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Já não pergunto.

 Já não pergunto por que fizeste O que fizeste. Pergunto como é que eu deixei, Como é que eu, mãe, Deixei-te,  quase "amiga", Chegar tão perto do meu filho, E no fim, humilhá-lo, Destratá-lo, Rebaixá-lo diante de outros, Mentir sobre ele. Como é que eu deixei? Eu deixei, Porque confiei. Porque eras mais do que uma professora, Eras minha suposta quase "amiga". Entreguei-te o meu filho, O meu maior tesouro, Acreditando que o tratarias com o cuidado E o respeito que ele merecia. Mas o que fizeste foi tão longe do que eu esperava. Agora pergunto, Como é que deixei? As tuas palavras, que deveriam educar, Viraram pedras, Humilhações que o feriram, E eu, cega de confiança, Não vi. Como pude não perceber Que em vez de ensiná-lo, O estavas a rebaixar? Enquanto eu seguia uma linha reta de confiança, Tu criavas curvas de desprezo, Pisavas o seu orgulho, E fazias dele um alvo Para a tua autoridade injusta. Gritaste que estavas certa, Quando me confrontei contigo, E eu, ainda at...

O meu desejo é desconhecer pessoas.

Não todas, naturalmente. Há rostos que ficam connosco, como o calor persistente de um sol tímido em pleno inverno; há palavras que se cravam na memória, não como feridas, mas como mapas, apontando caminhos onde antes só havia desorientação. Quero preservar esses. Quero guardar quem soube tocar sem exigir, quem ocupou espaço sem esmagar, quem silenciou sem ofender. Quero, no entanto, desconhecer os outros. Quero apagar o vestígio daqueles que chegaram com as mãos estendidas e o coração fechado. Quero apagar as suas vozes — sim, essas vozes que nunca disseram nada, apenas ruíram por dentro, como edifícios abandonados no tempo. Quero devolver-lhes os olhares que nunca souberam ver nada para além de si próprios. Desfazer os toques que não tocaram, devolver os sorrisos que eram máscaras baratas e falsos portos de abrigo. Gostava que viessem com um botão: um pequeno e discreto "Desfazer" ao alcance de um pensamento. Ou com uma data de validade inscrita no próprio olhar, uma etiquet...

Vazio Disfarçado

 Quem és tu, afinal? Uma figura vazia, sem rosto, sem alma. Passas a vida a tentar comprar o que nunca poderás possuir: a atenção, a amizade, o respeito. Acreditas que, com gestos fúteis e ofertas ridículas, conseguirás enganar os outros, fazer com que te aceitem. Mas a verdade é que te tornaste uma piada, um espetáculo patético que ninguém leva a sério. A cada tentativa desesperada de te encaixar, afundas mais na tua própria mediocridade. Pensas que a aprovação dos outros pode ser adquirida, como se sentimentos e conexões fossem coisas que se vendem e compram. Tentas seduzir com presentes inúteis, crendo que isso te torna mais interessante, mais relevante. Mas o que não percebes é que todos veem através de ti. Sentem o cheiro do desespero que escorre de cada palavra tua, de cada gesto forçado. As pessoas à tua volta fingem, sim, fingem que te aceitam, enquanto riem de ti pelas costas. És um objeto de desprezo e pena, uma figura trágica que insiste em não perceber a sua própria irr...

Perguntas...

 E quando alguém se lembra de perguntar? "Como está a tua secura vaginal?" – e o corpo dá aquele espasmo ligeiro, o coração dá uma guinada. Não é uma simples pergunta, é quase um teste de resistência. Quem é que se lembra de tal invasão, como se alguém precisasse de andar a medir humidades alheias? Mal termina a primeira, e já vem a segunda: "E a tua libido, ainda anda tão apagada quanto uma lâmpada queimada?" Aqui, não querem só uma resposta. Querem um raio-X emocional, querem detalhes, como se a lâmpada tivesse um manual de instruções a explicar a falta de brilho. Essas perguntas parecem uma sessão de interrogatório: tocam em pontos que até nós mesmos evitamos. "Como se sente em relação ao seu prazer pessoal?" – como se fosse algo que simplesmente se encomendasse pela internet. Afinal, prazer é uma coisa complexa, quase um projeto de pesquisa. Mas quem pergunta assim espera simplicidade, como quem pergunta se queremos chá ou café. E as perguntas continua...

