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A Arte de Coser a Alma.

Há algo na dor que não se explica, mas se experimenta. Uma dor profunda, quase ontológica, que não surge de um simples mal-estar passageiro. Esta dor é raiz e ferida. É um corte invisível que grita na alma, mesmo quando a boca permanece cerrada. Encontrei-me nesse estado, fragmentada. Cada parte de mim parecia descolada do todo, um emaranhado desconexo de memórias, mágoas e expectativas frustradas. Era como se, em algum momento da minha jornada, eu tivesse deixado de ser uma casa e me tornara um campo de ruínas. Foi então que me deparei com a ideia. Cosê-lo. Não sabia como ou com que instrumentos, mas a intuição feminina — essa força ancestral — sussurrou-me: "Cose-te, salva-te". Era uma promessa de redenção autoimposta, um caminho de remendo e reconstrução. Peguei na agulha imaginária e no fio metafísico feito de paciência e determinação. O primeiro ponto foi como uma punhalada: precisei rasgar as costuras antigas, abrindo feridas que pensava cicatrizadas. Era assustador exp...

Desafio aceite.

 O agrupamento escolar lançou-nos um desafio: escrever um poema sobre o Natal em conjunto, pais e filhos. Para mim, esta foi uma oportunidade especial de criar algo com o meu filho, mas com uma certeza clara: o trabalho em conjunto com professores não faz parte desta jornada. No passado, ficou provado que essa abordagem não resulta para nós. Foi uma experiência que não quero repetir, uma lição importante que eu e o meu filho aprendemos. A partir daí, decidi que só trato com a escola o que for estritamente essencial, e qualquer dúvida ou problema é resolvido em casa, entre família. Com respeito, amor e dedicação, agarrámos este desafio e criámos algo de que nos orgulhamos profundamente. É com muito carinho que partilho o nosso poema sobre o Natal. Natal: O Espírito que Transcende O Natal não é só luz nem canção, É o eco profundo no coração. Não vive no ouro nem no embrulho, Mas no gesto simples que rompe o orgulho. É no amor que o Natal se revela, Força que une e nunca cancela. Mesm...

Rosa.

 Na vastidão da minha alma, feita de tempo e amor, existe um recanto onde as palavras ganham vida e onde as sementes dos sonhos se transformam em flores eternas. É dali que escrevo, de um lugar que não pertence ao mundo físico, mas a um universo íntimo, pulsante e inesgotável. Ali, ergue-se a rosa dos sonhos – uma flor rubra, de pétalas aveludadas, que traz consigo os segredos da eternidade. Sabes o que faz brotar essa rosa? Não é um simples acaso, nem a mera vontade do destino. É, antes de tudo, o sonho – aquela centelha divina que transcende a carne e mergulha no imenso oceano do espírito. Primeiro é apenas um murmúrio, um desejo tênue, que se insinua como quem não quer ser notado. Mas depois, ganha corpo. O sonho torna-se raiz, crava-se na profundidade do ser e faz germinar aquilo que parecia impossível. E assim vejo-me a contemplar esse ciclo milagroso. A rosa, vermelha como o pôr do sol, começa sua jornada num lugar secreto, onde ninguém ousa olhar. É no silêncio, na escuridão...

A Arte de me Superar

Eu sou a manifestação da esperança que resiste, do amor que se recusa a apagar-se, da força que me habita mesmo nos dias em que penso que tudo dentro de mim se desmoronou. A vida ensinou-me, não com delicadeza, mas com persistência, que em cada momento de escuridão existe uma faísca de luz à espera de ser redescoberta. E eu descobri que essa luz está dentro de mim. Sou a minha própria salvadora, ainda que tenha demorado a perceber. Aprendi, ao longo do caminho, que cair não é o oposto de avançar, mas uma parte inevitável do meu crescimento. Cada tropeço, cada lágrima derramada, cada pedaço quebrado de mim mesma foi terreno fértil para semear a minha reconstrução. Aprendi a abraçar a dor não como inimiga, mas como professora. Ela deu-me a profundidade de quem olha para dentro e encontra beleza até no caos. Cresci a acreditar que deveria continuar sempre em frente, independentemente das adversidades, e, com o tempo, esse ensinamento revelou-se como um presente precioso. Não porque precis...

