na “face do outro” ...

Oração de um Hipócrita em Fúria

Há orações que sobem aos céus como incenso; outras, como esta, sobem apenas até ao teto — e ainda assim fazem eco suficiente para alimentar um culto inteiro em torno do próprio ego. É fascinante, quase poético, observar como a fé pode ser manipulada para servir a vaidades com assinatura personalizada e moralidade sob medida. Nesta oração — que mais parece um espelho onde poucos ousariam olhar com honestidade — não há espaço para a autenticidade espiritual, apenas para a performance. Trata-se de uma súplica embebida em sarcasmo e revestida com a mais fina hipocrisia litúrgica, com a qual muitas consciências confortavelmente se cobrem ao domingo. Como mulher, como pensadora, como observadora crítica da fé tornada espetáculo, trago-vos esta prece: um retrato pungente da religiosidade domesticada pelo algoritmo, onde a piedade se mede em visualizações e a santidade se vende em embalagens recicláveis. Que esta oração sirva não como guia, mas como alerta — um espelho de linguagem polida e al...

Apocalipse da dignidade.

 A Morte Lenta da Dignidade na Sala de Aula: Um Chamado Urgente à Responsabilidade Vivemos um tempo em que o verdadeiro apocalipse não se anuncia com fogo ou catástrofes naturais, mas com o colapso silencioso da dignidade humana. E onde este colapso se torna mais visível, mais doloroso, mais gritante? Nas escolas. Nos corredores outrora sagrados da educação, onde o conhecimento era cultivado com respeito e onde os professores eram, por direito e mérito, autoridades intelectuais e morais. Hoje, a escola é, demasiadas vezes, palco de desrespeito, violência e indiferença. O caos já se instalou, e urge, com toda a firmeza do verbo, repensar o que andamos a fazer — ou melhor, o que deixámos de fazer — enquanto sociedade. Não se trata de um desabafo inflamado, mas de uma constatação crua: o desrespeito pelas figuras docentes deixou de ser exceção para se tornar sintoma. E este sintoma denuncia uma sociedade doente, uma cultura que falhou em transmitir o essencial — a noção de que a liber...

Manual do Crente Moribundo

Como Morrer Espiritualmente em 7 Passos Simples Pare de pensar. Pensar é o início da apostasia. Questione nada. A fé dos moribundos se alimenta de frases prontas e versículos vomitados em série, sem contexto, sem sentido, mas com certeza. Não busque entender — busque decorar. Confunda histeria com unção. Chore. Grite. Caia. Repita “fogo!” até parecer que está pegando. Não importa se sua alma está morta por dentro — desde que o teatro esteja vivo, o céu estará satisfeito (ou pelo menos o "pastor" estará). Desconfie de tudo, menos da sua bolha. Ateus? Servos de Lúcifer. Católicos? Idólatras. Espíritas? Feiticeiros. Muçulmanos? Terroristas. Evangélicos de outra denominação? Lobos. Só você e seu "pastor" têm a senha do Wi-Fi celestial. Faça da Bíblia uma arma. Não leia para crescer — leia para julgar. Use o Antigo Testamento como munição moral e o Novo como legenda para selfie com o copo de ceia. Lembre-se: mais vale uma condenação bem dada do que uma dúvida bem refleti...

O Peso Leve dos Ramos

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 Domingo de Ramos: o início de um caminho sagrado O Domingo de Ramos marca, liturgicamente, a entrada na Semana Maior do calendário cristão — a Semana Santa. É o dia em que se celebra a entrada de Jesus em Jerusalém, acolhido pelo povo com ramos de árvores, estendidos no chão como tapete de honra, e saudado com aclamações de júbilo: “Hosana ao Filho de David!”. Uma entrada triunfante e humilde, montado num jumento — sinal de paz, não de conquista —, anunciando já a inversão dos valores do mundo que o Evangelho nos propõe. Este gesto, repetido simbolicamente todos os anos, não é uma mera encenação litúrgica, mas um apelo profundo à nossa consciência: estamos preparados para acolher o Cristo em nós? Reconhecemo-lo nas alegrias, mas também nas dores, nas promessas e nas renúncias? O mesmo povo que o aclama nesse dia, será aquele que, dias depois, o negará. Uma advertência silenciosa para a nossa própria inconstância espiritual. Em Portugal, e particularmente na minha tradição familiar...

