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A roupa

 O que me diverte profundamente é a inveja pueril que escorre em comentários visivelmente frustrados. Sim, porque é quase uma arte observar o quanto essas almas pequenas se contorcem perante a minha existência. Eu, que não sou definida pelo que visto, não me encaixo em estereótipos de roupa, música ou cor preferida. Eu, que possuo uma personalidade intrinsecamente complexa, em constante evolução, não me permito ser reduzida a um simples rótulo. Hoje posso estar de fato de treino e t-shirt, amanhã com calças de ganga, ora clássicas, ora desfiadas, e ainda no dia seguinte envergar leggings ou umas calças largas que me fazem sentir a realeza do conforto. Quem sabe, num instante de pura ironia, escolho um vestido – com ou sem folhos – longos, curtos, lisos ou estampados, tudo depende do meu humor, e claro, da necessidade de provocar mais uma pequena revolução visual no quotidiano banal daqueles que me observam. Sapatos? Tenho-os a pontapé. Rasos, com saltos de várias alturas, alpercata...

Texto para a "Mariana"

 Confesso que não esperava ser solicitada a elaborar um texto sobre a masturbação, mas, como se costuma dizer, "há sempre uma primeira vez para tudo". Como mãe de uma filha jovem adulta, já enfrentei a necessidade de abordar este tema com naturalidade e sensatez. Não é uma conversa fácil, mas é essencial. E, enquanto mãe de uma criança que em breve adentrará os tumultuosos anos da puberdade, vejo-me prestes a ter de repetir este diálogo, agora adaptado à sensibilidade de uma mente em formação. A masturbação, apesar de ser um assunto que muitos ainda tratam como tabu, é uma parte normal do desenvolvimento humano. Por vezes, entre risos e confidências, noto que o tema surge em conversas descontraídas com amigas. Afinal, somos mulheres, e a partilha de experiências sobre o corpo e a sexualidade faz parte da nossa vivência coletiva. É interessante observar como, ao longo do tempo, fomos aprendendo a desmistificar e a aceitar a masturbação como uma expressão natural da sexualidade...

Hoje...

 Hoje foi um dia daqueles que deixam o corpo exausto, mas a alma serena, envolto na sensação de dever cumprido. Dediquei-me, com rigor e minúcia, às tão temidas e árduas limpezas de casa – aquelas que raramente são feitas, mas que, quando realizadas, renovam o ambiente e a disposição. Moveis arrastados, tetos e paredes lavados, candeeiros a brilhar. Não há recanto que tenha escapado à meticulosidade do meu esforço. Contudo, admito, não há tarefa mais desgastante, embora saiba que, ao final de tudo, cada gota de suor vertida se traduzirá numa sensação impagável de frescura e renovação. Agora, após um banho quente e um jantar reconfortante, sinto-me pronta para o meu próximo ritual de relaxamento. O corpo está finalmente limpo, a mente liberta e o espírito ansioso por uma escapadela ligeira até aos bares que habitualmente frequento. É o meu porto seguro, um local onde o aroma do café acabado de fazer se mistura com as conversas animadas que preenchem o espaço. Há algo de revitalizant...

Resposta a "Margarida"

É com grande prazer que partilho convosco a forma como tenho procurado eternizar e valorizar os trabalhos escolares do meu filho, fruto do seu empenho e criatividade. Ao longo do terceiro ano, recolhi cuidadosamente os seus projetos, limitando-me, contudo, àqueles realizados a partir do segundo período. Confesso que os anteriores não resistiram ao crivo implacável do próprio autor, que, com uma segurança surpreendente, decidiu não os manter. Para preservar essas memórias, decidi criar um livro de memórias digital. Foi um processo que me trouxe imensa satisfação. Fotografei cada trabalho, capturando não só as cores e formas, mas também a essência e o momento em que foram criados. Cada imagem foi cuidadosamente organizada num álbum digital, onde adicionei breves descrições e anedotas, conferindo-lhe um toque pessoal e íntimo. Este ano, vou continuar a enriquecer este livro, garantindo que cada nova criação do meu filho tenha o seu lugar reservado nesta coleção especial. Além disso, dei-m...