A Sublimidade da Sensualidade

Eu sou mulher, e na vastidão do meu ser, carrego o mistério e a doçura que definem a essência feminina. Quero, pois, falar da sensualidade, esse dom etéreo que a alma feminina exala sem esforço, sem vulgaridade. A sensualidade é mais do que um traço; é uma arte, um caminho esculpido pela experiência, pela delicadeza de sentimentos e pela profundidade de espírito. Não se confunde com a ostentação ou o apelo fácil e desmedido; não se sujeita a ser percebida como algo rude, mas erguida como uma expressão autêntica de quem sabe ser mulher. Ser sensual é ter o conhecimento pleno do próprio corpo e da própria alma, é transformar cada gesto numa dança, cada olhar num verso, cada palavra num convite subtil a um mundo mais profundo, mais belo, mais humano. Não é a pele desnuda que clama por atenção, nem os ecos de desejos alheios que moldam este poder; é, antes, a sabedoria com que permito que a minha luz interna transcenda a carne e toque os sentidos de quem vê. A sensualidade não tem pressa. ...

Eu sei

 Eu sei que ele é. Sempre soube. Mas ouvir aquelas palavras ditas por ele, naquela simplicidade tão profunda, fez com que tudo dentro de mim se iluminasse. A frase dele — “Eu sou uma criança igual às outras” — ainda ecoa em mim, como um lembrete de algo que já era óbvio, mas que a vida cotidiana às vezes ofusca: o valor de ser apenas quem se é. Ele sentia-se assim porque, na outra escola, o peso das comparações era quase insuportável. Lá, parecia que ele era constantemente medido e classificado, como se precisasse caber num molde rígido e estreito que nunca foi feito para ele. A pressão para ser o “melhor”, para se destacar, para ter um comportamento dentro de um padrão ou corresponder a expectativas que nem eram suas, transformava a leveza natural da infância em um fardo pesado. Eu o via mudar, aos poucos, naquela época. Ele, que sempre foi curioso, brincalhão e cheio de vida, começou a se calar mais, a hesitar antes de expressar-se, como se duvidasse de si mesmo. Eu sentia isso e...

Reflexão: Liberdade condena ou salva.

A frase de Jean-Paul Sartre ressoa profundamente em mim, como uma advertência constante e inescapável da condição humana: somos condenados à liberdade. É um paradoxo inquietante e, ao mesmo tempo, uma declaração de autonomia absoluta. Na liberdade, reside o peso esmagador da responsabilidade. Não há escapatória. Tudo o que faço, digo ou escolho não dizer carrega consequências, tece relações, molda mundos — mesmo na quietude aparente do silêncio. Quando falo, as palavras são como flechas disparadas num campo de possibilidades infinitas. Elas podem acertar alvos que iluminam consciências, mas também podem ferir, mutilar. Palavras têm peso, e muitas vezes são mais carregadas do que queremos admitir. Já percebi, em momentos de reflexão, que cada frase dita, cada gesto de comunicação explícito ou implícito, cria ondas num lago invisível que se espalham para além do meu controlo. Mas o silêncio... Ah, o silêncio é um território tão vasto quanto as palavras, e igualmente perigoso. Como mulher...

Pequenas coisas

A felicidade, muitas vezes, está escondida nos detalhes que o cotidiano apressado tenta encobrir. É comum buscarmos grandes acontecimentos para preencher o coração, mas a verdade é que a essência da vida está nos momentos simples, aqueles que, à primeira vista, parecem pequenos, mas carregam um significado profundo. É no som das risadas durante uma conversa despretensiosa, no primeiro raio de sol que atravessa a janela pela manhã, ou até mesmo na sensação de pés descalços na erva, que encontramos o verdadeiro sentido de alegria. Essas pequenas coisas, quando percebidas, tornam-se ancoradouros de gratidão. Elas  ensinam-nos a desacelerar, a respirar fundo e a enxergar a beleza que existe naquilo que já temos. Não são grandes realizações que  sustentam-nos diariamente, mas sim esses momentos genuínos, muitas vezes silenciosos, que mostram-nos que a felicidade não precisa ser procurada em outro lugar — ela já está aqui, ao nosso redor, á espera, para ser notada. E se a felicidade...