Frases a utilizar com professores

É crucial buscar um equilíbrio justo e ético na interação entre pais e professores, promover uma suposta, mas inexistente, parceria construtiva e transparente em benefício dos alunos. Enquanto os professores recebem formação especializada para enfrentar desafios educacionais, como usar frases feitas ensinadas em formações para dizerem as coisas de forma a enganarem os encarregados, os pais também necessitam de recursos que lhes permitam entender melhor o ambiente escolar e colaborar eficazmente com os educadores, hipocritamente de forma dissimulada. Esta abordagem não só fortalece a comunidade educativa, mas também garante que todos os envolvidos estejam capacitados para fingir que contribuem positivamente para o desenvolvimento acadêmico e pessoal das crianças. A justiça e a igualdade na comunicação entre pais e professores são fundamentais para o sucesso educacional e emocional dos alunos, promove um ambiente escolar supostamente mais inclusivo e colaborativo.  "Admiro muito seu...

Rastros Ocultos

 Desde que a senhora professora conversou com os familiares de um dos colegas do meu filho, tudo mudou. Eu sei exatamente o que foi dito, mas tenho que fingir que não sei. Essa duplicidade é desconcertante, especialmente considerando o caos que minha vida se tornou. Queixas constantes, uma após a outra, como se meu próprio ser estivesse sendo colocado em julgamento a cada passo. Desde que aquele incidente ocorreu, tudo o que faço e digo é questionado. O suposto sigilo, que deveria ser sagrado, foi quebrado. Apesar de simpatizar com a professora, não consigo aceitar tanta dissimulação e mentiras. Eu jamais faria isso. E agora, ela espalha que fui eu quem fez a queixa. Mas por quê? Ela quer que eu tire o meu filho da escola. Alguém disse, com razão, que ele nunca será parte daquela turma. A professora nunca o viu de verdade, não enxerga quem ele é ou o quanto a admira. Ele chora por qualquer coisa, sensível e vulnerável. E eu, cega em minha confiança, permiti essa aproximação que ago...

A Traição da Confiança

 Hoje, recebi um e-mail que me deixou num estado de perplexidade, um misto de incredulidade e mágoa. Os primeiros dias de um novo ano escolar deviam ser sinónimo de renovação e entusiasmo, mas as palavras contidas naquele texto turvaram o meu espírito e lançaram-me numa espiral de questionamentos. Pergunto-me, com angústia e assombro, como alguém a quem confiei tanto poderia emitir opiniões tão despropositadas, tão carregadas de insensibilidade, especialmente quando o objeto das suas observações é o meu filho – uma criança, seu aluno. Ao longo do tempo, desenvolvi um respeito imenso pela professora do meu filho. Uma relação de empatia e cumplicidade parecia ter florescido entre nós, sustentada por uma admiração mútua que considerei genuína. Não a via apenas como uma docente dedicada; via-a como uma pessoa de carácter, uma mulher que, pensei eu, valorizava os princípios da amizade, do profissionalismo e da empatia. Esta amizade transcendeu o contexto escolar, ou pelo menos assim jul...

Educação e guia

 Como encarregado de educação, venho aqui, com palavras tecidas pelo mais sincero apreço, escrever para a senhora professora, com quem a vida confiou o futuro em forma de pequenos olhos atentos e mãos ansiosas por aprender. A sua missão é de uma profundidade quase indescritível. Sei que cada dia carrega nos ombros a responsabilidade de muito mais que transmitir conteúdo: a senhora semeia esperança, paciência e os primeiros alicerces do saber. É guia na selva dos primeiros questionamentos, tradutora de realidades desconhecidas, companheira na descoberta de mundos novos. É impossível mensurar o impacto do que faz, porque a sua obra  escreve-se no âmago da formação de cada criança que atravessa o seu olhar. As coisas realmente valiosas raramente recebem o destaque merecido. Basta pensarmos no ar que respiramos: invisível, sempre presente, mas tão vital que apenas nos damos conta de sua grandeza quando o sentimos rarear. A senhora, como o ar, é assim: silenciosa e essencial. Não o...