Texto para"Joana"

 Quando me pediram para compor uma cantiga de maldizer, mergulhei na tradição mordaz da poesia satírica, onde a crítica é uma arte e as palavras são afiadas como lâminas. Inspirada pelos antigos trovadores que, através do humor ácido, revelavam as fraquezas humanas e expunham as verdades mais incômodas, criei a seguinte cantiga. Com palavras bem escolhidas, aqui está: Cantiga de Maldizer És fácil, qualquer um já te usou, Não te cobras, só pedes um favor, Compras amizades, não pelo amor, Teu filho, coitado, sem valores ficou. Que educação lhe dás, crias um incapaz, Sem rumo na vida, que futuro terás? Teu marido te leva, sem saber o que riem, Nomes te chamam, mas pior tu te vês. Não te chamo meretriz, pois não quero ofender, Quem vende o corpo, ao menos tem querer, Tu és usada sem prazer, sem valor, Nem no sexo, nem na vida, és um pavor. Usar-te foi sacrifício, sem gosto ou prazer, Até no mais simples, és só de apodrecer.

Texto para "Joel"

 Como mulher que se posiciona no mundo de forma consciente e sem receios, falo sobre sexualidade em todas as suas formas, incluindo a homossexualidade e a vasta gama de identidades que compõem a comunidade LGBTQIA+. Para mim, abordar esses temas é uma questão de respeito e compreensão da diversidade humana, pois o amor, o desejo, e a identidade não podem e não devem ser confinados a normas rígidas e ultrapassadas. A homossexualidade, por exemplo, é simplesmente a orientação sexual em que o indivíduo sente atração afetiva e sexual por pessoas do mesmo sexo. Não há nada de aberrante ou incomum nisso; é apenas uma variação natural da sexualidade humana, que tem existido ao longo da história em todas as culturas e épocas. Tal como eu celebro a minha sexualidade, acredito que todos têm o direito de viver e amar livremente, sem medo de julgamentos ou represálias. O "LGBTQIA+" é uma sigla que inclui diversas identidades e orientações, cada uma delas representando um pedaço do amplo ...

Texto para "Márcia"

 Eu sou uma mulher que aborda a sexualidade com a naturalidade e a clareza que ela merece, despida de falsos pudores e estigmas antiquados. O sexo, para mim, é uma manifestação natural da nossa condição humana, uma faceta essencial da nossa vida que, desde que praticada com responsabilidade e consentimento mútuo, não merece ser envolta em tabus. Sim, escrevo sobre sexo e sobre órgãos sexuais, não porque me falta vergonha, mas precisamente porque não há razão para ela existir. A vergonha, afinal, deveria estar reservada para a ignorância e a repressão, e não para a celebração daquilo que somos: seres sexuados, dotados de corpos que, quando saudáveis, respondem ao toque, à intimidade, ao desejo. A sexualidade não é apenas uma questão de prazer; é uma dança complexa de hormonas, reações nervosas e estímulos psicológicos que culmina, muitas vezes, num dos maiores picos de prazer que o nosso corpo pode experienciar: o orgasmo. O orgasmo, esse ápice da excitação sexual, não é apenas um f...

Defeitos

 Ora, não é que de repente, como por arte de mágica, descobriram em mim uma verdadeira lista de defeitos que até eu desconhecia? Já não me bastavam os que, modéstia à parte, são tão evidentes quanto o sol ao meio-dia, mas agora parece que alguém decidiu complementar o meu humilde inventário de imperfeições com mais uns quantos itens, saídos não sei de onde. Se calhar, no supermercado das imperfeições, fizeram uma promoção: leve dois defeitos reais e ganhe mais três imaginários de oferta! E não é que me saiu o bilhete premiado? É que, ao que parece, olhar para mim causa um certo desconforto em algumas pessoas. Talvez seja porque, sem querer, personifico tudo aquilo que muitos desejam ser, mas não conseguem. Confesso que não deve ser fácil estar na minha pele, essa que parece ser um espelho que reflete as frustrações alheias, não é? Desculpem lá, mas a culpa não é minha se sou uma espécie de lembrança ambulante do que poderiam ter sido, mas não são. A natureza não me deu um escudo co...

Explico que...