Maria, Nossa Mãe

 Recentemente, deparei-me com uma conversa curiosa e, de certa forma, desafiadora com uma conhecida evangélica. Perguntou-me ela, com sincera preocupação, se eu estava bem na fé que professo. Respondi, sem hesitação, que sim, e que sou católica com muito orgulho, amor e, sobretudo, com uma fé sólida e inabalável. A reacção dela, porém, veio como uma espécie de provocação velada: "Quem morreu por ti na cruz foi Jesus, não a mãe dele." Reconheci a sua perspectiva, consciente de que, para muitos evangélicos, Maria é vista como uma figura secundária ou, até mesmo, irrelevante no plano da salvação. Contudo, não pude deixar de expor o meu entendimento com a mesma clareza com que defendo os valores da minha fé. A certa altura, utilizou uma metáfora que, a meu ver, pecava pela simplificação excessiva da questão: "Se fores a uma consulta médica e, em vez do médico, encontrares apenas a mãe dele, serias consultada por ela?" Era evidente que tentava desqualificar o papel de Ma...

Amar Não Basta

 Desde cedo, aprendi que o amor é uma estrada longa, mas cheia de bifurcações, atalhos, obstáculos e paisagens que nem sempre conseguimos prever. Não acredito em contos de fadas, mas tampouco nego a magia que o amor traz às nossas vidas. A magia, porém, não é suficiente. Amar é um ato de construção. É erguer, diariamente, um castelo onde o respeito, a paciência e a cumplicidade são as pedras mais resistentes. E digo isto porque vivi, vivo e vi. Passei anos a observar casais que desfazem-se e outros que resistem, e cheguei a uma conclusão: o amor não se basta, por mais belo que seja. Ele precisa de uma série de aliados para sobreviver. Precisa de respeito, aquele que nunca grita mais alto do que o outro, que não invade fronteiras pessoais e que reconhece a individualidade de quem escolhemos amar. Sem respeito, o amor murcha, perde-se, resseca. Há quem pense que o amor verdadeiro é uma linha reta. Uma vez encontrado, mantém-se constante, fluido, sem interrupções. Mas a realidade é ou...

Do Medo ao Amor

 Eu aprendi, ao longo da vida, que o medo é o maior inimigo que habita no coração humano. Ele é sorrateiro, insidioso, esconde-se nas sombras da nossa mente, alimenta-se das nossas incertezas. É o medo que dá origem à raiva, à inveja, à tristeza e até à culpa que consome-nos como um fogo lento. Muitas vezes, ele mascara-se, disfarça-se de prudência ou de autoproteção, mas é sempre medo. Vivi anos a tentar entender as minhas angústias. Por que razão sentia-me incapaz de seguir em frente em momentos cruciais? Por que permitia que palavras amargas de outros afetassem-me tanto? A resposta estava sempre ali, evidente, mas eu não queria encará-la: o medo. O medo de falhar. O medo de ser rejeitada. O medo de não ser suficiente. Era um veneno subtil, que  espalhava-se sem que eu notasse, tornava-me prisioneira de mim mesma. Mas descobri, com tempo e lágrimas, que há um remédio para este mal que corroía-me: o Amor. Não um amor superficial ou meramente romântico, mas o Amor profundo, es...

Dezembro.

 Quando chega dezembro, há quem espere que  fale-se de amor, esperança, solidariedade e compaixão. É o espírito da época, dizem. Mas hoje, não vou escrever sobre isso. Hoje vou falar sobre café. Sim, o café. Esse companheiro fiel que acolhe-me todos os dias, sem julgamentos, sem pressa, e sempre com a intensidade que eu procuro. Não gosto de leite, nunca gostei. E mesmo que quisesse disfarçar o sabor do café com ele – o que seria um crime, diga-se – o resultado seria desastroso. Não há chávena no mundo que justifique a minha manhã estragada com visitas inadiáveis ao quarto de banho. Assim, mantenho-me fiel ao puro, ao genuíno, ao café como ele é: negro, forte e direto, sem rodeios. O cheiro do café pela manhã é, para mim, o verdadeiro despertar. Não há despertador que tire-me do torpor como aquele aroma quente e penetrante, que enche a casa e chama-me para começar o dia. É como um convite irresistível. O primeiro gole, então, é quase cerimonial. Fecho os olhos e deixo que a in...

Falsa piedade.