Rumo ao Freeport: Entre Risos, Chocolate e uma óptima Companhia

 A caminho do Freeport, sinto-me leve. Gosto da companhia da Teresa. Ela é divertida, comunicativa e acompanha perfeitamente a cadência acelerada com que mudo de assunto. É raro encontrar alguém que me acompanhe nesse ritmo, embora, no fundo, eu prefira escutá-la. Teresa tem uma forma natural de tornar qualquer conversa interessante, e isso faz com que os momentos com ela sejam sempre agradáveis. Ao chegarmos ao Freeport, seguimos diretamente para o Starbucks. Para meu filho, era a primeira vez nesse café tão conhecido. Ele e o filho da Teresa, cúmplices na empolgação, decidem pedir bolo de chocolate, uma escolha óbvia para dois meninos em busca de um doce perfeito. O meu pequeno, sempre com seu jeito peculiar de agir, opta por ir ter ao balcão sozinho, explorando o ambiente com olhos atentos. Inicialmente, decido que não vou comer nada. Mas, para minha surpresa, Teresa, num gesto atencioso, escolhe um bolo para mim. E acerta em cheio. O sabor é perfeito, e fico grata pelo cuidado ...

Um Dia de Verão na Praia da Rainha

 O sol de agosto brilhava no céu, refletindo-se nas águas frias da Praia da Rainha. O dia prometia aventuras e sorrisos, especialmente para os mais novos, que mal podiam conter a excitação. No carro, para tornar a viagem mais animada, decidimos fazer um jogo: dizer palavras conectadas por uma determinada letra. Claro que era um pouco injusto para os mais novos, mas mesmo assim jogamos. Entre risos e protestos, cada um tentava encontrar a palavra certa antes que o tempo acabasse. Ao chegarmos, a impaciência deu lugar à euforia. Eu, meu marido e nosso filho nunca fomos do tipo que se contenta em ficar na toalha. O mar nos chama, os mistérios das criaturas marinhas nos fascinam. Cada onda que toca a areia é um convite à exploração. Já a professora e seu filho têm um ritmo diferente. O frio da água os mantém afastados das profundezas do oceano, e o sol, embora convidativo, não é um aliado da professora. Mas isso não impediu que o dia fosse especial. Meu filho, ansioso pela praia, encon...

Entre Risos e Desafios: Um Dia na Praia Fluvial com a Professora

 É uma tarde quente de verão, e, durante uma das nossas longas conversas telefónicas, comento com a senhora professora que vou até à praia fluvial com meu filho para andar de canoa. Ela, com um sorriso tímido, mostra vontade de nos acompanhar. Fico feliz com isso, pois sei que será uma oportunidade de passar um tempo agradável juntos. Imagino como será divertido aproveitar o dia em boa companhia. Quando chegamos ao local, uma sensação estranha toma conta de mim. Antes de chegarmos, já ouvi algumas críticas sobre a nossa amizade, palavras de pessoas que, sem saber, começam a questionar a nossa aproximação. Isso me incomoda, especialmente porque sei que essas falas podem afetar a professora. Ela é uma pessoa muito especial para mim, e eu realmente não quero que ela se envolva em problemas por nossa causa. Ao ver as pessoas ao redor, logo percebo que a situação pode complicar-se. Tento manter a calma, mas as palavras dessas pessoas continuam martelando na minha mente. Então, resolvo a...

Quando Sentir, Ligue.

 Ligue-me quando quiser. Não, corrijo-me: ligue-me quando sentir. Não há gesto mais poderoso do que aquele que nasce do coração, de um desejo genuíno e descomplicado. Ligue-me quando o som da minha voz puder trazer-lhe conforto ou leveza, quando sentir necessidade de quebrar o silêncio que, por vezes, nos afasta não por escolha, mas por circunstância. Mas não me ligue por obrigação. Nunca o faça para satisfazer uma expectativa que acredita que deposito sobre si, porque isso seria apagar a essência do que é puro e verdadeiro entre nós, o respeito mútuo e a confiança. Há em mim esta predisposição inquieta para sentir as pessoas profundamente, para lhes ler nos gestos e nos silêncios os significados que nem sempre se atrevem a verbalizar. E com você não é diferente. Há momentos em que me perco na ideia de si. Imagino os seus dias, os seus pensamentos, as alegrias e as angústias que moldam as horas. Pergunto-me se pensa em ligar-me quando algo a inquieta, ou se resiste, com receio de p...