Peço desculpa a todos os leitores que aguardam ansiosamente pelos textos que me pediram. Confesso que não esperava tamanha afluência de pedidos, o que me deixou extremamente lisonjeada, mas também ligeiramente surpreendida. Prometo que não deixarei ninguém sem a sua resposta; cada tema será abordado com o carinho e a atenção que merece. Ontem foi um dia especialmente atarefado, quase como se o universo conspirasse para testar os meus limites de organização. De manhã, das 10h às 13h, estive envolvida no projeto de voluntariado ao lado da minha madrinha. É sempre uma experiência enriquecedora, daquelas que aquecem o coração e reafirmam a fé na humanidade. Até tive uma surpresa agradável com a visita da minha prima, que apareceu para uma conversa inesperada, mas muito bem-vinda. Depois de sairmos, foi tempo de recarregar energias com um café — que, como todos sabemos, é o motor que move o mundo! A tarde foi dedicada a um merecido descanso na praia, em excelente companhia: a família e uma ...

Príncipe

 O "Pequeno Príncipe" (no original, "Le Petit Prince") é uma obra do autor francês Antoine de Saint-Exupéry, publicada pela primeira vez em 6 de abril de 1943. A história, inicialmente voltada para o público infantil, alcançou uma enorme popularidade entre leitores de todas as idades, tornando-se um dos livros mais traduzidos e lidos do mundo. 1. Sobre o Autor Antoine de Saint-Exupéry nasceu em Lyon, na França, em 29 de junho de 1900. Além de escritor, ele foi um aviador, profissão que desempenhou com paixão e que influenciou profundamente sua obra literária. Antes de escrever "O Pequeno Príncipe", Saint-Exupéry já havia publicado outras obras como "Correio do Sul" (1929), "Voo Noturno" (1931), e "Terra dos Homens" (1939), que também refletiam suas experiências na aviação. A carreira de Saint-Exupéry como piloto foi marcada por aventuras e perigos, como acidentes aéreos e missões arriscadas, que alimentaram sua visão filosófic...

"Confissões de uma Peregrina Desalojada: Amor, Fé e Humor Negro"

 Eu não pertenço a este mundo. Aliás, pertenço tanto a ele quanto uma melancia pertence a um sushi: de forma totalmente deslocada. Enquanto uns correm atrás do dinheiro como se fossem galinhas sem cabeça, eu estou aqui, a tentar fazer sentido num mundo que parece não querer ser entendido. Não sou daquelas que mantém casamentos por conveniência ou que se agarra ao vil metal como se a vida dependesse disso – embora, claro, todos saibamos que o pão não cai do céu, e a integridade não paga a conta da eletricidade. Nasci peregrina. Se pudesse escolher, seria mais do tipo que caminha pela Terra Santa, mas, sinceramente, sou mais do género que se perde na esquina de casa. E não falo só de lugares, mas da vida como um todo. Peregrino no coração, na alma, na fé. É como se eu estivesse num eterno "Caminho de Santiago" da vida, uma busca incessante por amor, fé e, quem sabe, um café decente. Sim, é verdade que me falta tempo, mas não me importo – afinal, só se vive uma vez, e eu prefiro...

Texto para o "Fábio"

 Não é a primeira vez que escrevo sobre este tema; é um tema que tenho uma curiosidade enorme e tento sempre aprender mais e mais. O desenvolvimento pessoal é uma jornada contínua de autoconhecimento, crescimento e aperfeiçoamento, que envolve não apenas o aprimoramento de habilidades, mas também a evolução da nossa compreensão sobre quem somos e o que queremos alcançar na vida. Ao nos dedicarmos ao desenvolvimento pessoal, estamos investindo em nosso futuro, cultivando hábitos e atitudes que nos ajudam a enfrentar desafios, aproveitar oportunidades e, acima de tudo, viver de forma mais plena e significativa. Este processo exige reflexão, autodisciplina e, principalmente, a disposição para sair da zona de conforto, permitindo-nos alcançar nosso verdadeiro potencial. Agradeço á Joana pela proposta. Espero que te agrade esta curta. O Que é o Autoconhecimento e Como Aplicá-lo O autoconhecimento é a base de todo o desenvolvimento pessoal. É o processo de explorar e compreender profunda...