 Dizem-me, com um ar de falsa piedade: "Estás a envelhecer. Tornaste-te fria, distante, talvez até amarga." Eu sorrio, não por condescendência, mas porque finalmente compreendo algo que demorou anos a ser desvendado. Não, não estou a envelhecer – estou a despertar. Estou a despojar-me de máscaras, de pesos e de expectativas que nunca foram minhas. Estou, pela primeira vez, a ser verdadeiramente eu. Passei tanto tempo a construir castelos em terrenos que não escolhi, a investir energias em relações que nunca me abraçaram por inteiro. Vivi demasiado tempo à sombra de reflexos criados por outros, tentando corresponder a ideais que não reconheço como meus. Agora, olho para o espelho – o verdadeiro, aquele que não mente – e vejo-me, nua de artifícios, plena na minha essência. Sim, houve perdas pelo caminho. Deixei para trás pessoas, crenças e hábitos que já não me pertenciam. Não por rancor, mas por respeito a mim mesma. Porque crescer é isso – é perceber que nem tudo o que carreg...

Ser humano.

 O ser humano é uma das expressões mais complexas e fascinantes da vida na Terra. Dotado de racionalidade, emoções e uma profunda capacidade de transformação, o ser humano ocupa um lugar único no mundo natural. Sua existência é marcada pela constante busca por sentido, seja por meio de suas criações artísticas, avanços científicos, ou sistemas de crença que tentam decifrar os mistérios do universo e de si mesmo. Ao longo da história, os seres humanos moldaram o ambiente ao seu redor, construindo civilizações, superando desafios e deixando marcas indeléveis na paisagem do planeta. Essa capacidade de adaptação é tanto uma bênção quanto uma responsabilidade, pois o impacto das ações humanas pode gerar progresso e destruição, em igual medida. Além de sua relação com o mundo exterior, o ser humano também é um universo interno, repleto de contradições. É simultaneamente altruísta e egoísta, criativo e destrutivo, frágil e resistente. Cada indivíduo carrega dentro de si histórias únicas, ...

Envelhecer.

 Dizem-me, com um ar de falsa piedade: "Estás a envelhecer. Tornaste-te fria, distante, talvez até amarga." Eu sorrio, não por condescendência, mas porque finalmente compreendo algo que demorou anos a ser desvendado. Não, não estou a envelhecer – estou a despertar. Estou a despojar-me de máscaras, de pesos e de expectativas que nunca foram minhas. Estou, pela primeira vez, a ser verdadeiramente eu. Passei tanto tempo a construir castelos em terrenos que não escolhi, a investir energias em relações que nunca abraçaram-me por inteiro. Vivi demasiado tempo à sombra de reflexos criados por outros, a  tentar corresponder a ideais que não reconheço como meus. Agora, olho para o espelho – o verdadeiro, aquele que não mente – e vejo-me, nua de artifícios, plena na minha essência. Sim, houve perdas pelo caminho. Deixei para trás pessoas, crenças e hábitos que já não me pertenciam. Não por rancor, mas por respeito a mim mesma. Porque crescer é isso – é perceber que nem tudo o que carre...

Dezembro de novo.

Já é quase dezembro de novo. É curioso como o tempo tem esta habilidade de nos surpreender, mesmo quando pensamos estar preparadas para o seu fluxo constante. Olho para trás e vejo o quanto mudei, o quanto cresci. O meu cabelo já não tem o mesmo comprimento, talvez não tenha sequer a mesma textura, mas representa uma versão mais amadurecida de mim. O meu perfume mudou, e com ele, a forma como me apresento ao mundo. Escolho agora aromas que me definem melhor, que traduzem a mulher que me tornei. Os meus círculos de amigos diminuíram. Não foi por desamor ou desleixo, mas porque a vida tem o seu próprio ritmo e, às vezes, leva-nos por caminhos que nos afastam das pessoas que um dia pensamos nunca perder. Isso não significa que o carinho desapareceu; apenas que as prioridades mudaram, que as rotas se redefiniram. Guardo, no entanto, os laços verdadeiros, aqueles que resistem às estações. Adoptei novos hábitos que me fazem sentir mais conectada comigo mesma. Há rotinas que hoje são pequenos...

O melhor lugar.