Uma Professora Excepcional, Ser Humano Incrível, Esposa, Mãe e Amiga

Quando pensamos em uma professora primária que personifica as qualidades mais admiráveis de uma educadora, um nome brilha em nossas mentes: Teresa, um nome que não diz nada a quem não conhece. Ao longo dos anos, Teresa cativou inúmeros corações com seu comprometimento inabalável, dedicação inigualável e carinho infinito por seus alunos. Teresa até agora tem demonstrado que é uma verdadeira mestra, e suas qualidades pedagógicas são verdadeiramente notáveis. Ela possui uma habilidade rara de envolver seus alunos em um mundo de aprendizagem, onde cada criança se sente valorizada e encorajada a explorar seu potencial máximo. Com paciência e compreensão, Teresa adapta suas abordagens de ensino para atender às necessidades individuais de cada aluno, tenta garantir que ninguém seja deixado para trás. Além de sua competência acadêmica, o coração de ouro de Teresa brilha em todas as interações que ela tem com seus alunos e mesmo com os encarregados de educação. Ela se importa genuinamente com o...

O sorriso verdadeiro.

 Ela tem uma presença que se impõe sem esforço, não pela altura ou pela voz, mas pela forma como se expressa, como se conecta com quem está ao seu redor. De estatura mediana, cabelos castanhos que caem suavemente pelos ombros, seu rosto é daqueles que dizem mais do que as palavras. Sua fisionomia é expressiva, e quem a conhece sabe que há uma diferença subtil, mas marcante, entre seus sorrisos. Há os sorrisos que oferece por simpatia, gentis, educados, mas que não chegam aos olhos. E há os outros, os raros, aqueles que vêm de dentro, que fazem seus olhos brilharem e formam pequenas covas nas bochechas. Esses são os verdadeiros, os que transbordam felicidade genuína. Mas hoje, esse sorriso não apareceu. Ela está triste. Não daquela tristeza passageira, que se dissipa com um comentário leve ou uma piada. É algo mais profundo, um desânimo por não conseguir realizar o que idealizou, talvez problemas na sua vida privada. Para alguém como ela, que sonha e se entrega, sentir-se limitada, ...

Teresa : L’Attesa di un Grazie Immenso

Nel silenzio dell'aula e nel fragore del mondo, c'è una luce che brilla, un faro profondo. Non è solo sapere, né mera istruzione, ma un'arte sottile, pura dedizione. La sua voce è un'eco che insegna e consola, parole precise, saggezza che invola. Ogni sillaba un ponte, ogni frase un sentiero, che guida, che plasma, che apre un pensiero. Ha lo sguardo attento di chi sa ascoltare, senza fretta, senza orpelli da ostentare. Perché il cuore che insegna non impone, non grida, ma semina sogni, dà forma alla vita. E quando il giorno si chiude stanco e affranto, quando il dubbio la sfiora con il suo canto, lei non vacilla, né cede al tormento, trova la forza nel suo stesso talento. Il talento di chi non cerca clamore, di chi nutre il sapere con dolce fervore, di chi soffre in silenzio, senza mostrarlo, ma dentro di sé continua a sperarlo. Sperare che il mondo possa capire, che il dono più alto è saper istruire, che il sapere è un fuoco che accende e riscalda, che cresce, che ill...

Professora, O Abraço Que Fica

 Os pais nem sempre vêem. Talvez, para eles, o aprender resuma-se a notas, a fichas completas, a trabalhos entregues. Talvez não percebam o que está por trás, o esforço invisível, a paciência que não tem fim, a dedicação que não cabe em horários nem em relatórios. Mas há quem veja. Há quem sinta. Os seus meninos e meninas sabem. Sabem que a sua voz os acalma quando o medo aperta, que o seu olhar firme os guia quando hesitam, que o seu sorriso é um porto seguro quando o mundo lhes parece grande demais. Percebem no jeito como diz os seus nomes, na forma como nunca desiste deles, na segurança de saberem que ali, na sua sala, são importantes. São mais do que alunos – são pequenos seres humanos a crescer, e você está lá, a ajudá-los a encontrar-se. Você não ensina apenas letras e números. Ensina-os a tentarem outra vez quando falham. Ensina-os a respeitarem-se uns aos outros. Ensina-os a acreditarem em si próprios. E isso, professora, não se apaga. Isso não é um trabalho, é um dom. Pode...