Frase do dia "O que não mata, fortalece."

 A expressão "O que não mata, fortalece" é uma frase poderosa que captura a essência da resiliência humana. Originalmente atribuída ao filósofo Friedrich Nietzsche, essa frase reflete a ideia de que as adversidades, em vez de nos destruírem, podem nos fortalecer e nos tornar mais resistentes. Nietzsche, conhecido por suas reflexões profundas sobre a condição humana, viu nas dificuldades da vida não apenas desafios a serem superados, mas também oportunidades para o crescimento e a transformação pessoal. Viver essa máxima é reconhecer que o sofrimento, a dor e as adversidades fazem parte da experiência humana e que, ao enfrentá-los, desenvolvemos uma força interior que não poderia ser alcançada de outra forma. Cada obstáculo que superamos, cada dor que suportamos, nos molda e nos prepara para enfrentar futuros desafios com maior confiança e sabedoria. Essa frase também nos ensina sobre a importância da perspectiva. Diante de uma situação difícil, podemos escolher ver a experiên...

Texto para a "Jéssica"

A amizade é um vínculo construído sobre pilares essenciais, sendo o respeito um dos mais fundamentais. Ao longo da vida, aprendemos que nem sempre é possível concordar com tudo, mas a capacidade de respeitar as opiniões alheias é crucial para manter qualquer relacionamento saudável. Considero-me uma pessoa afortunada por possuir uma visão clara e apurada do mundo que me rodeia, tanto física quanto emocionalmente. Contudo, há uma pessoa em particular cuja presença evito não por uma limitação física, mas como uma medida de autopreservação. Não se trata de um simples desconforto; é uma questão de confiança. Esta pessoa, em algum momento, feriu-me de uma forma profunda, atingindo o que há de mais precioso em mim: o meu filho. Acredito que esta pessoa causou danos à minha família, atacando não só a nossa unidade, mas também a minha essência, a forma como escolho viver e ser. Apesar do pedido de um texto que aborde as características dessa pessoa, reconheço que, no presente momento, não sou ...

Madrugar

 Acordo todos os dias com a leveza de quem vive entre palavras, e hoje, ao verificar as leituras matinais, não pude deixar de sorrir. Lá estava ela, a leitora madrugadora, fiel como o nascer do sol, a percorrer com os olhos ávidos os meus textos. São 5:30 da manhã, e já consigo imaginar a sua rotina: café quente na mão, olhos ainda semi-cerrados, mas a mente já desperta, a absorver cada palavra como se fossem notas de uma sinfonia. Mas há algo que me intriga, algo que tenho vindo a notar nas suas visitas constantes. Apesar de ler com tanta regularidade os meus textos curtos, ainda não se aventurou a sugerir um tema. Será timidez? Ou talvez uma preferência por tópicos mais específicos, daqueles que tocam o coração de forma silenciosa, mas profunda? Fico a pensar: o que é que a senhora, com todo o seu cuidado e discrição, gostaria de ler? Qual seria o tema que a faria emergir da sombra da leitura silenciosa e participar nesta dança das palavras? Hoje, decido lançar-lhe um desafio: pr...

Espantada

Como escritora apaixonada, sempre me espantei com a diversidade das reações ao que escrevo. É quase como se houvesse um encantamento específico em cada palavra que partilho, a revelar a complexidade da minha alma e da minha mente. Nos meus textos mais curtos, parece que encontro uma audiência ávida, pronta para absorver cada frase com uma curiosidade quase imediata. Estas curtas missivas, lidas e apreciadas, revelam uma forma instantânea de comunicação que toca o coração de muitos. No entanto, o verdadeiro enigma revela-se quando volto os olhos para os textos mais longos e profundos que, com tanto esmero, redigi. Nestes, a complexidade e a profundidade do pensamento encontram um espaço próprio. A aparente escassez de leitores para estes textos não é, de todo, um sinal de desinteresse, mas sim uma confirmação da paixão daqueles que se aventuram mais profundamente. Estes poucos leitores são os que, com genuíno interesse, desvendam as camadas mais intricadas do que escrevo. Enquanto os cu...