 O melhor lugar do mundo não é um ponto no mapa, nem um destino que alcança-se com bilhetes de avião ou coordenadas exatas. Não. O melhor lugar do mundo é um espaço que eu encontro dentro de mim, que às vezes ecoa na presença de alguém especial, ou manifesta-se num momento tão simples que quase passa despercebido, mas toca-me profundamente. É naquele recanto do sofá, onde o corpo repousa e a alma aquieta-se, que percebo como a serenidade de um instante pode transformar um dia inteiro. Sinto que ali, mesmo sem palavras, existe uma conversa silenciosa com o universo, um acordo tácito de que, por breves minutos, tudo está como deveria estar. Mas há mais. O melhor lugar também se revela no calor de um abraço que envolve-me e resgata-me do turbilhão de pensamentos que, muitas vezes, tomam conta de mim. Há uma magia inexplicável no toque humano, como se o peso do mundo fosse redistribuído entre dois corações que encontram-se no mesmo compasso. Nessas horas, fecho os olhos e deixo que o m...

Talvez...

Talvez eu seja, de facto, um mosaico singular de tudo o que vivi, li, senti e observei. Sou uma tapeçaria intricada, tecida com fios finíssimos que recolhi ao longo dos dias, como uma colecionadora meticulosa que, diante de cada momento, extrai uma essência, um fragmento, uma sombra de significado. Sou composta por pedaços de livros que me moldaram, onde cada frase marcante deixou em mim uma cicatriz ou uma flor, invisível ao olhar alheio, mas profundamente enraizada no meu ser. O meu olhar absorve o mundo como uma esponja subtil, um tradutor silencioso das complexidades que me rodeiam. Cada detalhe captado — a curva de um sorriso, o jogo de luzes numa manhã de inverno, o tom melancólico de uma canção — inscreve-se em mim como uma memória que, mais tarde, retorna para dar forma às minhas reflexões. Sou um pouco da melodia doce das músicas que me embalaram nos dias de solidão e também do estrondo das sinfonias que fizeram vibrar o meu espírito nos momentos de euforia. Sou uma nota resso...

Sábado.

 Hoje, o meu sábado foi uma ode à simplicidade e à plenitude, uma jornada onde cada instante se revelou uma preciosidade em si mesmo. Acordei cedo, embalada por aquela serenidade única que parece pertencer apenas ao início dos fins de semana. Lá fora, o dia anunciava-se com um céu limpo e promessas de momentos que encheriam o coração. Com os meus filhos e o meu marido, partilhei risos, conversas e gestos que, embora quotidianos, são sempre singulares. Há algo de quase sagrado na rotina quando é vivida em família, como se cada gesto contivesse a eternidade. O barulho da casa – risadas infantis, palavras entrecortadas pelo entusiasmo, até os sons triviais do pequeno-almoço – tudo parecia compor uma sinfonia de vida. É nesses momentos que me dou conta de que a verdadeira riqueza não se mede em posses, mas nos laços que nos unem, na cumplicidade que não precisa de palavras para se fazer entender. Mas o dia não foi só de partilha em família. Foi também um dia de encontro com o divino. R...

Momentos.

 Há momentos em que o coração vê-se apanhado entre o passado e o presente, entre a memória de quem fomos e a realidade de quem tornámos-nos. Ao ler este poema, senti que era a minha voz, o meu pensamento, os meus próprios sentimentos inscritos em cada linha. É como se, na simplicidade das palavras, Robert Hershon tivesse descido às profundezas da minha alma e encontrado ali aquilo que nunca soube dizer em voz alta. Recordo-me tão bem do tempo em que segurar a mão da minha filha era um gesto natural, automático, uma extensão do meu amor e do meu cuidado. Era eu quem a guiava pelo mundo, quem a protegia das quedas, dos carros que passavam, das incertezas do caminho. A mão dela, tão pequena, encaixava-se na minha como se tivesse sido desenhada para isso, e naquele simples toque parecia haver a promessa de que ela estaria sempre ali, pequena, dependente, minha. Mas o tempo, ah, o tempo é um artista cruel. Transformou aquela menina numa mulher, alargou-lhe os horizontes, engrossou-lhe a...

Lutar

 Eu nasci para lutar. Não por teimosia, mas por uma convicção profunda que define-me, que pulsa em cada batida do meu coração e lembra-me, a cada manhã, que a vida é um desafio a enfrentar com coragem e determinação. Nunca esperei que fosse fácil. O que move-me não é a ilusão de uma jornada simples, mas a certeza de que o esforço, o suor e até as lágrimas constroem os sonhos que escolho perseguir. Recuso permitir que alguém limite-me, que dite-me os contornos das minhas possibilidades. O mundo tenta, por vezes, convencer-nos de que certos voos são altos demais, que certas metas pertencem apenas aos audazes ou privilegiados. Contudo, aprendi que ninguém conhece os meus limites melhor do que eu. Não entrego a ninguém o poder de definir aquilo que sou capaz de alcançar. A vida, com todas as suas intempéries, não assusta-me. Enfrento o sol abrasador e a chuva impiedosa com o mesmo fervor, porque sei que cada queda é uma oportunidade de erguer-me com mais força. O chão não é-me estranho...