Está à espera

Está à espera que eu procure, que volte atrás no tempo e no gesto, que reabra portas já seladas pelo silêncio. Está à espera que eu contacte, que diga palavras que curem feridas que não fui eu a abrir. Está à espera que eu admita, culpas que não me pertencem, fragilidades que não nego — mas que também não te dei. Está à espera que perdoe, que esqueça o que não soubeste valorizar, que apague a dor com um toque de memória suave. Está à espera que fique imóvel, que não mude, que continue a ser o reflexo de uma amizade que já não reconheço. Está à espera que eu não evolua, que eu sinta falta, que me perca em saudade, como se isso fosse prova de amor. Está à espera que eu me cale, que guarde o que dói, que te absolva no meu silêncio. Está à espera de tudo — do que dei, do que não dei, e até do que já não tenho para dar. Mas amizade é caminho de dois, e tu esqueceste os teus passos. Eu esperei, esperei demais, e no fim, perdi-me na tua ausência. Agora sou eu quem escolhe. Sou eu quem termina...

A Sublime Arte de Ser Quem Sou: Entre Silêncios, Liberdade e Propósito

Há momentos na vida em que somos convocadas — não por outros, mas por nós mesmas — a olhar com firmeza para dentro, sem filtros, sem máscaras, sem necessidade de aprovação. E quando esse chamamento interior se torna demasiado evidente para ser ignorado, algo em nós muda. Algo acorda. Algo decide, por fim, existir em plenitude. Foi nesse ponto que eu me encontrei. Num silêncio ensurdecedor, mas profundamente revelador, onde percebi que a minha maior liberdade reside na escolha consciente de não me justificar constantemente. Durante muito tempo, vivi numa dança exaustiva entre o que eu sentia e o que os outros esperavam de mim. E confesso: tentei agradar, tentei explicar, tentei suavizar a minha essência para não desagradar. Justificava cada gesto, cada ausência, cada escolha. Como se a minha vida fosse um contrato social em que cada parágrafo exigisse validação alheia. Mas quanto mais me explicava, mais me afastava de mim. Tornava-me refém de um sistema invisível onde o valor era medido...

Quando o Sistema Não Vê: A História de um Menino Brilhante e a Escolha pela Paz

 Com três anos, o Alexandre lia fluentemente. Fazia contas mentais complexas, falava inglês com naturalidade e tinha um fascínio por ciência e história que desconcertava até adultos. Era, desde cedo, evidente: não era apenas uma criança inteligente — era uma criança sobredotada. Mas ser sobredotado, em Portugal, é muitas vezes carregar uma condição invisível. Em vez de portas abertas, surgem barreiras. Em vez de estímulo, surgem rótulos. E no lugar do acolhimento, surge a desconfiança. Logo no início do percurso escolar, o Alexandre encontrou resistência. Não foi reconhecido. Pior: foi mal interpretado. Tentaram "normalizá-lo", encaixá-lo numa estrutura rígida e desenhada para a média. Chorava com frequência. Dizia-me: “Só queria ser como os outros.” Doía-me vê-lo assim, não por não ser igual — mas por desejar apagar o que o tornava extraordinário para poder pertencer. Teve um momento de esperança. Uma professora pareceu vê-lo — escutá-lo, aceitá-lo. Acreditámos por instantes...

Meu Caminho, Minhas Razões: Respeite a Liberdade de Escolher

 É fascinante como muitas vezes as nossas rotinas são interpretadas à luz das percepções alheias, sem que, por vezes, haja uma compreensão clara das razões que as fundamentam. O meu dia a dia, como o de qualquer outra pessoa, é movido por uma série de motivos práticos e pessoais, que se entrelaçam, muitas vezes, com as minhas escolhas e compromissos. No entanto, é necessário sublinhar algo que parece ser frequentemente desconsiderado: o meu caminho não tem outra intenção senão a de seguir aquilo que a minha vida exige, nada mais, nada menos. Sim, quase todos os dias passo ao lado do tribunal. Não porque queira ou precise de causar qualquer tipo de impressão, mas porque a vida me leva para aquela direção. Trabalho naquela área, tenho compromissos e amizades que me exigem estar por ali. A razão pela qual sigo este percurso não é de forma alguma associada a algo que envolva juízos ou expectativas externas. Não cometi crime algum, não sou sombra de ninguém e o que faço é o simples movi...