Amitié Improbable

 On dit que nous sommes un duo étrange, si différents, si singuliers, mais l’amitié n’a pas de règles, elle surgit sans prévenir, sans crier. Toi, avec ton humour mordant, ton esprit vif, ton regard affûté, mais quand il s’agit de toi-même, tu hésites, tu restes figée. Perfectionniste jusqu’à l’excès, tu ne pardonnes aucun faux pas, mais si tu voyais ce que je vois en toi, tu ferais de l’échec un simple pas. Tu as des talents que tu ignores, une lumière que tu retiens, comme si un frein invisible t’empêchait d’avancer sereinement. Tu es drôle, brillante, une force prête à s’envoler, mais tu te traites avec dureté, comme si tu ne pouvais pas te tromper. Si tu étais mon élève, je te donnerais la meilleure note sans hésiter, mais tu es cette professeure sévère qui s’exige trop, sans se ménager. Amitié improbable ? Peut-être. Mais tant mieux, après tout, car pendant que tu doutes de toi, moi, je serai là pour te rappeler tout.

A Beleza de Ser Quem É

 A terapia em grupo é, de fato, um espaço mágico, onde as palavras se tornam pontes e o silêncio, uma oportunidade de escuta. É um encontro de almas, cada uma com seus dilemas, fraquezas e forças, numa partilha que desarma o isolamento e dá forma à cura. A dinâmica de ouvir e falar, por mais simples que pareça, é profundamente transformadora. Ouvir é um exercício de empatia, um mergulho nas histórias alheias que nos faz enxergar a nossa própria com um olhar mais amplo, mais gentil. Falar, por sua vez, é um ato de coragem, uma libertação. A troca nos resgata, fazendo-nos perceber que a dor é universal, mas também o é a capacidade de superação. Hoje foi-me proposto escrever sobre alguém que admiro profundamente. Sem recorrer ao refúgio imediato da família — mãe, pai, marido ou filhos —, fui chamada a ir além do conforto dos laços de sangue e buscar admiração em outras paragens da minha convivência. Percebi a riqueza desse convite: admirar é reconhecer virtudes que nos inspiram e, ao ...

O Olhar Que Me Recorda

 Há olhares que nos atravessam a alma, que nos prendem a memórias e sentimentos que julgávamos guardados no tempo. Olhares que não pertencem apenas ao presente, mas que carregam ecos do passado, trazendo de volta rostos, gestos e histórias que nos marcaram. Os olhos da professora do meu filho têm essa profundidade rara, essa intensidade que me faz lembrar os olhos da minha mãe. Há algo neles que me desarma, que me faz sentir como se já a conhecesse há muito tempo, como se, de alguma forma inexplicável, um pedaço do olhar da minha mãe vivesse ali. Talvez seja a mesma melancolia silenciosa, a mesma força disfarçada de teimosia, a mesma luta interior entre aquilo que se sente e aquilo que se mostra ao mundo. A minha mãe sempre pareceu tranquila, feliz, bem resolvida. Mas eu sabia que por trás desse semblante sereno, havia tempestades que ela enfrentava sozinha. Guardava as suas dores dentro de si, falando pouco, como se o que revelasse fosse apenas a ponta de um iceberg imenso e invis...

Ousadia Incompreendida

 Enquanto segurava o telemóvel junto ao ouvido, escutava do outro lado uma voz que, apesar de firme, carregava um peso que não devia estar ali. "Já pedi desculpa por ter feito os pais perderem tempo." Essas palavras ressoaram dentro de mim de um modo que me incomodou profundamente, como um eco que insistia em repetir-se, cada vez mais intenso, cada vez mais injusto. Como é que alguém podia dizer tal coisa? Como é que a fizeram sentir que devia desculpar-se por algo que, na verdade, deveria ter sido celebrado? A minha mente começou a correr por entre pensamentos que se atropelavam, sentimentos que se misturavam, uma inquietação crescente que não me permitia aceitar aquela frase sem mais nem menos. Não existia culpa a ser carregada, não havia erro cometido, apenas uma tentativa genuína de proporcionar uma experiência diferente, de abrir portas para algo novo, algo maior. E, no entanto, ali estava ela, a pedir desculpa. Como se o simples facto de ter ousado fazer diferente fosse...