As decisões.

 Existem decisões que rasgam o coração como um punhal afiado, decisões que deixam-nos a sangrar por dentro enquanto o mundo à nossa volta permanece indiferente. Eu sei disso. Sei porque já encontrei-me nesse abismo onde a escolha certa é, paradoxalmente, a mais dolorosa. Lembro-me do dia em que vi-me diante desse precipício. A minha alma gritava pela paz que sabia que só viria com a renúncia, mas o meu coração? Ah, o meu coração resistia, rebelde, agarrado a cada pequena memória, a cada promessa feita num momento em que acreditávamos ser invencíveis. Era como segurar um espelho quebrado, com cacos a cortar-me os dedos, recusando-me a largar por medo de perder o reflexo de algo que já não existia. Decidi. Tomei a decisão que rasgou-me por dentro, que arrancou-me o chão debaixo dos pés e deixou-me a navegar num mar de incerteza. Mas, à medida que os dias passaram, percebi que, ao quebrar os grilhões do que prendia-me, eu estava a libertar a minha alma. Era como se a dor inicial tives...

Kintsugi

 Eu sou como uma peça de cerâmica que já se partiu inúmeras vezes. As marcas que carrego não são apenas cicatrizes, mas narrativas, capítulos de uma história feita de quedas e recomeços. Durante muito tempo, vivi com a mentalidade de esconder essas fissuras, como se apagá-las pudesse apagar a dor ou o fracasso que as causaram. Quanta ingenuidade a minha, não? Era como negar que a vida havia-me tocado, transformado e moldado. Era como tentar ser inteira novamente sem reconhecer a riqueza da experiência que trouxe-me até aqui. Mas, então, descobri algo profundamente transformador: o conceito japonês de Kintsugi, a arte de reparar o que está quebrado com ouro, de dar valor ao que foi reconstruído, não apesar das suas falhas, mas precisamente por causa delas. Essa filosofia ressoou em mim como um grito de liberdade. Afinal, por que esconder o que faz-me única? Por que negar as veias douradas que formaram-se nos momentos em que decidi, contra todas as probabilidades, pegar os pedaços de...

Vivo

 Vivo... Sim! Vivo! Vivo intensamente, com a mesma força com que escrevo, com a mesma paixão com que respiro. Vivo porque não sei ser de outra forma. Cada segundo é um compasso precioso, uma nota vibrante numa melodia que só eu posso ouvir, mas que insisto em dançar até à exaustão. O facto de escolher o que partilho – ou o que guardo em silêncio – não me torna menos viva. Pelo contrário. É nesse ato de escolher que afirmo a plenitude do que sou. A intensidade da minha vida não se mede em publicações, nem em palavras que outros possam ler. Mede-se nos momentos em que o coração dispara, no riso genuíno que faz-me perder o fôlego, nas lágrimas que lavam-me a alma e  devolvem-me mais leve ao mundo. Vivo nos abraços demorados, nos olhares que dizem tudo sem dizer nada, nas vitórias que celebro e nas derrotas que enfrento. O que guardo para mim não é menos real. Não é menos vivido. Cada momento que não partilho é uma relíquia preciosa, uma prova de que há partes de mim que pertencem...

Dou por mim...

 Dou por mim a ser tomada por um ímpeto quase irreprimível de escrever. Escrever sobre tudo o que atravessa-me, como se a ponta dos dedos fosse a última ponte para libertar o que o coração não consegue conter. Falo dos defeitos que vejo nos outros, e sobretudo em mim mesma; dos desafios que todos enfrentamos – uns com coragem quase heroica, outros com a hesitação que só o medo pode justificar. Mas, quando chega o momento de os partilhar, algo prende-me. Não é vergonha, nem mesmo insegurança. É como se a exposição fosse uma ferida que escolho não abrir. Dou por mim a narrar os dias que vivi, as vitórias que celebrei, os momentos que desenhei com os meus filhos, o meu marido, os meus amigos. A alegria de um sorriso partilhado, o peso das lágrimas que também aconteceram. Mas não os partilho. Guardo-os como se fossem relíquias, preciosidades que só eu posso entender, porque só eu as senti na sua totalidade. As palavras ficam, mas a voz que as amplifica cala-se. Dou por mim a mergulhar ...

