A Arte de Coser a Alma.
Há algo na dor que não se explica, mas se experimenta. Uma dor profunda, quase ontológica, que não surge de um simples mal-estar passageiro. Esta dor é raiz e ferida. É um corte invisível que grita na alma, mesmo quando a boca permanece cerrada. Encontrei-me nesse estado, fragmentada. Cada parte de mim parecia descolada do todo, um emaranhado desconexo de memórias, mágoas e expectativas frustradas. Era como se, em algum momento da minha jornada, eu tivesse deixado de ser uma casa e me tornara um campo de ruínas. Foi então que me deparei com a ideia. Cosê-lo. Não sabia como ou com que instrumentos, mas a intuição feminina — essa força ancestral — sussurrou-me: "Cose-te, salva-te". Era uma promessa de redenção autoimposta, um caminho de remendo e reconstrução. Peguei na agulha imaginária e no fio metafísico feito de paciência e determinação. O primeiro ponto foi como uma punhalada: precisei rasgar as costuras antigas, abrindo feridas que pensava cicatrizadas. Era assustador exp...