Bênção Sem Engano

 09-03-2025. Ontem explicava a uma amiga o que é que mudou em mim e o que continua a mudar. A transformação que vivi não foi como um toque de varinha mágica. Não foi um “clic” que apagou tudo o que era em mim e substituiu por algo novo, algo perfeito. Não. O que mudou em mim foi mais subtil, mais doloroso, mais verdadeiro. Foi um processo — um processo que se alimenta de morte e de renascimento. E, talvez, por isso mesmo, seja tão difícil de expressar. Tentei traduzir tudo aquilo em palavras, mas as palavras fogem. Tudo o que posso dizer é: Deus não me deu uma vida nova. Deus fez de mim uma nova vida. Eu vou à Igreja, sim. E vou porque ali encontrei algo que o mundo não pode dar. Vou à Igreja não para pedir favores, não para obter favores terrenos, mas porque ali encontrei uma fé que me força a morrer para mim mesma, para que possa verdadeiramente nascer para algo que não sou capaz de gerar por mim mesma. Não vou em busca de sucesso, de segurança, ou de garantias de que a minha vid...

Aos que lêem – e aos que se doem

Sei que não tenho enviado os textos. Sei, sim. Não é esquecimento. É escolha. Por vezes o silêncio é mais eloquente que o verbo, e há fases em que a quietude da mente serve mais à lucidez do que a compulsão por partilhar. Mas agora, neste breve intervalo entre o caos e a contemplação, escrevo. Para os que sentem saudade daquelas palavras que, dizem, confortam. Para os que se nutrem da minha exposição como se fosse espelho.  É curioso: recebo mensagens comoventes, cheias de ternura e gratidão, de quem se vê nos meus textos como se fossem confissões suas. Como se eu desnudasse as suas dores com a precisão cirúrgica de quem conhece o fundo do abismo. E conheço. Agradeço de alma cheia a esses — os que se encontram nas entrelinhas, os que compreendem o sentido por trás do sarcasmo, os que sabem que cada frase tem mais de faca que de flor. Mas hoje escrevo sobretudo para os outros. Para os que se incomodam. Para os que se irritam. Para os que dizem que “não é bem assim”. Para os que se s...

Não é o que tenho, é o que sou.

Sabes… há coisas que realmente nos definem. Mas não falo de títulos, de diplomas ou do que a sociedade valoriza. Falo de coisas simples, mas profundamente reveladoras. O teu sorriso quando não tens nada. A tua atitude quando tens tudo. Sorrir na ausência — isso sim é grandeza. É fácil ser gentil, generoso e feliz quando tudo está no lugar, quando há estabilidade, quando se é reconhecido. Mas manter o brilho no olhar no meio da tempestade… isso é alma forte. Há quem só saiba ser feliz quando tudo corre bem, mas eu aprendi a sorrir mesmo quando me doía respirar. Porque a minha paz não depende do que possuo, mas daquilo que carrego cá dentro. E isso, ninguém me pode tirar. Já quando a vida começa a dar-nos aquilo por que sempre lutámos — seja amor, estabilidade, sucesso — aí é que se revela a essência. O poder é um espelho perigoso: mostra-te a ti próprio como realmente és. Há quem se perca, se torne arrogante, se esqueça das raízes. E há quem se mantenha de pé, com humildade, com consciê...

Quando o Projeto Começa Antes de Começar

 A professora propôs um trabalho para as férias. Um daqueles desafios que não surgem apenas para preencher o tempo livre ou para manter os alunos ocupados, mas sim para lhes dar espaço para criar, pensar, imaginar — para se expressarem. Um tema foi lançado, claro e definido, mas a liberdade para interpretar, desenvolver e concretizar estava toda nas mãos dos alunos. Um convite subtil à criatividade, ao compromisso e à descoberta. E bastou essa proposta, lançada antes do final das aulas, para o meu filho começar a fervilhar por dentro. As férias ainda mal tinham começado, mas ele já estava com o pensamento no que poderia vir a ser este projeto. E isso, por si só, diz muito: mostra que não se trata apenas de uma tarefa a cumprir, mas de algo que ele quer mesmo fazer, viver, construir. Hoje foi o dia em que nos sentámos para conversar. A escola já ficou para trás, a rotina abrandou, os horários tornaram-se mais leves — e finalmente tivemos o tempo certo, a cabeça no lugar certo, para ...

Senhor dos Passos.