Todos os dias.

 Todos os dias levanto-me com o propósito firme de trilhar o caminho que acredito ser aquele que Deus traçou para mim. É uma estrada árdua, repleta de desafios, mas também de oportunidades para crescer e lapidar a minha alma. Tento, com toda a força do meu ser, seguir os ensinamentos de Jesus Cristo, que ensinou-nos o amor incondicional, a compaixão desmedida e a capacidade infinita de perdoar. Tento, incansavelmente, ser melhor do que fui ontem: uma mãe mais paciente, uma esposa mais atenta, uma amiga mais solidária. Tento perdoar sem hesitações, sem que o rancor insinue-se nas sombras do meu coração. Tento compreender aqueles que aproximam-se de mim, mesmo que o seu universo interior me seja insondável. Tento não julgar, mesmo quando a tentação de o fazer apresenta-se insidiosa. Tento, acima de tudo, amar com a pureza e a profundidade com que Jesus amava-nos. E, no entanto, todos os dias falho. É uma falha que confronta-me, que dói-me, mas que, paradoxalmente, também ensina-me. P...

Oração - reza, perspectiva de uma católica.

 A oração, na perspectiva de um católico, é um ato profundamente espiritual e relacional, uma conversa direta e íntima com Deus, com Cristo, com a Virgem Maria ou com os santos. Para mim, orar não é apenas um hábito religioso, mas um caminho essencial para cultivar a fé, experimentar a presença divina e alinhar a minha vida com os desígnios de Deus. Trata-se de um diálogo que revela as verdades da alma, que transforma o coração e que, ao mesmo tempo, oferece força, consolo e orientação em todas as circunstâncias da vida. Oração: Um Encontro Pessoal com Deus Para nós, católicos, a oração é mais do que palavras ditas ou fórmulas decoradas. É um encontro pessoal com Deus, que nos chama à intimidade com Ele. É no silêncio da oração que posso reconhecer a grandiosidade de Deus e a minha pequenez, e, ainda assim, sentir-me profundamente amada. Orar é abrir o coração, é escutar a voz de Deus que fala no íntimo da consciência, é oferecer-Lhe as alegrias, as dores, os medos e os desejos mai...

7° saber

O sétimo saber, “A ética do gênero humano”, trata da necessidade de cultivar uma ética que considere a humanidade como um todo. Edgar Morin argumenta que a educação deve promover valores éticos baseados na responsabilidade, na solidariedade e na compreensão de que todos os seres humanos compartilham um destino comum. Essa ética transcende diferenças individuais, culturais e nacionais, e está fundamentada na interdependência entre os indivíduos, as sociedades e o planeta. Detalhes A necessidade de uma ética planetária Em um mundo interconectado, os problemas globais – como mudanças climáticas, desigualdades sociais, guerras e crises econômicas – afetam a todos. Morin propõe uma ética que leve em conta o bem-estar coletivo, respeitando tanto as diversidades quanto a unidade da espécie humana. A interdependência do gênero humano A humanidade compartilha uma origem comum e enfrenta desafios que exigem cooperação global. A ética do gênero humano reconhece que os atos de um indivíduo ou grup...

6° saber

 O sexto saber, “Ensinar a compreensão”, aborda a necessidade de promover uma compreensão genuína entre indivíduos, grupos e culturas. Edgar Morin destaca que a falta de compreensão é uma das principais causas de conflitos, discriminação e exclusão no mundo. Portanto, a educação deve ajudar os indivíduos a superar barreiras como preconceitos, estereótipos e diferenças culturais, promovendo a empatia, o diálogo e a solidariedade. Detalhes: A compreensão como necessidade fundamental A compreensão é essencial para a convivência humana em todos os níveis: entre pessoas, comunidades, nações e culturas. A ausência de compreensão leva à intolerância, ao ódio e à violência, enquanto a sua presença fomenta a paz, a cooperação e o respeito. As dificuldades de compreender o outro Compreender o outro não é algo automático. Fatores como diferenças culturais, experiências pessoais, preconceitos e emoções dificultam essa tarefa. Muitas vezes, as pessoas julgam rapidamente o outro com base em este...