Olhos de Abismo

Em olhos de abismo, profundo e obscuro, Mergulha-se o olhar na sombra do pranto, Onde o sofrimento tece seu pano escuro, E o silêncio ecoa um lamento de encanto. Em cada centelha, uma história antiga, De angústias enredadas na teia do ser, Surgem os ecos de uma vida ambígua, Que no olhar se revela, a sofrer. O sol não penetra essa escuridão, Onde as lágrimas se tornam joias perdidas, O universo, em sua vastidão, Esconde segredos em almas feridas. A dor, uma melodia de ritmos escondidos, Nos olhos, um poema de palavras não ditas, Reflete a pena dos momentos vividos, E a tristeza em cada sombra se agita. Há um espelho, um abismo, uma história, No brilho seco e sombrio do olhar, E nas lágrimas, um lamento, uma memória, Que o tempo não consegue apagar. As rugas dos olhos, mapas de sofrimento, Cada linha um conto, um enigma profundo, Que narra a vida em seu tormento, E revela o ser, o seu mundo. As trevas que dançam no fundo do olhar, Revelam segredos que palavras não podem tocar, E cada br...

Refúgio

 Na minha busca por refúgios onde a tranquilidade se entrelaça com a proteção contra encontros indesejados, descubro que o Tejo e a praia se destacam como os meus santuários preferidos. A missa é um primeiro espaço de serenidade. Ali, envolta na liturgia e nos cânticos, sinto-me protegida dos constrangimentos do quotidiano. A ordem das palavras e a tranquilidade etérea da igreja oferecem-me um retiro espiritual, onde os fantasmas das relações sociais se tornam distantes e inofensivos. No entanto, o Tejo surge como um refúgio igualmente cativante. As suas águas majestosas e o curso sereno proporcionam um espaço de introspecção sublime. Enquanto percorro as suas margens, o murmúrio suave da correnteza e o brilho da superfície sob a luz do sol criam um ambiente de isolamento pacífico. O Tejo, com o seu horizonte vasto e constante, representa um espaço onde posso respirar tranquilamente, longe das interações que prefiro evitar. A praia, nas proximidades da minha residência, completa es...

Química

 Há momentos em que a química entre duas pessoas é tão avassaladora que se torna impossível de ignorar. Não é apenas uma questão de atração; é uma necessidade crua, um fogo que queima por dentro, sem permissão, sem controle. A simples presença do outro desperta um desejo primitivo, uma urgência que cresce a cada segundo, tornando cada gesto, cada olhar, uma provocação insuportável. Estar perto dessa pessoa é sentir o calor que emana do corpo dela como uma chama que incendeia a pele. Os olhos encontram-se, e há algo no fundo desses olhos que fala diretamente ao desejo mais profundo, uma promessa silenciosa de prazer. É como se o ar entre ambos vibrasse, carregado de tensão, uma eletricidade que percorre o corpo e faz cada célula pulsar de antecipação. O toque, quando finalmente acontece, é como um choque que corre pela espinha, acordando cada nervo, fazendo o sangue correr mais depressa, o coração bater mais forte. Um toque leve, quase casual, mas carregado de intenção, que deixa a ...

Sexo

Ah, o parque, esse refúgio de paz onde a natureza se entrelaça com os devaneios mais íntimos das nossas mentes. Sentada ali, no banco, ao lado da minha prima, com o sol a aquecer-nos a pele e o som dos patos a esvoaçar pelo lago, o cenário parecia perfeito para uma conversa sobre qualquer coisa – mas por que não, então, sobre o sexo, esse tema que tanto intriga-nos e fascina? E foi aí que a conversa tomou aquele rumo inesperado, mas deliciosamente inevitável. A começar por aquelas histórias de encontros passados, de olhares trocados com promessas silenciosas e de noites em que o desejo falou mais alto do que qualquer convenção social. Porque, sejamos sinceras, há um certo prazer em recordar os momentos em que o corpo fala mais alto que a mente, e em que a pele se torna o palco de um espetáculo onde somos, simultaneamente, protagonistas e espectadoras. Agora, há que esclarecer algo: no reino dos prazeres carnais, sou um tanto quanto... dominadora, para não dizer mesmo despótica. Ah, sim...