Eu vou à Procissão do Senhor dos Passos. Não vou apenas porque é tradição, nem porque se espera que eu vá. Vou porque há em mim uma necessidade antiga, funda, de reencontro — com a fé, com o tempo, com a memória dos meus e com a minha própria essência. Vou como mulher inteira, feita de dúvidas e de crenças, de fragilidades e de esperanças, com o coração aberto àquilo que não se vê, mas que se sente com a força de uma verdade íntima. Vou como quem regressa a casa depois de uma longa viagem por dentro de si mesma. A Procissão do Senhor dos Passos, que tem início às 16h30, é muito mais do que um rito religioso. É um espelho da alma humana em marcha. É uma celebração do sofrimento que redime, da entrega que salva, da fé que resiste. A figura do Senhor dos Passos — Jesus Cristo curvado sob o peso da cruz — é talvez a mais profundamente humana de todas as representações divinas. Nele, não vemos apenas Deus, vemos um homem a cair, a levantar-se, a continuar, a perdoar. Nele, vemos a imagem de...

Confesso...

Confissão sem sacramento – ou como fiz as pazes com a mulher que fui em 2023 As confissões foram ontem. Não houve fila na igreja,mas houve gente ajoelhada, silêncios pesados e talvez até algumas lágrimas discretas. Eu não fui. Não por arrogância espiritual — até porque pecadora me sei — mas porque entendi que o tipo de confissão que eu precisava fazer não pedia sacramento. Pedia consciência. Palavra. Memória. E, acima de tudo, honestidade. É fácil recitar fórmulas de arrependimento. Difícil é encarar de frente a versão de nós mesmas que deixámos para trás, especialmente quando essa versão nos envergonha mas principalmente nos comove em proporções semelhantes. Por isso, escrevi. Não para absolver-me, mas para compreender. Para fazer as pazes com a mulher que fui nos últimos meses, em 2023 — e deixá-la, finalmente, repousar. Segue-se o que não confessei num confessionário, mas confessei a mim mesma — e, talvez, a quem souber ler. Ontem foi dia de confissões. Eu não fui. Não porque não te...

Agora...

 São 16h22. O dia segue seu curso, e a luz suave da tarde preenche o ambiente com uma calma convidativa. O sol já está mais inclinado, mas ainda mantém a sua intensidade, iluminando o parque com um brilho dourado que faz cada folha, cada árvore, parecer mais viva. A brisa fresca começa a se tornar mais constante, anunciando a transição para a parte mais tranquila do dia. As horas parecem se expandir neste momento, e a sensação de que o tempo desacelera é quase palpável. Agora, com o relógio marcando esse exato instante, o parque parece estar em sua melhor versão – mais silencioso, mais íntimo. As crianças no parque infantil vão diminuindo seu ritmo, e o burburinho se torna mais distante, enquanto o ambiente ao meu redor se enche de uma quietude que me permite mergulhar de forma plena nas páginas que estou lendo. A luz suave das 16h22 toca as páginas da via sacra, criando sombras delicadas que dançam ao ritmo da brisa. Cada palavra parece ter mais peso, e eu me sinto mais conectada ...

Reflexão: abril

 A Misericórdia: Essência Divina e Chamado Humano A misericórdia é a mais sublime expressão do amor divino. Não é apenas um sentimento passageiro, mas a manifestação concreta da compaixão de Deus na história da humanidade. É o fio dourado que entrelaça justiça e amor, permitindo que a redenção triunfe sobre o peso do pecado. Ser misericordioso é tocar na própria essência de Deus, pois como diz o Salmo: "É eterna a sua misericórdia!" Mas o que significa, verdadeiramente, para mim, a misericórdia? Para além da definição teológica, a misericórdia é um convite radical a amar o outro como Cristo nos amou. É perdoar não sete, mas setenta vezes sete. É enxergar no inimigo um irmão, no caído uma alma digna de reerguimento. A misericórdia desafia a lógica fria da retribuição e nos insere na dinâmica do dom: dar sem esperar, amar sem reservas, acolher sem julgar. Já senti a misericórdia de Deus? Sim, e inúmeras vezes. A cada queda, Ele me ergueu. A cada noite escura da alma, Ele brilho...

Estranhamente.

 Eu muito raramente sonho, mas ontem sonhei. O mais estranho é que não recordo com quem estava a falar. Recordo que segurei em suas mãos e o que disse. No fim, abracei, passei a mão pelos seus cabelos com carinho, mas não recordo se era mulher ou homem, criança ou adulto. No entanto, as palavras lembro de todas. Hoje, quando estava a combinar o sítio onde uma amiga vinha buscar-me para irmos à Via Sacra, numa igreja perto do rio Tejo, contei-lhe. Ela também ficou admirada. Como posso recordar palavras vividamente de um sonho sem lembrar da pessoa com quem estava a falar? A mente humana tem com cada coisa... Partilho o meu monólogo, visto não recordar com quem falei... "Diz-me... como está o teu coração hoje?" Às vezes finges que és forte quando, na verdade, estás quebrada. Quantas vezes não tens forças para te levantar da cama, mas ainda assim vestes uma personagem e sais de casa? Quantas vezes sorris só para disfarçar? Brincas com as pessoas que privam e cruzam contigo, para...

A professora... A escola

 O peso de uma despedida e a promessa de um reencontro Hoje, meu filho voltou para casa com um brilho nos olhos que há muito tempo eu não via. Era o brilho de quem se sentiu reconhecido, acolhido, pertencente. No seu jeito humilde e puro de enxergar a vida, ele estava feliz. Mais do que isso, estava realizado. Mas, como tudo que é verdadeiro, essa alegria vinha acompanhada de um sentimento profundo, quase contraditório: uma saudade antecipada. Ele sabe que, em breve, deixará essa escola que se tornou tão especial para ele. Uma escola pequena, sem corredores imensos ou grandes estruturas, mas que carrega em si algo muito maior: pessoas que fazem a diferença. Ele criou laços, construiu memórias e encontrou ali um ambiente onde se sentiu valorizado. Não é apenas o lugar que o marca, mas as relações que ele cultivou. Entre elas, a mais especial é com sua professora. Não é um amor idealizado, mas um carinho genuíno. Uma ligação construída com respeito, compreensão e aprendizagem. Ele go...

Amor verdadeiro.

Amor Verdadeiro ou Ilusão? Descobre a Diferença Antes que Seja Tarde! Amar e ser amada... duas faces de uma mesma moeda, mas que nem sempre se revelam com a mesma autenticidade. Ao longo da minha vida, aprendi que o amor verdadeiro não se confunde com o simples desejo de posse, com a ânsia de preencher vazios ou com a necessidade de validação. Amar, na sua forma mais pura, é um exercício de entrega, respeito e crescimento mútuo. Existem amores que se constroem sobre alicerces sólidos, feitos de presença, de compreensão e de cumplicidade inabalável. São esses que florescem, mesmo nas tempestades, e que permanecem quando a euforia da novidade se desvanece. Quem realmente me ama, cuida. Cuida das palavras que me dirige, dos gestos que me oferece, das emoções que me confia. Quem me ama de verdade não me vê como um instrumento para saciar carências, mas como um ser humano complexo, com sonhos, medos e aspirações que vão além da relação em si. Por outro lado, há aqueles que não amam a minha ...

Reflexão: A verdade da minha escolha na religião.

 Tive vergonha de mim mesma quando percebi que a vida era um baile de máscaras e eu, insuspeita, avançava para o centro do salão com o rosto desnudo. Por entre as sombras esculpidas em falsas cortesias e sorrisos fabricados, compreendi, tardiamente, que a sinceridade não é virtude, mas sim fragilidade; que a transparência não é força, mas vulnerabilidade exposta ao escárnio e à condescendência daqueles que há muito aprenderam a tecer a sua própria máscara com os fios da dissimulação. A sociedade, esse teatro de fantoches manipulados por interesses e conveniências, exige de nós uma performance constante. A verdade crua, despida de adornos, é um ultraje, uma afronta imperdoável ao contrato social implícito que exige, de cada um, a entrega total à ilusão coletiva. Não há espaço para rostos verdadeiros neste festim de aparências, onde o que importa não é o que somos, mas o que conseguimos parecer ser. Quando me apercebi desta mecânica cruel, senti um misto de humilhação e revolta. Como...

Reflexão pessoal: História rocambulesca leva a amizade improvável... verdadeira.

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 2024 trouxe consigo uma sucessão inesperada de encontros e reencontros, apesar de todas as barreiras que, meticulosamente, erigi ao longo dos anos. Muros erguidos com determinação, na vã tentativa de me proteger do mundo, da decepção, da traição, da má-fé que tantas vezes se disfarça de amizade. No entanto, a persistência e a resiliência de algumas pessoas foram além dessas muralhas, insistindo em conhecer-me, ainda que parcialmente, desvendando, aos poucos, fragmentos do meu ser. Antes de determinados eventos, já a minha confiança na humanidade se encontrava fragmentada – apenas 30% do que me rodeava era digno desse sentimento. Agora, após tudo o que vivi, se concedo 10% de confiança, já considero uma generosidade incomensurável. Aprendi, da forma mais árdua, que a ingenuidade não é sinónimo de bondade, e que a prudência não deve ser confundida com frieza. Entre aqueles que cruzaram o meu caminho neste ano singular, alguns são irmãos na fé. Sei, como poucos, que nem todos os que ...