Rabo

 Quando os cinquenta anos chegam, o corpo humano parece entrar em um acordo tácito com a gravidade para, finalmente, entregar os pontos. A pele, que antes era um tecido bem ajustado e suave, transforma-se em uma massa frouxa e desajeitada, como se o corpo fosse um velho sofá de couro barato, desgastado pelo tempo e pelo uso. As nádegas, outrora firmes, viram uma paródia de si mesmas, penduradas como sacos de batatas mal amarrados, dando origem ao infame “cu de velha”. Ah, o cu de velha! Um espetáculo de decadência que desafia todas as leis da estética e da dignidade. Nas calças, então, a tragédia é completa: a ilusão de uma fralda volumosa, pronta para transbordar a qualquer momento. E o pior de tudo, é que essa deformidade se impõe com uma naturalidade cruel, como se o tempo quisesse deixar claro que a juventude foi apenas um erro de cálculo passageiro. O tecido glúteo, que outrora era um símbolo de vitalidade e atração, agora parece uma reminiscência distante de tempos gloriosos....

Pipi

 O meu pipi é uma flor exótica, uma orquídea que floresce num jardim secreto. Como todas as flores, tem o seu perfume natural, um aroma delicado e único, inconfundível. Não esperem dele o cheiro da manga ou do maracujá, porque ele não é uma salada tropical. Também não se confunda com a ideia errada de que poderia exalar o odor do peixe podre ou de um bacalhau seco ao sol. Isso só aconteceria se o jardim estivesse abandonado, esquecido, tomado por ervas daninhas. Mas eu cuido do meu jardim com carinho, mantenho-o limpo, saudável, vibrante. Parte desse cuidado envolve tirar os pelos, um processo que é como podar as vinhas de uma vinhaça. Cada folha removida permite que a uva cresça mais forte, mais doce, mais robusta. Com cada depilação, vou desenhando a silhueta do meu jardim, moldo-o à minha vontade, tal como uma escultora que, com paciência e precisão, esculpe uma obra-prima. Às vezes, parece que estou a desfazer um velho casaco de inverno, removendo camada por camada, até que res...

"Amiga"

 Já repararam como, por vezes, encontramos pessoas que parecem ter vivido a nossa vida? Aquelas que, ao fim de cinco minutos de conversa, já sabem todos os nossos traumas, sonhos frustrados e aquela piada que só você acha graça?  Não é como se tivéssemos descoberto uma alma gêmea, mas sim uma testemunha ocular dos nossos piores momentos. É como se o universo tivesse decidido fazer um teste de laboratório social e colocado duas cobaias na mesma gaiola para ver o que acontece.  Essas pessoas, meus amigos, são as que compartilham experiências de vida semelhantes. Sim, porque a vida é generosa em distribuir tribulações, e quando encontramos alguém que passou pelas mesmas, é como se tivéssemos encontrado um sócio para o nosso clube privado de infortúnios. A empatia surge não só porque sabemos o que o outro está a pensar, mas porque já pensamos a mesma coisa, e, convenhamos, somos todos previsíveis na miséria. Foi assim hoje quando a senhora dirigiu-se a mim. Vamos ser honestos...

Duplicidade

 Às vezes, encontro-me  a refletir sobre a complexidade intrínseca da natureza humana, sobretudo quando sou confrontada com a dualidade aparente de certas pessoas que cruzam meu caminho. É curioso como, num primeiro momento, alguém pode  apresentar-se como um ser de luz, repleto de qualidades que tanto admiro e valorizo: uma bondade genuína, uma inteligência brilhante, uma resiliência invejável, um altruísmo que transcende o ego, e uma perseverança que não conhece limites. Essa pessoa parece, então, ser um compêndio de virtudes, uma alma elevada que enaltece o ambiente ao seu redor e inspira aqueles que têm a fortuna de conhecê-la. Entretanto, com o tempo, percebo que essa imagem inicial pode dissolver-se, e revelar uma outra faceta profundamente perturbadora. A máscara da benevolência cai, e a figura que desenha-se diante de mim é de uma dissimulação insidiosa, uma falsidade latente, e uma maldade que corrói a confiança depositada. Surge, então, uma pessoa marcada por um...

Platão: "A vida deve ser vivida como uma brincadeira reflexão"

 Platão, um dos maiores filósofos da Antiguidade, oferece-nos uma reflexão aparentemente simples, mas profundamente significativa: "A vida deve ser vivida como uma brincadeira." Essa frase, à primeira vista, pode parecer trivial ou até mesmo inadequada para a seriedade que frequentemente associamos à existência humana. Contudo, ao examiná-la mais de perto, percebemos que Platão convida-nos a considerar a vida sob uma perspectiva mais leve, onde a leveza e a alegria são aspectos fundamentais da experiência humana. Viver a vida como uma brincadeira não significa desvalorizar ou tratar com descaso as responsabilidades e desafios que enfrentamos, mas sim abordar a existência com uma atitude de flexibilidade e abertura. Assim como uma criança em um jogo, somos chamados a participar da vida com curiosidade, criatividade e, sobretudo, com a capacidade de adaptarmo-nos às mudanças e aos imprevistos que surgem ao longo do caminho. Para Platão, essa abordagem lúdica não diminui a impor...

Soluções... talvez

 A vida, tal como a conheço, apresenta-me agora um dilema que há muito venho a ponderar, uma inquietação silenciosa que se foi entranhando na minha alma, consumindo lentamente a serenidade que outrora julgava minha por direito. Cada canto deste lugar, outrora repleto de memórias e significados, parece agora vazio de essência, como se a luz que um dia brilhou intensamente tivesse cedido ao peso das sombras. Não é fácil admitir que o que um dia foi lar, abrigo de sonhos e testemunha silenciosa de tantas histórias, possa ter perdido o seu encanto. No entanto, a realidade impõe-se, implacável. Chego, assim, à conclusão de que talvez seja chegada a hora de partir, de procurar noutras paragens aquilo que aqui já não encontro: a paz, o descanso, a tranquilidade que tanto almejo para o tempo que me resta. Decisão esta que, em verdade, não se toma sem dor. É com um aperto no peito que contemplo a ideia de deixar para trás o solo onde as minhas raízes se cravaram profundamente, onde se ergue...

Frase do dia

 "Deus escreve certo por linhas tortas." Esta expressão, tão profundamente enraizada na cultura popular, reflete uma compreensão espiritual do mundo, onde os caminhos da vida, embora frequentemente confusos e inesperados, seguem um plano maior, divinamente ordenado. O provérbio sugere que, mesmo nos momentos de caos e incerteza, existe uma ordem superior a trabalhar em favor do bem, mesmo que esse bem não seja imediatamente perceptível. Ao refletir sobre essa frase, somos confrontados com a complexidade da existência humana. Muitas vezes,  deparamo-nos com situações que parecem ilógicas ou injustas, com sofrimentos que parecem não ter propósito. No entanto, a crença subjacente a esse provérbio é que, apesar das aparências, existe uma lógica divina a guiar os acontecimentos, uma mão invisível que, mesmo por caminhos aparentemente tortuosos, conduz à realização de um propósito maior e benéfico. Essa expressão também nos ensina sobre a necessidade de fé e confiança no processo d...

Festa

 Hoje é o grande dia em que a monotonia das minhas noites rotineiras cederá lugar ao vibrante entusiasmo de uma festa inesquecível. Não se trata de uma simples ocasião, mas sim de uma verdadeira celebração da vida, repleta de energia e euforia. A noite será marcada por uma travessia – não rumo àquela festinha costumeira, de esquina, onde todos os rostos são familiares e as conversas previsíveis. Desta vez, atravesso os limites do meu bairro e aventuro-me para a cidade que me acolheu, a mesma que, desde o primeiro instante, me fez sentir em casa. Esta festa, contudo, não será apenas uma mera reunião social; será uma explosão de sons, cores e movimentos, onde a música pulsará através do corpo, e os pés, incansáveis, encontrarão no chão uma tela perfeita para desenhar passos que expressam a liberdade. A minha prima, cúmplice de algumas das minhas melhores aventuras, acompanhar-me-á nesta epopeia nocturna. Juntas, não nos contentaremos com nada menos do que pular, dançar e deixar que a...